Quantcast
Sustentabilidade

É ‘verde’ a energia que move o retalho

Imagem  e

A sustentabilidade já chegou às prateleiras do retalho nacional, mas há mais além do que está à vista do consumidor. Com milhões de euros a serem investidos no ponto de venda e nas plataformas logísticas para garantir a redução da fatura energética, o setor está a apostar na utilização de energia de fontes renováveis, em matérias-primas sustentáveis, em sistemas de aquecimento e refrigeração eficientes, em serviços de entrega 100% elétricos e programas de iluminação inteligentes. Nesta edição fomos saber como investe o retalho para garantir uma operação ‘verde’.

A escassez de recursos fósseis e o aumento gradual dos problemas ambientais têm levado os líderes mundiais a empenharem-se na implementação de medidas que garantam maior sustentabilidade energética. O setor do retalho não é indiferente ao ‘sufoco’ do planeta e é dos que mais investe anualmente na redução da pegada ecológica através da implementação de estratégias de eficiência energética e redução de emissões de CO2.

 

Exemplo disso é a sueca IKEA que em 2019 anunciou que reduziu, pela primeira vez, as suas emissões de carbono, uma diminuição que terá sido impulsionada pelo uso de energia renovável na produção de produtos, além dos aumentos significativos na eficiência energética da linha de iluminação e eletrodomésticos.

De acordo com o relatório lançado pela empresa, desde o processo de produção de matérias-primas e produtos, até ao uso e eliminação das mercadorias dos clientes, as emissões diminuíram 4,3% até ao final de agosto de 2019, o que representa uma descida para os 24,9 milhões de toneladas equivalentes de CO2.

 

Mas apesar dos esforços da empresa sueca estarem só agora a dar os primeiros frutos, há vários anos que se conhecem os investimentos da IKEA em matéria de sustentabilidade. Há cerca de sete anos, a empresa anunciava a conclusão do projeto de renovação energética das lojas de Alfragide e Matosinhos, em Portugal, com a instalação de 191 tubos solares, investimento que chegou aos 230 mil euros.

 

Com esta instalação, o retalhista pretendia gerar uma poupança anual de 18 200 euros na fatura elétrica de ambos os espaços, além de diminuir em 80 toneladas por ano a emissão de CO2 para a atmosfera em energia primária (100.000 kWh/ano e menos 47 toneladas de CO2 no caso da IKEA Matosinhos e 70.000 kWh/ano e menos 33 toneladas de CO2 na IKEA Alfragide).

Em 2020, em declarações à DISTRIBUIÇÃO HOJE, Ana Barbosa, Responsável de Sustentabilidade da IKEA Portugal, conta que “nestes últimos sete anos muito mudou”. A empresa diz-se hoje comprometida “com uma estratégia de mudança positiva do planeta, com o objetivo de combater não só a crise climática, mas também de inspirar a maioria das pessoas a adotar hábitos de vida mais sustentáveis.”

 

“Trabalhamos diariamente para sermos uma empresa com um impacto positivo no planeta e, um exemplo disso, é o facto de a IKEA Portugal já ser, em termos absolutos, energeticamente autossuficiente – atualmente, cerca de 20% da energia elétrica consumida nos edifícios provém dos painéis fotovoltaicos instalados nas coberturas das lojas de Alfragide, Loulé, Loures e Matosinhos. Complementarmente, através do Parque Eólico do Pisco, é produzida energia equivalente às necessidades energéticas de cerca de 30 lojas. Este trabalho é complementado com um constante esforço de redução e otimização do consumo energético, seja para iluminação, seja para aquecimento e arrefecimento dos edifícios. Para além dos solar tubes referidos, temos novos sistemas de ar condicionado mais eficientes. Na nossa loja de Loures, por exemplo, utilizamos um circuito de água da ETAR de Frielas no nosso sistema de aquecimento e refrigeração, o que torna este sistema mais eficiente”, explica Ana Barbosa.

Os painéis fotovoltaicos, conta, “permitem uma redução de 20% na utilização de energia da rede pública”. Já as restantes iniciativas relacionadas com eficiência energética, em conjunto, já permitiram obter, desde 2010, uma redução total da pegada ecológica de “cerca de 25%”, garante a Responsável de Sustentabilidade da IKEA Portugal.

Uma dessas iniciativas é a utilização de programas energéticos inteligentes para a otimização do consumo de eletricidade nas instalações da IKEA. De acordo com Ana Barbosa, estes programas “permitem minimizar o consumo de eletricidade em função do espaço, da hora, da sua ocupação e das atividades que estão em curso, bem como o controlo da temperatura. Por exemplo, a necessidade de iluminação comercial para que os clientes vejam os produtos com nitidez e inspiração é muito superior ao momento em que a loja, sem clientes, está focada na reposição ou limpeza. Além disso, em 2015 iniciámos a nossa transição para LED, hoje 100% concretizada, ou seja, só utilizamos este tipo de tecnologia nos nossos espaços, o que nos permite poupar cerca 85% de eletricidade em comparação com a luz incandescente utilizada normalmente.”

Outra das ambições da empresa é conseguir maior eficiência energética e menor pegada ecológica na mobilidade. Assim, até 2025, o retalhista sueco pretende “implementar serviços de entregas e montagem para o consumidor 100% elétricos, isto é, sem emissão de gases poluentes para o meio ambiente”, explica a Responsável de Sustentabilidade da cadeia em Portugal.

Esta missão estende-se ainda aos parceiros e fornecedores da IKEA, que também devem garantir a sustentabilidade e uma utilização eficiente dos recursos. “Na IKEA criámos um código de conduta (IWAY) que guia a relação com fornecedores externos e que tem critérios sociais, ambientais e de segurança muito exigentes, todos eles baseados em documentos internacionais. Para a IKEA é fundamental e obrigatório que este código de conduta seja cumprido por todas os parceiros da nossa cadeia de valor, incluindo fornecedores de serviços às lojas, centros de distribuição e gestão das instalações, assim como fornecedores de alimentos, transportes, móveis e objetos de decoração para casa e componentes”, revela ainda Ana Barbosa.

Ajudar os consumidores na transição

Recentemente, a IKEA anunciou ainda que pretende ser uma empresa positiva para o clima até 2030, propondo reduzir as emissões de gases com efeito de estufa ainda mais do que as que emite atualmente, o que se deverá traduzir numa redução de pelo menos 15%, o equivalente a cerca de 21 milhões de toneladas de CO2.

E assumindo que a sustentabilidade do planeta só é possível se o consumidor for igualmente responsabilizado por esta missão, a IKEA pretende “inspirar e permitir que mais de mil milhões de pessoas tenham uma vida melhor, dentro dos limites do planeta”, uma ambição que se reflete na estratégia de sustentabilidade da empresa que estabelece três grandes metas até 2030: inspirar e dar soluções para que as pessoas, nas suas casas, possam ter comportamentos mais sustentáveis; transformar o modelo de negócio em circular, com um impacto positivo no ambiente; e promover e contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária.

A redução da pegada carbónica absoluta da IKEA em cerca de 4,3% anunciada em 2019 prova, segundo o retalhista, que “é possível dissociar o crescimento do negócio de impactos negativos no clima e fortalece a nossa ambição de chegarmos a um impacto positivo em 2030.”

Também por isso, a empresa pretende agora reforçar os seus esforços em matéria de economia circular, desde o desenvolvimento de produtos, utilizando princípios de design circular, aos materiais que utiliza na cadeia de logística e distribuição e até nos pontos de contacto com os clientes. Outro dos objetivos é encontrar formas de continuar a trabalhar com plástico, garantindo ao mesmo tempo o menor impacto possível no ambiente.

Ana Barbosa explica que “no que diz respeito ao plástico, sabemos que é fundamental encontrarmos novas e inovadoras formas de trabalhar com materiais renováveis e reciclados, bem como alternativas para prolongar a vida útil de produtos e materiais. Para a IKEA o plástico é um material muito importante e que está presente em diferentes áreas da nossa gama por ser forte, durável, leve, acessível e versátil. É por isso que assumimos o compromisso de, até 2030, termos todos os nossos produtos de plásticos feitos com matérias-primas recicladas ou renováveis. Atualmente, já mais de um terço dos nossos produtos de plásticos cumprem este objetivo, mantendo-se a nossa ambição de que em 2030 estejamos a 100%. Implementámos, ainda, outro compromisso ambiental relacionado com o plástico, neste caso a 1 de janeiro deste ano – a eliminação de todos os produtos de plástico de utilização única da nossa gama. Atualmente, já não temos palhinhas, sacos de congelação, copos e talheres descartáveis. Os materiais plásticos descartáveis disponíveis nos nossos restaurantes, bistrots e cafés foram também substituídos por alternativas descartáveis mais sustentáveis.”

E depois, acredita a Responsável de Sustentabilidade da IKEA Portugal, resta “inspirar” os clientes da cadeia para que também eles façam a sua parte. “Queremos ser uma inspiração para as pessoas e dar-lhes as ferramentas necessárias para uma vida mais sustentável, respeitando os limites do planeta e os recursos naturais. Sabemos que uma grande parte dos nossos clientes estão conscientes da importância de alterar comportamentos, mas não sabem como podem fazê-lo. E o nosso papel passa também por aí: por apresentar soluções que permitam, de uma forma acessível, fazer pequenas mudanças em casa, mas com um grande impacto no planeta”, conclui.

A transformação da indústria da moda

Na C&A, a meta é criar “um novo normal onde a sustentabilidade é apenas outra palavra para o normal” e evoluir para uma empresa em que a moda possa ter um impacto positivo no planeta, quer no âmbito ambiental como no âmbito social.

Em 2017, com o objetivo de promover uma ‘economia circular’, a marca apresentou uma t-shirt 100% biológica que pode ser transformada em compostagem, na casa de qualquer consumidor, depois de ser utilizada. Uma t-shirt com certificação Cradle to Cradle (certificação de segurança e saúde ambiental e de produção sustentável atribuída pelo Cradle to Cradle Product Innovation Institute) produzida com materiais seguros e de uma forma socialmente e ambientalmente responsável.

Já em junho deste ano, a marca de moda assumiu o compromisso de reduzir em 30% a emissão dos gases com efeito de estufa até 2030, tanto na sua cadeia de produção como em fábricas e lojas.

Aleix Gonzalez Busquets, Head of Sustainability da C&A, explica em declarações à DISTRIBUIÇÃO HOJE que realiza frequentemente análises à cadeia de valor da empresa para identificar onde é possível reduzir as emissões de CO2.  A eficiência energética, em particular, tem sido alvo de vários investimentos na C&A.

“A eficiência energética é de grande importância para nós. Entre outras coisas estamos concentrados em sistemas de aquecimento mais eficientes e ecológicos para as nossas lojas, em iluminação eficiente – como a tecnologia LED – e sistemas HVAC inteligentes e eficientes. O nosso objetivo é melhorar a eficiência para que toda a eletricidade utilizada seja proveniente de fontes renováveis, com o objetivo de garantir que até 2025 toda a energia seja 100% renovável. Este é um objetivo que a empresa procura estabelecer em todos os mercados da Europa e que começou a ser implementado em Portugal há mais de dois anos, com a abertura das lojas de Telheiras e Loulé e com a renovação das lojas em Gondomar, Viseu, Gaia e Colombo”, afirma Aleix Gonzalez Busquets.

Para atingir este objetivo, o Head of Sustainability da C&A refere que a empresa controla de forma continuada a necessidade e a utilização de energia e as suas emissões de gases com efeito de estufa.

“Comprometemo-nos, enquanto empresa, com a iniciativa ‘Science Based Targets’ que visa alcançar uma redução de 30% nas nossas emissões de gases com efeito de estufa até 2030. Isso inclui uma redução de 30% nas nossas atividades operacionais – lojas e armazéns-, assim como uma redução de 30% em toda a cadeia de valor. Com isso, queremos contribuir para um futuro favorável ao clima. Em Espanha e Portugal, temos vindo a preparar e implementar um projeto para que as lojas se tornem neutras em termos de emissões de carbono, cumprindo os princípios da ecoeficiência que defendemos”, acrescenta.

Segundo Aleix Gonzalez Busquets, em 2018 a C&A reduziu a intensidade de carbono das operações de retalho em 16% face ao ano de 2012. Essas reduções foram resultado de melhorias na gestão e práticas de energia nas lojas da marca nos quatro mercados onde está presente.

Agora, o desafio é reduzir as emissões na cadeia de abastecimento onde, segundo a C&A, se geram cerca de 96% das emissões. De acordo com Aleix Gonzalez Busquets, para enfrentar este desafio, a empresa tem várias medidas em curso.

“[Vamos continuar a] promover uma grande proporção de matérias-primas mais sustentáveis, como algodão biológico certificado, onde somos reconhecidos como líderes há muitos anos em termos de volumes absolutos e participação. Todos os anos, a compra da C&A de algodão biológico certificado equivale à remoção da poluição de 70.000. Vamos continuar a apoiar o módulo HIGG FEM, aumentando as taxas de adoção do mesmo na nossa cadeia de fornecimento de forma a melhorar o seu desempenho. Atualmente, a C&A possui uma das mais altas taxas de adoção do módulo, com mais de 400 instalações, onde mais de 50% foram verificados. Vamos impulsionar a inovação como o principal aliado da Fashion for Good, onde as tecnologias circulares e sustentáveis das startups são ativamente testadas na cadeia de fornecimento e vamos veicular mais inovações no design de produtos circulares, como as gangas Cradle to Cradle GOLD Certified™ e a coleção de t-shirts de algodão em que se estima que as reduções de emissões de GEE sejam de até 85%”, conclui o Head of Sustainability da C&A.

Milhões para melhoria da eficiência energética das lojas

O retalho alimentar, em particular, também tem vindo a adotar várias medidas para, por um lado, reduzir a fatura energética e, por outro, diminuir o impacto das operações nas emissões de gases com efeito de estufa. No início de 2019, o Banco Europeu de Investimento (BEI) acordou, inclusive, um empréstimo à Sonae MC, no âmbito do Plano Juncker, que apoia o desenvolvimento dos supermercados mais economizadores de energia em Portugal.

Este financiamento destina-se a melhorar a eficácia energética da cadeia de supermercados e hipermercados nacional e permitirá reduzir o consumo de eletricidade em 10% em 300 supermercados da Sonae MC graças à instalação de sistemas de gestão energética.

Em declarações à DISTRIBUIÇÃO HOJE, a Sonae MC explica que “o empréstimo acordado com o BEI destina-se a financiar um conjunto de investimentos no montante de 110 milhões de euros, a realizar entre 2018 e 2022, especificamente identificados entres as duas instituições.”

Estes investimentos estão a ser efetuados na remodelação e otimização dos sistemas de refrigeração e AVAC das lojas; na instalação de iluminação LED; na instalação de sistemas de controlo, monitorização e gestão dos consumos de energia e de água; na instalação de centrais fotovoltaicas para produção de energia elétrica para autoconsumo; na instalação de postos de carregamento para viaturas elétricas; e na instalação de sistemas de gestão de resíduos alimentares.

De acordo com a Sonae MC, no final do projeto serão expetáveis “a redução global de 45 GWh e 160.000m3 no consumo de energia elétrica e água, respetivamente, e a produção de 32 GWh de energia elétrica para autoconsumo a partir das centrais fotovoltaicas.” Já em termos de termos de emissões de CO2, a Sonae MC prevê uma redução global superior a 40 000 toneladas. Este plano, em curso desde 2018, envolverá, até ao final do projeto, intervenções na totalidade do parque de lojas da Sonae MC, nomeadamente novas aberturas, com a empresa a indicar que “até finais de 2019 foram intervencionadas, neste âmbito, mais de 200 lojas.”

“O investimento da Sonae MC na eficiência energética como forma de garantir a sustentabilidade a longo prazo dos seus negócios é uma prioridade e vai além dos investimentos incluídos neste projeto específico, como por exemplo, o investimento na abertura de novas lojas, que cumprem os mais elevados padrões de eficiência energética. Já este ano, tal como comunicado ao mercado em 8 de abril, a Sonae MC concretizou um green loan no montante de 55 milhões de euros com o propósito específico de financiar investimentos desta natureza, o que demonstra a confiança das instituições bancárias na estratégia de sustentabilidade da Sonae MC”, conclui a empresa.

Abastecimento de lojas a partir de fontes 100% renováveis

Mas há mais bons exemplos no retalho alimentar. O Lidl Portugal também faz parte da lista de retalhistas que têm vindo a dar alguns passos no sentido de serem mais sustentáveis, reforçando a sua estratégia de combate às alterações climáticas. No início de 2020, a cadeia alemã anunciou a aquisição de fornecimento de energia verde para todos os seus edifícios em Portugal.

De acordo com a empresa, agora o fornecimento de energia de todos os seus edifícios – sede da empresa, quatro entrepostos e 256 lojas – é feito com recurso a fontes de energia 100% renováveis e verdes, o que resultou na obtenção do certificado de garantia de origem ‘Energia Verde – Classe A’, referente a 2019, atestado pela AENOR, entidade internacional com competências para a certificação de qualidade. O recurso a este tipo de energias renováveis garante que estas provêm de fontes 100% naturais e praticamente inesgotáveis, pela quantidade de energia nelas contida e pela sua capacidade de se regenerar naturalmente. No caso do Lidl, a mistura de fontes de energias renováveis que compõem a totalidade do seu consumo é representado maioritariamente pela energia eólica, com 77%, seguida da energia hídrica, com 14%, da biomassa, com 7%, e por outras fontes renováveis tais como energia solar, com 2%.

À DISTRIBUIÇÃO HOJE, Carina Fiche, diretora de Facility Management do Lidl Portugal, explica que “a sustentabilidade e, consequentemente, a eficiência energética, são preocupações transversais a todo o nosso modelo de negócio. Nos nossos edifícios, e em todos os nossos processos, procuramos identificar soluções que diminuam os consumos de recursos em toda a operação. Nesse âmbito, privilegiamos o investimento em equipamentos de tecnologia de ponta e, sempre que possível, em energias renováveis, o que nos permite fazer uma utilização mais eficiente.”

“No decorrer dos últimos anos, de 2015 a 2018, as diversas iniciativas implementadas permitiram-nos melhorar a nossa intensidade energética nas lojas de 288 para 263 KWh/m2. Em 2018, conseguimos evitar a emissão de 196 toneladas de CO2 em resultado da produção de energia fotovoltaica na nossa sede e lojas. Nesse mesmo ano a empresa obteve a certificação ISO 50001 reconhecendo a necessidade e importância da existência de um sistema de gestão de energia que permita definir, implementar e monitorizar medidas visando a redução do consumo energético. Em janeiro de 2020, dando continuidade a esta estratégia energética global anunciámos que, desde 2019, o fornecimento de energia de todos os edifícios era feito com recurso a fontes de energia 100% renováveis e verdes. Assim, com esta medida, em 2019 conseguimos evitar 65.222 toneladas de CO2”, acrescenta Carina Fiche.

A instalação de painéis fotovoltaicos, em particular, está desde cedo nos planos do Lidl. A sede da empresa conta com este equipamento desde 2016. Em 2017 juntaram-se a este equipamento mais três instalações, desta feita em lojas do retalhista, e em 2019 o Lidl definiu a meta de instalar sistemas fotovoltaicos em todas as novas lojas, bem como para o novo entreposto Lidl em Santo Tirso. Assim, com o processo de remodelação dos edifícios do Lidl em Portugal, tem sido levada a cabo a preparação de um número crescente de lojas para, no futuro, receberem estes painéis fotovoltaicos.

Além disso, o Lidl Portugal utiliza já um sistema de gestão técnica automatizado que permite reduções de consumos energéticos graças a medidas de automatismos temporais como, por exemplo, os horários de abertura e fecho do edifício, e mecanismos sensoriais que detetam presença e luminosidade, e implementa medidas de eficiência no transporte dos produtos com a otimização das rotas e da ocupação dos camiões, conseguindo, assim, percorrer menos quilómetros por cada palete de produtos.

Por outro lado, no passado mês de junho, o Lidl Portugal anunciou também um investimento de 1 milhão de euros na instalação de 38 postos de carregamento multi-standard e de carregamento rápido para carros elétricos nas suas lojas, incentivando, assim, os clientes a viajar com energia verde.

Até fevereiro de 2021, estes postos de carregamento deverão começar a surgir nas lojas do Lidl de Norte a Sul do País, uma medida que, de acordo com a cadeia, “alia uma preocupação com o planeta à conveniência, a uma melhor experiência de compra e à poupança de tempo.”

“No âmbito da iniciativa Lisboa Capital Verde 2020, Lisboa foi o local escolhido para o arranque desta rede que, numa segunda fase, seguirá para o Alentejo e Algarve, fazendo inclusive ligação com Espanha. O Norte e Centro do País serão também contemplados com 20 postos de carregamento. O atual propósito é o de reforçar o nosso empenho em continuar a trabalhar para um País e um planeta mais sustentável”, afirma a diretora de Facility Management do Lidl Portugal.

“No Lidl, a sustentabilidade é um tema estratégico e transversal ao nosso negócio. É um círculo virtuoso, com vantagens para as pessoas, para o ambiente e para o negócio. Permite-nos ter colaboradores mais satisfeitos, contribuir para o desenvolvimento das comunidades locais e diminuir o nosso impacto sobre o ambiente. Permite-nos ainda desenvolver uma cultura de inovação e proximidade na empresa, dado que exige a identificação de soluções criativas e ganhos de eficiência, o que contribui para potenciar a nossa missão de oferecer produtos de qualidade ao melhor preço, alinhando boas práticas ambientais e sociais na nossa cadeia de fornecimento”, conclui Carina Fiche.

Poupar com produção de energias renováveis

No Grupo Os Mosqueteiros o investimento em energia verde também avança. A empresa que detém os supermercados Intermarché está a investir na instalação de painéis solares para a produção de energia nas lojas e diz que, de um total de 250 lojas no País, 50 já consomem energia proveniente de painéis fotovoltaicos. Com esta estratégia, o grupo prevê obter poupanças de energia entre 30% a 40%.

Em declarações à DISTRIBUIÇÃO HOJE, o Grupo Os Mosqueteiros explica que “no início do ano estabelecemos metas muito importantes na questão da sustentabilidade, com medidas firmes, nomeadamente na eficiência energética para autoconsumo. Um dos grandes passos inclui a instalação de painéis fotovoltaicos na base logística de Alcanena e nos pontos de venda Intermarché. Esta iniciativa é especialmente interessante para os pontos de venda alimentares e abrange todas as necessidades em termos de eletricidade para móveis frios, ar condicionado e iluminação geral e iluminação específica, e que se traduz numa economia de 30% a 40%.”

Em termos práticos, o Grupo Os Mosqueteiros procura incentivar a implementação de medidas de economia da energia, através de um consultor de energia e de empresas referenciadas para esse diagnóstico, mas a aquisição dos equipamentos é sempre responsabilidade dos aderentes da cadeia. Contudo, atualmente, as diretrizes da empresa para novos aderentes indicam que qualquer nova loja deve abrir com equipamento fotovoltaico.

Atualmente, em cerca de 50 lojas da cadeia a energia já é proveniente de painéis fotovoltaicos, uma medida que, de acordo com o grupo, “permitiu-nos uma diminuição de 30% a 40% da fatura energética ao ano, um resultado bastante positivo para a poupança energética da insígnia. Paralelamente, no que toca à sustentabilidade, a utilização de recursos renováveis permitiu ainda uma redução de 60 a 70 toneladas em emissões equivalentes de CO2 por ano e resultados significativos para a diminuição da pegada ecológica do grupo.”

O desenvolvimento sustentável é um eixo estratégico para o grupo em Portugal. Exemplo disso é o investimento de aproximadamente um milhão de euros na colocação de painéis fotovoltaicos em toda a base logística de Alcanena, reduzindo os consumos energéticos em cerca de 1,35 milhões de Kw por ano. Com o mesmo objetivo, também ali foram modernizados vários sistemas com tecnologias de ponta em busca da eficiência energética – com um investimento de 1,2 milhões de euros -, nomeadamente em centrais a CO2 no frio negativo e amoníaco no frio positivo”, acrescenta ainda o Grupo Os Mosqueteiros.

Os sistemas de refrigeração, em particular, estão no centro de tudo o que tem a ver com eficiência energética numa cadeia de retalho alimentar, até porque estes equipamentos são responsáveis por cerca de 50 a 60% do total de consumo energético de uma loja, explica o Grupo Os Mosqueteiros.

Assim, “para este tema o grupo referencia empresas de consultadoria com o objetivo de avaliar e propor medidas de melhoria, tornando a instalação de frio mais eficiente nos pontos de venda. Com base nesta diretriz, muitas lojas têm vindo a fazer melhorias em pontos fulcrais da refrigeração como as portas dos expositores, a variação de velocidade nos compressores, a alteração para motores de alta eficiência e o uso de aspiração e condensação flutuante (…) Para uma marca que luta por preços baixos, o controlo de custos está no centro do negócio. A energia representa um custo importante para um ponto de venda”, conclui a empresa.

Utilização de energia ‘verde’ estende-se à produção

Mas não é apenas no setor do retalho que os holofotes estão voltados para a sustentabilidade. A indústria alimentar também está a investir na redução da fatura energética e da pegada ecológica.

O Grupo Bel Portugal, que detém marcas como Terra Nostra, A Vaca que Ri e Limiano, e que em 2015 anunciou um investimento de cerca de sete milhões de euros no programa ‘Leite de Vacas Felizes’, uma iniciativa para fazer com que o leite dos Açores seja reconhecido como “o melhor do mundo” e que pede aos produtores que colaboram com a empresa que cumpram um conjunto de requisitos para atingir um leite sustentável, está empenhado em garantir a sustentabilidade em todos os pontos da sua operação.

Com a assinatura “For all, for good”, a Bel juntou-se à WWF França na criação de uma carta global para construir uma indústria de laticínios sustentável, que respeite os seres humanos, os animais e o planeta e, por isso, está a transformar todo o seu modelo de negócio, desde as embalagens, que em 2025 deverão ser todas recicláveis ou biodegradáveis, até à energia que usa, que é cada vez mais ecológica.

Tiago Serrano, diretor da fábrica da Bel na Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, assume em declarações à DISTRIBUIÇÃO HOJE que “a redução do consumo energético durante a nossa atividade é um tema prioritário. Nos últimos anos temos tido reduções significativas nos rácios de energia, fruto quer de melhorias de processo, quer de investimento específico para a área ambiental. Aliás, anualmente existe sempre uma verba de investimento dedicada a este tema.”

“Faz parte do plano estratégico da fábrica da Ribeira Grande atingirmos a neutralidade de emissões de carbono até 2025. Para cumprirmos com este objetivo fizemos investimento num parque de produção de energia por meios fotovoltaicos, que representa atualmente aproximadamente 2% do consumo total da fábrica. Em paralelo com este investimento, estamos em negociação com o fornecedor de energia na região para garantirmos um certificado verde para 100% da energia elétrica comprada pela nossa unidade fabril (…) Temos investido progressivamente num parque fotovoltaico. Este investimento ocorre quer a nível da unidade fabril, quer a nível dos postos de recolha de leite. Importa também referir que a nível da energia elétrica, a produção da mesma na ilha é principalmente de fonte renováveis, como por exemplo fontes geotérmicas. Para além da energia elétrica, estamos a estudar a instalação de uma caldeira de biomassa que poderá produzir até 90% das necessidades de vapor da produção”, explica Tiago Serrano.

Tiago Serrano vai mais longe e explica que os esforços que têm vindo a ser feitos pela empresa permitiram que, nos últimos quatro anos, a Bel Portugal tenha obtido na fábrica da Ribeira Grande uma redução de 15% no consumo de energia elétrica por tonelada de queijo produzido e 14% de redução da energia térmica por tonelada de queijo produzido.

Já João Lourenço, diretor da fábrica de Vale de Cambra, na região Norte de Portugal continental, revela que nesta unidade fabril da empresa “100% da energia elétrica utilizada é já produzida através de fontes renováveis”.

“Em termos de energia elétrica, é já usada a partir de fontes renováveis. Em termos de energia térmica (vapor), evoluímos há mais de dez anos para gás natural em detrimento de nafta e estamos neste momento a estudar as alternativas para biomassa”, acrescenta João Lourenço.

Na fábrica de Vale de Cambra, o esforço tem sido em reduzir os rácios de consumo através da eliminação de perdas, otimização de equipamentos mais eficientes e de melhores tecnologias, como LED, variadores e motores, implementação de painéis solares, monitorização e controlo mais eficiente e deslastramento de grandes consumos. “Essas reduções têm vindo a proporcionar decréscimos, desde 2015, na ordem de 14% na eletricidade, 5% no gás natural e 20% na água”, conclui João Lourenço.

Ser “100% renovável até 2025”

O Grupo Bimbo também tem ambições em matéria de eficiência energética e em 2018 anunciou que pretende utilizar energia elétrica 100% renovável a nível global até 2025. A empresa tornou-se ainda na primeira companhia do México e da América Latina a aderir à RE100, uma iniciativa global em que as empresas se comprometem a utilizar energia elétrica proveniente de fontes renováveis.

Em declarações à DISTRIBUIÇÃO HOJE, Javier Cabeza, vice-presidente de Operações na Bimbo EAA (Europa, Asia e África), revela que dois anos após o anúncio desta meta, “o Grupo Bimbo utiliza 80% de energia elétrica renovável a nível global.”

“No Grupo Bimbo contamos com uma equipa dedicada às energias renováveis preocupada em encontrar a melhor solução para cada um dos países onde estamos presentes. Em alguns casos assinámos contratos a largo prazo para o fornecimento de energia, o qual permite que este investimento seja realmente operacional. Noutros casos, investimos em sistemas de geração de energia através de painéis solares, os quais devem cumprir com o mesmo retorno que qualquer outro projeto de investimento do Grupo Bimbo. Atualmente temos mais de 75.000 painéis instalados em 70 telhados em todo o mundo, incluindo no maior telhado do México e o maior telhado da América do Sul, no Chile”, conclui.

Em 2019, o Grupo Bimbo anunciou uma diminuição de mais de 100 mil toneladas de CO2 nas suas operações globais fruto das medidas que tem vindo a implementar para reduzir a pegada ecológica. Esta redução equivale a mais de 5 milhões de árvores plantadas, ao consumo de energia elétrica de mais de 130 mil lares médios num ano, mais de 120 mil barris de petróleo ou 179 milhões de quilómetros não percorridos.

Entre as principais iniciativas da companhia em matéria de energias renováveis está a incorporação de uma frota sustentável: 106 veículos que utilizam etanol, 430 veículos elétricos, 620 com gás propano e mais de 1000 veículos que CO2.

Com estas medidas, em 2020, a empresa espera obter uma redução anual de 460 mil toneladas de CO2 e assim estar mais perto de atingir o compromisso de utilizar, em 2025, 100% de energia elétrica de fontes renováveis em todas as suas operações.

Não perca informação: Subscreva as nossas Newsletters

Subscrever