As últimas informações relativamente ao universo do vinho – proveniente do cruzamento de dados de várias entidades – mostram que os Estados Unidos da América (EUA) demonstram um gosto especial pelos vinhos provenientes da União Europeia (UE).
Contudo, esse “gosto especial” poderá ser contrariado com tarifas adicionais sobre uma variedade de bens, como parte de um conflito duradouro por “subsídios que distorcem o mercado” que a UE supostamente paga à Airbus e que muitos analistas temem ter efeitos adversos.
Por isso mesmo, a possível tarifa de 100% do vinho importado da UE causa um desconforto especial nos EUA, pois ameaça o sustento de muitas pessoas que trabalham no setor do turismo e restauração, em revendedores de vinho ou em qualquer outro negócio envolvido na aquisição e venda de vinhos europeus.
Os Estados Unidos são de longe o maior mercado de vinho europeu fora da UE, tendo importado mais de 6 milhões de hectolitros de vinhos da Europa em 2018, representando 28% das exportações de vinho extra-UE da União Europeia (apenas 60.000 litros de vinho americano foram na direção oposta nesse ano).
Apesar da China ter desenvolvido um “especial paladar” por vinhos finos nos últimos anos, o país presidido por Xi Jinping ainda segue os EUA por uma margem significativa, representando 12% das exportações de vinho da UE.
Embora o mercado dos EUA seja certamente importante para as vinícolas da Europa, os maiores produtores de vinho do mundo provavelmente serão capazes de lidar com as possíveis novas tarifas. Segundo informações dos Estados-Membro, citadas pela Comissão Europeia, apenas 13% da produção de vinho da UE é vendida fora da União Europeia, o que colocaria a participação dos EUA em menos de 5%. A maioria (50%) do vinho produzido nos países membros da UE é consumida localmente, enquanto outros 28% são comercializados dentro das fronteiras da UE.
De referir que o governo de Donald Trump introduziu tarifas de 25% em vinhos mais leves (menos de 14% de álcool) em outubro de 2019 e ameaçou, numa declaração de dezembro último, estender a taxa a todas as variações de vinho e aumentar para 100%.
Portugal reforça em terras de “Uncle Sam”
A posição de Portugal tem vindo a ser reforçada no que toca às exportações para os EUA. Globalmente, em 2018, Portugal exportou 295 milhões de litros de vinho, o equivalente a 800 milhões de euros, colocando o nosso país como 9.º exportador mundial tanto em valor como em volume.
Os EUA aparecem em 5.º lugar, em volume, e em 2.º lugar, em valor, posiciona que ocupa quando analisado o preço médio (euro/litro). No ano 2018, viajaram para terras de “Uncle Sam” 20,8 milhões de litros num valor de 80,8 milhões de euros, sendo que o preço (euro/litro) foi de 3,90 euros.
Para o ano 2019, os números avançados pela ViniPortugal, referentes a janeiro-setembro vs período homólogo de 2018, mostram que, embora em volume as exportações estejam aquém dos 2,189 milhões de hectolitros (até ao último dia de setembro os dados indicam um volume exportado de 2,181 milhões de hectolitros), em valor, regista-se um crescimento de 3,6%. Assim, em vez dos 560 milhões de euros, no período em análise, Portugal já ultrapassou os 580 milhões de euros, com o preço médio (€/l) a aumentar 3,9% para 2,66 euros.
Nestes primeiros nove meses os EUA aparecem com evoluções em todos os parâmetros. Ou seja, em volume passou de 16 para 17 milhões de litros quando comparado o período de janeiro a setembro contra período homólogo de 2018; em valor são mais 5 milhões de euros (de 61 para 66 milhões de euros); e no que toca ao preço médio (€/l) os EUA estão a pagar 3,81 euros contra os 3,74 euros de há um ano.
Assim, os crescimentos provenientes dos EUA são de: 5,7% em volume, 7,9% em valor, e 2% em preço médio.
Quando comparado 2010 com 2018, os números do International Trade Center (ITC) mostram um crescimento de 36% nas exportações de vinhos portugueses para os EUA, em valor, sendo que, em 2018, as exportações para os EUA representaram 10% do valor total exportado.