A refurbed, empresa europeia de produtos tecnológicos recondicionados, anunciou a sua entrada no mercado português no passado dia 15 de julho. Em entrevista à Distribuição Hoje, Kilian Kaminski, cofundador da marca, fala sobre o processo de expansão na Europa, a aposta no mercado português e a resposta às exigências dos consumidores, que se mostram mais informados e procuram cada vez mais produtos de qualidade e a preços competitivos.
Qual a principal missão da refurbed e de forma a origem austríaca da empresa influencia o seu posicionamento?
A origem austríaca da refurbed está bem presente no nosso ADN e influencia a nossa missão de tornar a tecnologia mais sustentável e acessível a todos.
A Áustria é um país reconhecido pela sua cultura de sustentabilidade e pelas políticas pioneiras na proteção ambiental. Esta consciencialização está muito enraizada na sociedade austríaca e influenciou a nossa visão na criação da refurbed, pois desde o início que procurámos desenvolver um negócio com um impacto positivo no planeta.
Além disso, a Áustria tem uma longa tradição de inovação tecnológica e de excelência na engenharia. A refurbed herda esta cultura, seja através da garantia da qualidade nos processos de recondicionamento, como na qualidade das peças que utilizamos. Constatámos, ainda, que a cultura austríaca valoriza muito a poupança e extensão do tempo de vida útil dos produtos, o que vai ao encontro de um dos nossos pilares – a implementação da economia circular como o ‘novo normal’ na sociedade.
 A refurbed entra no mercado português com o objetivo de se tornar uma referência na venda de produtos eletrónicos recondicionados.
Como se deu a expansão da marca para outros países e quais os principais desafios deste processo?
Quando decidimos expandir-nos, definimos uma estratégia que combinava não só a adaptação às especificidades de cada mercado e, consequentemente, dos consumidores, como a criação de parcerias estratégicas. Após o sucesso inicial na Áustria, a refurbed expandiu-se para a Alemanha, um mercado com grande potencial para produtos recondicionados e, posteriormente, para outros países da Europa Central e de Leste.
A entrada em novos mercados foi cuidadosamente planeada. Desenvolvemos muitos estudos de mercado para compreender as necessidades e preferências dos consumidores locais. Também estabelecemos parcerias com empresas de logística e serviços locais, para garantir uma operação eficiente e entregas rápidas.
Nos mercados em que a comercialização de produtos recondicionados ainda não é tão comum, conquistar a confiança dos consumidores é um verdadeiro desafio. Para combatê-lo, definimos uma estratégia assente na transparência, garantia de qualidade e uma forte política de devoluções.
A nível de operações, cada país tem as suas especificidades logísticas, fiscais e legais. Nesse sentido, a refurbed teve, mais uma vez, o cuidado de se adaptar. E também no que diz respeito à língua e cultura de cada país, elegemos um responsável local. Com a presença de alguém nativo, garantimos que a comunicação é clara e adaptada aos consumidores locais. No caso de Portugal, é o Francisco Esteves.
Apesar destes desafios, a expansão internacional da refurbed tem sido um sucesso, com a empresa a consolidar a sua presença em diversos países europeus. A aposta na sustentabilidade, na qualidade dos produtos e numa experiência de compra positiva tem sido fundamental para conquistar a confiança dos consumidores e impulsionar o crescimento da empresa.
A refurbed já contribuiu para a redução de 270 mil toneladas de emissões de CO2 – equivalente às emissões anuais de 58 mil carros; contribuiu para a prevenção de 885 toneladas de lixo eletrónico – equivalente ao peso de 6 baleias-azuis ou 442 carros; e economizou 94 mil milhões de litros de água – equivalente ao consumo anual de água de 2 milhões de lares.
Que motivações e estratégias levaram a empresa a entrar no mercado português?
A refurbed entra no mercado português com o objetivo de se tornar uma referência na venda de produtos eletrónicos recondicionados. Estamos confiantes de que a nossa proposta de valor – produtos tecnológicos como novos até 40% mais baratos e mais sustentáveis – está a ser bem recebida pelos consumidores portugueses e que vai contribuir para o crescimento do mercado de produtos recondicionados em Portugal.
De que forma a refurbed se alinha com os princípios do consumo sustentável e como é que isso se reflete no propósito da empresa?
A refurbed está intrinsecamente alinhada com os princípios do consumo sustentável e este compromisso está alinhado com o próprio propósito da empresa. Procuramos promover uma mudança de paradigma no consumo de produtos eletrónicos, incentivando um modelo mais consciente e responsável. Queremos tornar a economia circular e o consumo sustentável tão fáceis quanto o chamado ‘consumo convencional’ e, ao fazê-lo, convencer mais pessoas a adotar um estilo de vida mais sustentável.
A refurbed tem um papel muito ativo junto de entidades públicas, como o Conselho de Administração da EUREFAS (Associação Europeia de Recondicionamento), do qual faço parte. Esta associação, que junta várias empresas do setor dos recondicionados, traz ao debate temas como o direito à reparação, regulamentação de fabrico ecológico, entre outros temas.
E desde a sua fundação, em 2017, considerando a conversão de clientes que optam por produtos recondicionados em vez de novos, a refurbed já contribuiu para a redução de 270 mil toneladas de emissões de CO2 – equivalente às emissões anuais de 58 mil carros; contribuiu para a prevenção de 885 toneladas de lixo eletrónico – equivalente ao peso de 6 baleias-azuis ou 442 carros; e economizou 94 mil milhões de litros de água – equivalente ao consumo anual de água de 2 milhões de lares. Temos, ainda, o compromisso de plantar uma árvore por cada produto recondicionado vendido, e desde a nossa fundação já plantámos mais de 6,5 milhões de árvores.
Os consumidores estão cada vez mais informados e exigentes, pelo que procuram produtos de qualidade a preços competitivos.
Como alinham o modelo de negócio aos princípios de sustentabilidade e o que têm programado fazer neste sentido?
Todo o nosso modelo de negócio está centrado na sustentabilidade, mas os nossos esforços não acabam aqui. Queremos, acima de tudo, ter o menor impacto ambiental possível e, por esse motivo, investimos em projetos de proteção ambiental em várias áreas, como na reabilitação paisagística, diminuição de CO2, reciclagem de lixo eletrónico e muito mais.
Em 2023 estabelecemos uma parceria com o Instituto Fraunhofer para criar um modelo de avaliação do ciclo de vida cientificamente aprovado e verificado pela ISO para quantificar o impacto da compra de produtos recondicionados em vez de novos. Este ano, expandimos essa pesquisa e medimos o impacto de quase 10.000 smartphones, computador portáteis e tablets recondicionados diferentes, fornecendo dados confiáveis para esses dispositivos.
Além disso, estamos a desenvolver projetos a nível europeu, para a implementação de práticas mais sustentáveis, como as diretivas sobre o direito à reparação e a conceção ecológica. Isto é também resultado da nossa participação na associação EUREFAS (European Refurbishment Association), da qual sou membro da direção.
No fundo, o nosso objetivo é ampliar todas estas iniciativas nos próximos anos.
O consumidor português apresenta uma combinação única de comportamentos de consumo: uma elevada consideração pela sustentabilidade nas decisões de compra, combinada com uma elevada sensibilidade ao preço – o que corresponde exatamente ao nosso modelo de negócio.
Quais são as principais exigências dos consumidores atuais e como estão a dar resposta?
No que diz respeito ao setor dos recondicionados, constatamos que os consumidores querem garantir que os produtos que compram são fiáveis e têm a mesma qualidade que os produtos novos. Além disso, querem sempre saber exatamente o que estão a comprar, qual o estado do produto, a sua origem e que tipo de recondicionamento foi feito. Os consumidores estão cada vez mais informados e exigentes, pelo que procuram produtos de qualidade a preços competitivos.
Relativamente à experiência de compra, querem que seja fácil, rápida e intuitiva. Já no que respeita à sustentabilidade e responsabilidade social, os consumidores estão cada vez mais conscientes do impacto ambiental e social das suas escolhas de consumo, pelo que procuram marcas que partilhem esses mesmos valores.
Como funciona o vosso serviço ao cliente e quais os principais diferenciais em relação a outros players do mercado português?
O principal ponto de contacto dos nossos clientes é o comerciante que lhe vendeu o dispositivo, ou seja, o nosso fornecedor. No entanto, e este é um dos principais fatores de diferenciação em relação aos nossos concorrentes, a refurbed assume toda a parte de apoio e atendimento ao cliente, o que significa que lidamos com os nossos clientes em qualquer circunstância – no caso de não estarem totalmente satisfeitos com algo ou se for necessário outro tipo de acompanhamento, caso o serviço não esteja à altura dos padrões que definimos. Estamos muito orgulhosos da qualidade do nosso serviço de apoio ao cliente e temos vindo a ganhar vários prémios por isso. O nosso serviço de apoio ao cliente pode ser feito através de vários canais: redes sociais, e-mail ou telefone. Antes da compra, temos todo o gosto em responder a quaisquer perguntas que surjam, diretamente com a nossa equipa renovada.
No futuro, ambicionamos introduzir novas categorias de produtos recondicionados, como pequenos eletrodomésticos e produtos de desporto, e oferecer serviços complementares aos clientes.
Que resposta têm tido por parte dos consumidores portugueses desde a vossa entrada em Portugal?
A reação do mercado português tem sido incrivelmente positiva – os portugueses estão profundamente ligados à nossa proposta de valor – dar a possibilidade de adquirir tecnologia mais barata e sustentável. O consumidor português apresenta uma combinação única de comportamentos de consumo: uma elevada consideração pela sustentabilidade nas decisões de compra, combinada com uma elevada sensibilidade ao preço – o que corresponde exatamente ao nosso modelo de negócio. Aprendemos também a importância da confiança no lançamento de um novo mercado e continuaremos a trabalhar na construção desta relação a longo prazo com os portugueses.
Quais são os próximos passos para fortalecer a presença em Portugal?
A refurbed está empenhada em construir uma presença sólida e duradoura em Portugal.
Queremos continuar a explorar o mercado e conhecer as necessidades dos consumidores portugueses. No futuro, ambicionamos introduzir novas categorias de produtos recondicionados, como pequenos eletrodomésticos e produtos de desporto, e oferecer serviços complementares aos clientes, como seguros, extensões de garantia ou programas de recompra, para incentivar a devolução de produtos no final da sua vida útil.
No que diz respeito ao investimento que pretendemos fazer no mercado português, queremos, claro, criar um centro de logística em Portugal, para otimizar a gestão do nosso stock e agilizar as entregas. Além disso, gostávamos de expandir a equipa e reforçá-la com profissionais qualificados nas nossas várias áreas de negócio. Por último, mas não menos importante, pretendemos implementar práticas empresariais sustentáveis em Portugal, como a utilização de energias renováveis, redução do consumo de recursos e a promoção da mobilidade sustentável entre os colaboradores. E, por fim, estabelecer parcerias com ONGs e iniciativas locais que promovam a sustentabilidade.