No palco da segunda edição do Innovators Forum, promovido pela Sonae, o debate girou à volta de um tema cada vez mais proeminente: a circularidade. O evento, que pretende inspirar, promover a inovação e gerar impacto positivo, decorreu esta quarta-feira, dia 27 de novembro, no Pátio da Galé, em Lisboa.
Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, deu as boas-vindas e começou por alertar ser “óbvio que o modelo linear não pode funcionar”, reforçando que a lógica tradicional de extração, usar e descartar não é sustentável, tendo em conta a velocidade atual e crescente de exploração dos recursos naturais.
A responsável alertou ainda para o facto de, nos últimos seis anos, terem-se extraído mais materiais do que em todo o século anterior, lembrando que, para se acompanhar este ritmo, “é preciso mais”.
Para a retalhista, a economia circular é mais do que uma resposta à urgência climática, é uma estratégia de negócio, tendo a CEO ressalvado que se trata de “um pilar estratégico para a Sonae, faz parte da nossa história”, explicando como a sustentabilidade é revista com frequência para garantir um real impacto em áreas determinantes.
Cláudia Azevedo acrescentou ainda que a transformação para um modelo circular exige mais do que inovação tecnológica, relembrando que a colaboração entre várias partes é um elemento essencial nesta transição.
“A economia circular pressupõe muito a colaboração entre várias entidades, não funciona sozinha. Não podemos ser circulares sozinhos”, afirmou a CEO, rematando que “é importante inovar para passarmos de um modelo linear para um modelo circular”.
Inovar, inspirar e impactar
Nesta intervenção, a inovação foi colocada no centro do debate, não apenas como uma ferramenta, mas como uma inspiração para mudar paradigmas, com a CEO da Sonae a enaltecer que o evento serve para “inspirar, inovar e impactar”, chamando a atenção para a importância de criar produtos que utilizem menos materiais e tenham maior durabilidade.
Esta abordagem não pretende apenas proteger o planeta, mas assegurar modelos de negócio. Nesta ótica, para a responsável, “a circularidade tem de ser boa para nós, para o planeta e para os modelos de negócio”, destacando que a sustentabilidade não deve ser vista como um custo, mas como uma oportunidade para gerar valor.
Embora o problema seja mundial, Cláudia Azevedo lembrou ainda que também se trata de uma “urgência portuguesa”; deixando o apelo de que cada país, cada empresa e cada indivíduo têm um papel a desempenhar na construção de uma economia mais sustentável e circular.
A urgência da circularidade
Ivonne Bojoh (CEO, Circle Economy) esteve também esta quarta-feira no Innovators Forum, numa palestra com o mote “A Urgência da Circularidade”.
A especialista partilhou insights do último relatório Global Circularity Gap, permitindo ter uma visão abrangente sobre o como a circularidade pode ser um mercado interessante para o retalho.
Começando a sua intervenção com uma nota sobre o tempo, para lembrar que “o impacto da nossa economia global é sentido por todos”, a oradora convidada pela Sonae, referiu também que este tipo de encontros “aumentaram 3 vezes durante os últimos anos”. “Porém, a nossa economia circular global é de apenas de 7,2%. Ainda não estamos a recondicionar os materiais à velocidade que consumimos. Nos últimos 100 anos, consumimos quase tanto como nos últimos 5 ou 6 anos”, começou por referir.
Lembrando que “quanto mais pessoas temos [no planeta], mais materiais extraímos”, Bojoh defendeu que é possível continuar a ter uma boa vida com menos extração. “Podemos ter uma boa vida com os mesmos materiais. Podemos ter uma boa vida no mundo com um terço dos materiais. Podemos reverter os nossos excessos com a economia circular”, asseverou.
Defendendo que é possível reparar os danos já feitos, a CEO da Circle Economy referiu “o mito de que a economia circular é reciclagem” e “é aqui que a inovação entra em campo” e “transformar as empresas de reciclagem em empresas de materiais, é uma das formas”.
A fechar a sua intervenção, a especialista deu pistas de pontos sobre os quais devemos refletir “O que temos de perguntar é como os nossos governos estão a financiar esta a economia circular?”, começou por dizer, lembrando que a economia circular trará “a necessidade de reskilling”, questionando-se se “estamos prontos para operar numa economia circular?”. Por último, lembrando ser importante “get the economics right”, Bojoh frisou que os bancos ainda “não sabem, por exemplo, como valorizar uma iniciativa de uma empresa circular”.
iServices, Salsa e MC: A circularidade como eixo estratégico central
“Há muitos milhões de euros para esta transição, mas não estamos a falar a mesma linguagem e a usar os mesmos números (estatísticas)”, defendeu.
“A chave para a transição está na colaboração entre instituições financeiras, setor público e líderes industriais”, referiu a especialista da Circle Economy. “Nós somos a economia”, não são os outros que têm de corrigir o problema sozinhos, podemos fazer diferentes escolhas.
Ao longo das sessões do evento foi reforçada a importância urgente e estratégica da economia circular como resposta ao à rápida extração de recursos naturais e à crise climática, evidenciando a sua relevância para o futuro do planeta e dos modelos de negócio.
A transição de um modelo linear para uma circular foi apresentada como prioritária, assim como a colaboração multissetorial e uma mudança de paradigma, que percebe a sustentabilidade não como custo, mas como uma oportunidade para gerar valor.