O 1.º Congresso de Supply Chain da GS1 Portugal, que decorreu no passado dia 19 de março, com o tema “Cadeias de valor 5.0 – novo paradigma da competitividade”, discutiu as cadeias de valor 5.0, o impacto da Inteligência Artificial (IA) na economia, a adoção de sistemas de IA por parte das empresas, os riscos que podem enfrentar e as “nuvens negras no horizonte”.
“Modernização e simplificação”, foi desta forma que João de Castro Guimarães, Diretor-Executivo da GS1 Portugal, se referiu às cadeias de valor 5.0 na abertura do evento.
A Europa vive “um período incerto”, caracterizado pela reorganização das afinidades geoestratégicas e pelas novas tarifas, em que os países mais expostos serão “os que exportam para os Estados Unidos”, explicou António Nogueira Leite, professor catedrático da NOVA SBE. “Para a economia [portuguesa] é algo que nos preocupa, mas não seremos os mais vulneráveis”, acrescentou.
Acredita-se que o impacto da IA na economia seja menor do que o esperado no início da década, apontou o professor catedrático, tal como não é esperado um “mundo descarbonizado em 2030-2035”.
Já Adolfo Mesquita Nunes, sócio da Pérez-Llorca, alertou para os riscos da adoção da inteligência artificial nas empresas, defendendo a necessidade de regulação. Destacou a importância de definir a finalidade das ferramentas, garantir a formação de quem as supervisiona, atribuir responsabilidades pelos resultados e assegurar a explicabilidade das decisões. Para minimizar riscos, as empresas devem considerar estes fatores ao escolher sistemas de IA.
Ao focar a discussão na logística, Hugo Oliveira, Diretor de Regulação da AMT, destacou o crescimento das cadeias de abastecimento desde a pandemia, impulsionado pelas entregas online, descarbonização e aumento dos veículos elétricos. A AMT recomendou avançar com o ordenamento do território, integrar transportes, energia e logística, e apostar em inovação e energias renováveis.
De referir que Portugal se comprometeu, no Plano Nacional de Energia e Clima, a aumentar a quota de renováveis no consumo final de energia de 31% para 51% até 2030, o que exigirá uma expansão significativa da capacidade instalada, afirmou Sofia Barbosa, da Greenvolt. Apesar do elevado potencial solar, o autoconsumo ainda está abaixo da média europeia, lê-se na comunicação, que avança ainda que a IA pode ajudar, analisando condições meteorológicas, prevendo a procura e otimizando preços em tempo real.
A GS1 Portugal promoveu ainda um debate sobre o papel da IA na eficiência da cadeia de abastecimento. João Tedim, da Microsoft, moderou a discussão, destacando três áreas-chave de evolução: apoio ao cliente, inovação no produto e otimização de processos.
 Paulo Laureano, da Worten, sublinhou que, apesar da utilidade da IA para gerar ideias, a decisão final continua a caber aos humanos. Já António Fernandes, da Luís Simões Logística Integrada, apontou a produtividade, o planeamento e a agilidade na tomada de decisões como os principais benefícios da IA.
O comércio em Portugal está a crescer, mas a cadeia de abastecimento continua a ser um dos principais pontos de vulnerabilidade, alertou João Mira Santiago, Diretor-Executivo da CLARANET. Com empresas cada vez mais conectadas e dependentes da sua cadeia de valor, prevê-se que até 2025, 45% sejam alvo de ciberataques, 62% dos quais envolvendo parceiros ou fornecedores.
Além disso, estima-se que 19% dos incidentes não sejam reportados. Para João Mira Santiago, é essencial preparar as empresas para enfrentar estes riscos no ecossistema digital.
Por fim, Helena Tapp Barroso, da Morais Leitão, alertou para riscos como a ética, qualidade dos dados, discriminação algorítmica, opacidade dos sistemas e responsabilidade em caso de erro.