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Editorial

Um português, um francês e o Chat GPT vão a um bar…

Um português, um francês e o Chat GPT vão a um bar…

… O português pede uma imperial, o francês pede um conhaque e o Chat GPT não pede nada porque é “uma inteligência artificial, não sendo capaz de fazer escolhas”. O parágrafo anterior pode ter muitas semelhanças com o início de uma boa anedota que todos já ouvimos em algum momento da nossa vida, mas serve, neste texto, para ilustrar como a tecnologia está a entrar no nosso dia a dia e a transformá-lo de forma crescente e crescentemente impactante.
Na verdade, o Chat GPT é apenas a primeira face mais mediatizada de uma revolução que há vários anos tem vindo a ser desenvolvida. Como produto de massas que se tornou em apenas poucos dias depois de ter sido libertada do seu cativeiro de criação, muitos são os artigos escritos em torno das suas potencialidades – e falhas –, mas a verdade é que, de forma mais ou menos global, todos assumem ao dia de hoje que é e será uma ferramenta com impactos imprevistos nos nossos futuros dias.
Utilizarei, por isso, o exemplo para ilustrar a importância da nossa humanidade. Embora seja útil como ferramenta, esta inteligência artificial é incapaz de reproduzir (ainda) muito do que são as sensações que nos levam a estar juntos. A empatia não é o seu forte e a rigidez matemática como, por ser sua natureza, responde a questões que lhe são propostas, mostra que o futuro nos reserva a nós um papel mais sensível, mais amplo do que apenas responder a questões de terceiros ou ser mero elemento decorativo naquilo que é a nossa experiência de interação.
No que diz diretamente respeito ao retalho, se as “máquinas” como o Chat GPT têm o potencial de nos libertar de tarefas mais ou menos complexas, mas rotineiras, apenas sendo humanos, na sua plenitude, conseguiremos assegurar experiências verdadeiramente dignas de serem partilhadas. Ser humano é muita coisa, mas a capacidade de nos relacionarmos, sentirmos o outro ou as situações que enfrentamos é uma característica que, certamente, será praticamente impossível de replicar.
Desde um atendimento personalizado com uma opinião que vá para lá dos logaritmos de medidas ideais, ao conforto de um olhar aprovador ou da sensação de pele humana contra outra pele humana, parecem ser algumas das ainda muitas componentes impossíveis para já de serem reproduzidas por estes “novos seres”.
A este propósito, relembro-me, já há distância de vários anos, de um trabalho que ainda durante o ensino secundário elaborei para a disciplina de filosofia. A questão da IA já na altura era “do dia” na minha agenda, perguntando-me eu sobre quais os limites das máquinas, mesmo que alicerçadas em inteligência desenvolvida autonomamente por elas após um impulso de criação. A questão que me sobejou no final do meu trabalho foi sobre a capacidade de uma criação “ultrapassar” o seu criador, ou seja, poder ampliar-se para lá da sua “base” e das suas regras iniciais.
Por norma, na altura, diria que a resposta seria tendencialmente positiva, uma vez que também nós muitas vezes conseguimos ultrapassar a nossa “programação-base”, pelo que talvez seja prudente começarmos a pensar no futuro do retalho (e do “trabalho”) numa saudável convivência de espaço e importância com estas novas inteligências.
Por agora, despeço-me como comecei, citando a IA que está nas bocas do mundo: “Se você tiver alguma dúvida ou precisar de ajuda, por favor, não hesite em perguntar”.

 

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