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Opinião

Blockchain: a “Xerox” da DLT

Pedro Branco, Glintt

O blockchain é uma tecnologia de Distributed Ledger Technology (DLT) ou registo descentralizado de dados [em português]. Existem outras tecnologias de DLT, mas o blockchain é o mais conhecido, uma vez que é a tecnologia que suporta as transações e o registo da bitcoin, a mais famosa das criptomoedas. Este facto leva a que o blockchain seja, quase sempre, confundido com o próprio conceito tecnológico de DLT, um pouco como a Xerox foi confundida com fotocópias.

Mas maior do que a disrupção tecnológica que a DLT pode imprimir às transações e mercados é a disrupção do conceito de registo descentralizado, o consenso multilateral e a segurança associada às transações que maiores alterações poderão provocar na forma como os mercados e operadores se relacionam entre si.

 

Os atuais processos e sistemas de compensação e liquidação de transações financeiras são altamente complexos e reúnem vários intermediários, envolvendo, em operações mais complexas, mais de uma dezena de intervenientes e ordens de execução. Adicionalmente os processos atuais potenciam a titularidade indireta dos instrumentos e produtos financeiros através de intermediários, que por sua vez detêm, eles próprios, instrumentos de outros investidores, gerando assim uma cadeia e uma multiplicidade de intervenientes.

Os atuais processos e sistemas de compensação e liquidação de transações financeiras são altamente complexos e reúnem vários intermediários, envolvendo, em operações mais complexas, mais de uma dezena de intervenientes e ordens de execução.

 

Naturalmente que, quanto maior for o número de intervenientes e de instruções no processo, maior é a complexidade em registar e controlar todas as operações e maior é o custo envolvido, seja ao nível do comissionamento de cada intermediário, seja ao nível da própria custódia do instrumento financeiro.

Neste caso, a aplicação de tecnologias de DLT nestes processos podem ter um efeito de redução dos custos das transações, por via da potencial eliminação do número de intermediários no processo, para além de um maior controlo, ainda que mais simplificado, e maior segurança, por via das próprias características das DLT.

 

No entanto as tecnologias de DLT são ainda algo ineficientes do ponto de vista do desempenho. Todo o processo é lento e oneroso, o que, no limite, inviabiliza, por enquanto, a aplicação destas tecnologias às transações bancárias e financeiras.

Imaginemos o impacto que teria uma ordem de compra de um ativo dada em D cuja efetivação apenas se verificaria em D+30, depois de verificados todos os blocos e todas as transações. Um estudo recente realizado na Austrália, concluiu que 93% dos valores transacionados está incluído no blockchain num prazo de três horas, mas, em alguns casos após 30 dias cerca de 1% do valor ainda não está incluído.

 

A aplicação de tecnologias de DLT nestes processos podem ter um efeito de redução dos custos das transações, por via da potencial eliminação do número de intermediários no processo.

Independentemente destas questões, o fenómeno das criptomoedas, em particular da bitcoin, levou já algumas empresas a alterarem o seu modelo de negócio. Uma empresa norte-americana chamada Long Island Iced Tea Corp, sediada em Long Island e que se dedica a fabricar chá gelado, anunciou a alteração do seu nome para Long blockchain Corp e a intenção de adquirir outras empresas no negócio das bitcoin.

Nesse mesmo dia as ações desta empresa subiram 200%. A empresa anunciou que irá manter a produção de chá gelado. Talvez venha a reutilizar o calor produzido com o processo de mineração de bitcoin para a produção de Ice Tea.

Ainda que seja já evidente que a tecnologia de DLT, em particular o blockchain, tem um potencial importante e que a  bitcoin e outras criptomoedas como a ethereum, a ripple e a litecoin estão a gerar muitos negócios, a verdade é que ainda há muito “hype” à volta destes temas, nomeadamente no que respeita ao blockchain e às criptomoedas.

Pedro Branco, financial services senior manager, Glintt Portugal

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