Um novo relatório da Bain & Company revelou as seis principais tendências que vão redefinir o setor do retalho a nível global até 2035. Segundo a consultora, as empresas que conseguirem antecipar e capitalizar estas mudanças estratégicas estarão na linha da frente, destacando-se num mercado cada vez mais competitivo.
Segundo o relatório The Future of Retail: Six Disruptions That Could Shape the Next Decade o verdadeiro sucesso a longo prazo dependerá da capacidade das empresas de reagir rapidamente às oportunidades criadas por novas tecnologias, pela evolução do comportamento dos consumidores e por transformações estruturais na economia do retalho.
“O retalho está à beira da transformação. Estas mudanças não são especulativas, já estão a acontecer”, afirmou João Valadares, partner da Bain & Company.
E continua: “à medida que as empresas lidam com a turbulência tarifária e outras preocupações imediatas, não se podem dar ao luxo de perder de vista a evolução a longo prazo do cenário estratégico. A nossa análise convence-nos de que o setor será profundamente alterado nos próximos cinco a dez anos, preparando o terreno para um renascimento do retalho”.
Eis as principais disrupções apontadas pela consultora:
– Algoritmos e robots no comando: Funções centrais como definição de preços, promoções e merchandising estão a tornar-se cada vez mais automatizadas. A automação promete eficiência, mas também ameaça margens de lucro para quem não integrar rapidamente algoritmos e robótica no seu core business.
– IA a tomar decisões de compra pelos clientes: Com o aumento dos agentes de compras baseados em inteligência artificial (IA), os consumidores vão começar a delegar as suas escolhas a estas ferramentas tecnológicas. Isso coloca em risco os modelos tradicionais de fidelização e marketing digital, exigindo das empresas uma reinvenção dessas estratégias.
– O valor será pessoal e contextual: Não bastará competir por preço. Os retalhistas bem-sucedidos serão aqueles que compreenderem e anteciparem as necessidades específicas de cada cliente em cada momento, usando dados sofisticados para criar ofertas personalizadas e relevantes.
– Supermercados evoluem para empresas FMCG: A ascensão da marca própria, cada vez mais procurada pelos consumidores, transforma os supermercados em verdadeiras empresas de bens de consumo, o que vai criar uma nova vantagem competitiva baseada em produtos exclusivos e altamente diferenciadores.
– Menos lojas, mais propósito: O número de lojas físicas pode não ser tão decisivo como antes. À medida que o comportamento do consumidor evolui, os retalhistas devem explorar usos alternativos para os seus espaços, nomeadamente franchising, showrooms ou aluguer a terceiros.
– Escala global como imperativo: A atuação local já não é suficiente. Para responder às exigências dos consumidores e competir com os grandes players, será crucial investir em fusões e aquisições transfronteiriças e em alianças virtuais, de modo a garantir escala e capacidade de investimento tecnológico.
O estudo revelou que os retalhistas estão a ultrapassar os limites do modelo tradicional de compra e venda de produtos, expandindo-se para novas áreas de negócio com elevado potencial de rentabilidade. Entre os setores em destaque estão o retail media, marketplaces de terceiros, serviços financeiros e logística.
De acordo com a análise, estas chamadas receitas “fora do comércio” já representaram, em 2024, cerca de 15% das vendas e 25% dos lucros dos grandes retalhistas, um aumento significativo face a 2021, quando estas fontes representavam apenas 10% das vendas.
“Ninguém pode prever o futuro com total certeza, mas já estamos a ver como os principais retalhistas estão a diversificar o seu negócio”, acrescentou João Valadares, que sublinha ainda que “o planeamento de cenários pode ajudar os líderes do setor a pensar para além do ciclo trimestral e a prepararem-se para o que aí vem. Aqueles que agirem cedo e reinvestirem estrategicamente ajudarão a liderar uma nova era de excelência no retalho”.