Em Portugal ainda predominam os pagamentos em dinheiro com uma impressionante taxa de 81%. É quatro vez mais que na Suécia, mas ainda assim menos que em Itália ou Espanha, onde representam respetivamente 86% e 87%.
Os pagamentos através de cartões preenchem o restante do espetro de pagamentos se bem que assistimos agora a uma maior aceitação de tecnologias de pagamentos móveis, especialmente por grupos demográficos mais jovens e por certos tipos de transações (P2P).
Não obstante as tecnologias e iniciativas que referimos abaixo, importa referir que existe um espaço gigantesco para os meios de pagamentos eletrónicos tradicionais manterem o seu ritmo de crescimento fruto da sua notória robustez, presença disseminada, segurança e experiência de utilização simples.
A dificuldade de aportar valor acrescentado às transações em plataformas móveis, retirou no passado recente, ímpeto a um movimento que se pretendia disruptivo. No entanto, com a abertura decorrente da iniciativa PSD2, vamos assistir à entrada de novos players num mercado tradicionalmente conservador. Os novos players tentarão ganhar a sua quota de mercado através de inovação, serviços diferenciados, rapidez instantânea e aplicações on top da transacção. Esta inovação vai gerar valor acrescentado que fará com que os consumidores migrem de um pagamento em dinheiro ou cartão físico para um pagamento assente numa plataforma móvel.
 Este é um desafio tremendo para a Banca que terá de evoluir e integrar no seu ecossistema parcerias com algumas empresas do mundo Fintech por forma a que conseguir manter o controlo sobre o ciclo da transação de pagamento.
Este é um desafio tremendo para a Banca que terá de evoluir e integrar no seu ecossistema parcerias com algumas empresas do mundo Fintech por forma a que conseguir manter o controlo sobre o ciclo da transação de pagamento.
Após um primeiro impacto de receio, é agora consensual que os bancos terão de desempenhar o papel de plataformas de integração por forma a reterem os grandes comerciantes, pois são esses que determinam o curso do mercado e toda a evolução tecnológica daí decorrente.
Não sendo os bancos empresas tecnológicas de constante inovação e lançamento de soluções terão de procurar parcerias, aquisições de produtos e serviços junto de empresas das Tecnologias de Informação (TI) que começam a bravar caminho no sector financeiro.
 Este é o grande desafio para a banca e também para o sector das Tecnologias de Informação: criar pontes e sinergias para defender quota de mercado num caso e para ganhar quota de mercado noutro.
Veremos aplicações de pagamento a terem elos de ligação com aplicações de fidelização, rewards e gaming.
No que diz respeito ao e-commerce temos um ambiente ainda mais expansivo, em que o grande desafio continua a ser o garantir que, após investimentos de milhões de euros em plataformas, sites, conteúdos e marketing, não falhamos na última milha: o consumidor abandonar a compra na fase de pagamento por considerar o processo lento, complicado ou inseguro.
Todo o investimento em segurança é essencial nesta área uma vez que as fraudes, roubos de identidade e de dados são a principal ameaça para o sector. Este é um ponto que leva mais players para o ecossistema banca-Fintech-IT developers. Sendo importante garantir a segurança das aplicações e serviços, tal como uma regulação das mesmas. A iniciativa PSD2 e a sua regulação permite-nos olhar para este investimento com confiança.
De igual modo importa referir que os sistemas e infraestruturas de pagamentos existentes até há pouco não estavam preparados para o surgimento de iniciativas de pagamento instantâneos de processamento digital. A substituição das infraestruturas de pagamentos desatualizadas será necessária para competir no futuro. Os sistemas no futuro serão abertos e flexíveis em design, com a capacidade de se adaptar às rápidas mudanças na indústria.
Entra aqui um dos grandes desafios e igualmente uma grande oportunidade para a tecnologia blockchain e como conseguiremos adaptar os nossos sistemas a ela.
Entra aqui um dos grandes desafios e igualmente uma grande oportunidade para a tecnologia blockchain e como conseguiremos adaptar os nossos sistemas a ela.
Os consumidores e os comerciantes pretendem cada vez mais uma experiência de utilização que seja fluida, rápida, interativa de acordo com as suas preferências e relevante para o sector e negócio em causa. Este tipo de experiência não é passível de se alcançar num pagamento tradicional. E é aí que entram as plataformas móveis, com ligações entre apps de comerciantes, de fidelização e pagamento seja ela banca tradicional, virtualização cartão bancário, wallets, moedas digitais ou até de players fora do tradicional ecossistema como é o caso do Facebook, Google ou da Apple.
A grande tendência para os consumidores será a transformação de uma cultura de dinheiro e cartão para uma cultura de pagamento através do seu smartphone ou wearable device. Chegado ao universo do smartphone qual a app de pagamento? Temos em Portugal a possibilidade de utilização do serviço SIBS MB WAY disponível em dezenas de milhares de terminais tradicionais de pagamento assim como em plataformas de e-commerce mas é uma plataforma que serve o esquema doméstico, Multibanco. Deste modo, surge o espaço para os cartões de crédito e para as novas empresas FinTech poderem capturar o seu mercado junto de consumidores e de comerciantes.
Para um comerciante num ambiente cada vez mais global é preciso ter conhecimento sobre os seus clientes e adaptar as suas infraestruturas e mecanismos de pagamentos a uma panóplia de clientes e meios de pagamento diversos. Os meios de pagamento são aqui uma plataforma de integração entre dois mundos.
Vamos assistir a uma evolução nos meios tradicionais de pagamento nos chamados POS (Point of Sales. A primeira em que teremos a introdução de equipamentos móveis de baixo custo denominados de mPOS em novos sectores como as vendas com entrega, pop-up stores e pequenos negócios a aceitarem pagamentos electrónicos sejam eles com cartão ou smartphone.
A segunda com a chegada dos SmartPOS baseados em ambientes Android e totalmente seguros nos quais teremos finalmente uma total integração entre aplicações de negócio dos comerciantes e as aplicações de pagamento.
Em resumo, temos grandes desafios para os bancos e atuais dominadores do esquema de pagamentos (VISA, MasterCard, American Express, China Union Pay) e grandes oportunidades para os recém-chegados – aqui com clara distinção de categoria de peso entre algumas Fintech e players globais de dimensão superior a qualquer Banco como é o caso da Google, Apple e Facebook.
Subsistem riscos de segurança e necessidades de investimento tecnológico em igual proporção o que abre espaço para o sector das TI potenciar novos projectos e assegurar o suporte à indústria.
Persiste ainda uma incógnita, denominada de IoT Payments, pois estamos ainda a experimentar cenários e meios de utilização com a temática da segurança e privacidade a terem de balizar estas iniciativas para que todo um investimento da indústria não saia perdido por erros de iniciante.
Teremos sempre de facilitar a convivência de diferentes tipos de consumidores em função da sua faixa etária e adaptação a novas tecnologias pelo que vamos continuar a assistir a um crescimento dos pagamentos electrónicos tradicionais em detrimento do dinheiro físico e ao surgir de novas tecnologias e iniciativas que nos vão facilitar e muito a vida.
Opinião de Miguel Gomes Ferreira, Chief Commercial & Marketing Officer da NewNote Solutions