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Sustentabilidade

iServices, Salsa e MC: A circularidade como eixo estratégico central

A circularidade está a tornar-se um conceito cada vez mais relevante em diversos setores económicos, especialmente no retalho, onde estratégias de sustentabilidade e reutilização de recursos são essenciais para enfrentar desafios ambientais e responder às crescentes expectativas de consumidores mais conscientes.

Durante o Innovators Forum, que decorreu ontem no Pateo da Galé, em Lisboa, o painel “Circularity: Size Up the Opportunity” reuniu líderes de três marcas de destaque — iServices, Salsa e MC — para partilharem as suas experiências e discutirem como a circularidade se tornou um eixo estratégico central nas suas operações.

 

Estas partilhas evidenciaram tanto os avanços como os desafios associados à implementação de modelos circulares, ficando claro que, embora os consumidores demonstrem interesse por soluções mais sustentáveis, ainda existem barreiras comportamentais e culturais que precisam de ser superadas para que a circularidade alcance o seu máximo potencial.

“Nós temos a nossa estratégia muito alicerçada em 4Rs, a reparação, o recondicionamento, a reutilização e a retoma”

As palestras deste momento do programa começaram com Bruno Borges, CEO da iServices, que começou por lembrar alguns dados da iServices, marca que começou a sua jornada há 13 anos, admitindo o gestor ser “verdade que em 2011 a circularidade não era o principal tema do momento e agora, passados estes anos, é um tema da atualidade e é por isso que estamos aqui”.

 

Atualmente, a marca conta com 90 lojas espalhadas por 4 países, nomeadamente Portugal, a nossa origem, Espanha, França e Bélgica. No total, a iServices emprega cerca de 420 técnicos que completam 42.500 intervenções técnicas por mês em equipamentos eletrónicos.

O gestor abordou, de seguida, o ciclo de vida de um equipamento. “Nós temos a nossa estratégia muito alicerçada em 4Rs, a reparação, o recondicionamento, a reutilização e a retoma. Agimos sobretudo após a venda do equipamento. Sabemos que há a necessidade da extração de matérias-primas, a necessidade dos materiais para a produção do equipamento, o seu fornecimento, produção e venda, mas a função da iServices é esta: tentar prolongar ao máximo o ciclo de vida de cada equipamento”.

 

Sobre este ponto, Borges explicou que recondicionam cerca de 10 mil smartphones por mês, considerando que estes “são smartphones que já tiveram uma primeira vida, já tiveram um primeiro utilizador e que nós temos o cuidado de testar, trocar alguma peça se necessário, higienizar e voltar a vender com a mesma garantia de um equipamento novo”.

“Reutilizamos praticamente 100% das peças que extraímos dos smartphones, as baterias são recondicionadas e terão uma nova utilidade, um novo uso, e os vidros que retiramos dos smartphones dispomos de laboratórios próprios que nos permitem recondicionar e numa fase posterior vender e colocar novamente em uso no mercado”, acrescentou, lembrando que a iServices permite a retoma de todos os equipamentos que os nossos clientes tenham em sua posse.

 

Mas como é que se transforma o recondicionamento em negócio? Pois bem, Bruno Borges acabou por trazer alguns dados relevantes, lembrando que este é um segmento que tem vindo a crescer e que, segundo a OCDE, tem uma perspetiva de crescimento anual de 5,1%. “Para que isto aconteça, é muito importante que os fabricantes tenham alguns cuidados associados. O primeiro dos cuidados é produzir material que tenha durabilidade, produzir material que não tenha uma obsolescência programada e. portanto, a durabilidade dos materiais é um ponto fulcral. Também terem o cuidado de disponibilizar peças”.

No que toca aos recondicionados, Borges afirmou que em Portugal 19,1% dos inquiridos de um estudo realizado pela iServices já tinham adquirido um ou mais equipamentos recondicionados. “Somos um dos países que tem, a este nível, um bom índice, daí também a razão para algumas das empresas que vendem recondicionados terem um elevado desempenho aqui em Portugal”.

“Reparação de Jeans? Acho que o ponto mais surpreendente é que o cliente está disposto a pagar. Isto não é um serviço gratuito”

Mafalda Paz, Sustainability Specialist da Salsa, começou por apresentar o programa de sustentabilidade da marca, que assenta em três pilares, “planeta, produto e pessoas, sendo que o planeta tem por base os recursos naturais, a eficiência e a otimização, como a água e a energia. Depois temos o produto com grande foco em projetos de circularidade e de ecodesign, como por exemplo o nosso Infinity, e também a nossa aplicação de edições limitadas de aprendizagem e depois aplicação no futuro no produto. E por fim, pessoas, onde nos focamos na nossa cadeia de abastecimento, na nossa cadeia de valor, tanto a nível de rastreabilidade como a nível de todo o produto, de como é produzido”.

Salientando ainda o programa da Salsa ao nível dos colaboradores, Paz lembrou que a marca dá grande importância à “formação, equidade e diversidade”.

Centrando-se depois no projeto Infinity, Mafalda Paz começou por explicar que quando o começaram a trabalhar se aperceberam que podiam “fazer ainda mais, podíamos prolongar o nosso produto. E assim surgiu o nosso lema, ‘dá uma vida infinita aos teus jeans’.

“Tudo começa na nossa loja física Salsa Jeans. Portugal, Espanha, França, Irlanda e Luxemburgo. O cliente pega nos seus jeans, leva a uma loja e o colaborador da loja irá avaliar se essa peça é reparável ou não. Caso seja reparável, o artigo segue para o nosso atelier na Salsa, em Famalicão”, explicou, dizendo que depois esses artigos são novamente entregues ao cliente na loja e poderão ser usados muito mais vezes.

“No caso de o cliente não querer reparar ou então o próprio artigo não estar apto para ser reparado, então segue o caminho da recolha. Pelo caminho da recolha, esse artigo chega à logística e seguirá três fluxos: o fluxo da doação, caso o artigo esteja em boas condições, ou então pode seguir o upcycling, em casos de transformação numa saia, ou então o nosso fluxo da reciclagem, transformação em fio reciclado. Estes três fluxos têm o mesmo fim, que é dar início a uma nova vida e a novos clientes”, sintetizou.

Fazendo depois um balanço do programa, numa altura em que já tem dois anos de vida, Mafalda Paz lembrou que já foram reparadas mais de 4 mil peças. “Isto é um grande indicador de sucesso do programa, pois podemos ver que há uma grande adesão ao serviço de reparação. Só neste último ano cresceu 58%”.

Para mais, a responsável da Salsa afirmou ainda que outro ponto interessante é que o cliente opta por reparações que são mais complexas e, por isso mesmo, mais caras, como por exemplo o aumento e a diminuição de um tamanho de jeans. “Por fim, acho que o ponto mais surpreendente é que o cliente está disposto a pagar. Isto não é um serviço gratuito. E podemos ver que existem dois métodos de pagamento, em dinheiro e em estrelas”.

“Refill no retalho? Queremos preparar-nos para o futuro, termos um maior entendimento sobre este modelo”

Por fim, Ana Vilaça Sustainability Expert da MC, apresentou a estratégia da marca lembrando que a sustentabilidade é encarada  na empresa como um “transformador dentro de toda a cadeia de abastecimento da MC, procurando promover iniciativas e boas práticas responsáveis e cada vez mais sustentáveis”.

Particularizando no eixo da circularidade, a responsável lembrou que a marca tem “linhas de ação diversas”, como iniciativas para combate ao desperdício alimentar, de recolha e triagem de resíduos e também temos a criação de packaging cada vez mais reutilizável e também com uma dimensão de ecodesign que permita ter reciclabilidade. Neste ponto, a marca tem feito esforço em termos de “design for recycling”, isto com o objetivo de atingir a meta de 2025 de 100% de reciclabilidade de todas as nossas embalagens.

Focando-se depois num ponto único, os reuse models, Vilaça começou por exemplificar que, desde em 2021, a MC estuda bastante o tema da reutilização à escala global. “Tentamos perceber o que é que retalhistas, marcas, produtores estavam a fazer neste âmbito, nesta dimensão e realmente percebemos que estava a haver muito dinamismo e que este movimento estava a crescer. Aliás, isto foi uma altura pós-Covid e estudos consumidores também nos estavam a dizer que eles estavam bastante preocupados com o que estava a acontecer à escala global relativamente ao problema dos resíduos”.

Com consumidores mais preocupados, envolvidos e mais exigentes relativamente à reutilização, a MC desenhou o seu projeto com base numa framework da Ellen MacArthur Foundation, que foca em quatro modelos de reuse models.

“Percebemos que havia um eixo deste reuse model que ainda não tínhamos explorado no universo da MC, e era o refill on the go. E por isso nós tínhamos convicções fortes e grandes motivações para fazermos um piloto e testarmos em ambiente de loja este eixo de atuação de reuse model. Isto porquê? Porque nós queremos aprender mais, queremos preparar-nos para o futuro, termos um maior entendimento sobre este modelo. Queríamos também perceber a recetividade do consumidor e a sua atratividade para utilizar em ambiente de loja este modelo”, explicou,

“Quando lançaram o piloto, parecia que os clientes estavam motivados e mesmo no lançamento nós tivemos reações muito positivas, nomeadamente nas redes sociais e no LinkedIn. Mas depois tivemos alguma resistência ao nível de resultados. O que é que nós apercebemos? Que apenas 20% dos clientes repetiram a compra de refill e apenas 6% das transações foram feitas com reutilização de embalagens. E nós tínhamos uma verdadeira narrativa de um modelo circular que fechava por completo o ciclo”, explicou.

Explicando depois todos os desafios enfrentados com este projeto-piloto, Vilaça sintetizou a iniciativa em três grandes insights: “O primeiro deles. Os clientes valorizam a existência da gama de produtos orientados para a circularidade. E estamos a falar de produtos compactos e de produtos de recarga. Também tem uma grande predisposição para a reciclagem e impacto positivo na disponibilização e da entrega desses resíduos mais domésticos no retalho alimentar. (…) [Porém, os consumidores] ainda não estão preparados e têm comportamentos restritivos relativamente à reutilização de embalagens quando vão fazer as suas compras”.

 

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