À semelhança do que tem acontecido ao longo destes 40 anos, a Valente Marques, que detém a marca Caçarola, introduziu recentemente um novo produto: as Crackies.
Feitas a partir de arroz e milho biológico e ricas em fibras, as Crackies são um produto natural, baixo em calorias, baixo em teor de sal, sem glúten e sem corantes nem conservantes. É um produto que se diferencia pela qualidade e por ser nacional, mas também pelo preço. “O produto foi adaptado ao gosto dos portugueses, as nossas bolachas são mais estaladiças, e temos tido uma boa recetividade nesse aspecto”, realça António Valente Marques.
As Crackies resultam de um investimento de cerca de um milhão de euros na construção de uma nova fábrica, vocacionada especialmente para este tipo de produto.
O responsável acredita que esta nova oferta vai ser um sucesso, e já pensa em introduzir novas variedades até ao final do ano: “Porque são produtos que estão na moda, virados para um público jovem que se preocupa com a alimentação”. Para além disso, o entrevistado salienta a apresentação da embalagem. Para marcar o lançamento, vai ser lançada, brevemente, uma campanha de publicidade na televisão e na imprensa, mas também no ponto de venda e no facebook.
Preço dos cereais a subir
A ideia de introduzir este novo produto surgiu há um ano: “A empresa fez alguns estudos de mercado e algumas viagens para ver como funcionava noutros países e chegou-se à conclusão que era uma boa oportunidade. Não havia ninguém em Portugal a produzir este tipo de produto”, explica.
Mesmo em tempos de crise, não há duvida que o arroz é quase um produto de primeira necessidade e acessível a toda a gente, como concorda António Valente Marques. Por isso, a empresa não tem sentido os efeitos da crise, embora as dificuldades apareçam ao nível dos pagamentos e das cobranças: “Aí as coisas estão mais complicadas sobretudo no retalho mais pequeno, que cada vez sofre mais com o crescimento da grande distribuição. Esta situação está a matar o comércio tradicional”.
Apesar disso, o presidente da empresa de Oliveira de Azeméis acredita que este vai ser um ano difícil, sobretudo para quem trabalha com cereais, porque o preço continua a subir. “E a distribuição não nos permite subir preços, não me recordo de estas medidas alguma vez terem acontecido”, conta. Acrescentando que “hoje a concentração da distribuição é tão grande que são eles que ditam as regras e as leis. E, este ano, a indústria está atravessar uma dificuldade acrescida nesse aspecto. Temos esperança que este ano ainda possa haver algum ajuste de preços, porque senão o fizerem vão dar cabo da indústria”.
Quanto aos preços dos cereais, Valente Marques recorda que os preços continuam altos, uma vez que os stocks a nível mundial estão ao nível mais baixo de sempre. Contudo o empresário mantém a esperança que se avizinhem anos bons de produção, “que não venha nenhuma tragédia climatérica e que haja uma política mesmo a nível mundial, que olhe um pouco mais para a agricultura e para quem produz. Porque aquilo que se produz hoje não chega para o consumo mundial”, atira.
Aposta em Angola e Cabo Verde
Mas Portugal poderia ser autossuficiente na produção dos cereais? “Nos cereais todos não. Julgo que no arroz com algum esforço poderíamos ser quase autossuficientes. O problema está nas ajudas comunitárias que dão à produção. Quando começam a aumentar muito a produção, o rendimento fica mais baixo e isso trava um pouco o aumento da produção. Julgo que devia haver um incentivo maior e mais respeito pela produção. Só se fala em baixar preços, mas esquecem-se que quem trabalha a terra e produz também tem de ganhar dinheiro. O agricultor está a ser muito maltratado”, adianta. Para tornar esta situação mais justa, o responsável sugere o pagamento de valores justos a quem produz, “porque de outra forma o produtor não se consegue aguentar e deixa de produzir”.
A empresa, que se dedica ao descasque, branqueamento, embalamento e comercialização de arroz, exporta sobretudo para os países onde existem emigrantes portugueses. Nesse sentido, tem apostado em Angola e Cabo Verde, “temos tido crescimentos interessantes e aí temos feito uma aposta grande um pouco até para aliviar a pressão do mercado interno”.
O empresário revela ainda que poderão surgir no futuro novos projetos para o mercado angolano, uma vez que este país tem “ótimas condições para a produção de arroz. É uma área em que estamos com algum desenvolvimento e temos alguns projetos”.
O responsável avança ainda que a exportação representa cerca de 10% da faturação da empresa, mas a tendência tem sido de crescimento. “Acho que em Portugal temos um mercado maduro, as empresas têm as suas quotas de mercado e dificilmente se consegue crescer por aí. Só se consegue crescer ou introduzindo produtos novos ou pela exportação”, assegura.
40 anos a inovar
Fundada em 1971 por Manuel Valente Marques, pai do atual presidente, a empresa completa este ano, 40 anos de atividade. O segredo para o sucesso é, segundo o empresário, “apostar na qualidade, estar constantemente adaptar-se, a modernizar e apostar em novos produtos e em novas variedades”.
Tendo como objetivo desenvolver sempre produtos com um elevado grau de qualidade, um engenheiro agrónomo dá o apoio no controlo da produção desde a sementeira até à colheita.
A Caçarola continua a ser a principal marca da empresa, que começou com a produção de arroz tradicional: o carolino e o agulha. Mais tarde introduziram o basmati, o jasmim, o risoto e o selvagem.
O presidente ressalva que o arroz carolino da Caçarola é de origem nacional sendo, aliás, a única variedade produzida no nosso país. Todas as outras variedades são importadas, assim como as massas e os legumes secos. “Não temos volume nestas duas áreas para montar uma unidade, pois são áreas em que é preciso ter volumes grandes para se ser competitivo”, acrescenta.
Apesar da crise em que o país mergulhou, o ano de 2010 correu bem, segundo o entrevistado, conseguindo a empresa um crescimento em volume de vendas na ordem dos 13%, sendo que o volume de faturação anda na ordem dos 40 milhões de euros. Quanto a 2011, o primeiro trimestre teve um crescimento de 6,4%, contudo o presidente julga que em termos de volume de faturação vai baixar, “sobretudo pela pressão da distribuição por não deixarem aumentar os preços”.
Contudo também destaca que as marcas da distribuição têm sido um concorrente forte, sobretudo em épocas de crise como a que vivemos, em que o poder de compra diminuiu e, por isso, o cliente opta pelo mais barato. “Julgo que, por enquanto, será esta a tendência, embora mais tarde as marcas acabarão por estabilizar e começarão a crescer”, antecipa.
Hoje em dia, são cerca de 70 trabalhadores a trabalhar na fábrica que embala 150 mil kg de arroz.
António Valente Marques conclui realçando que é necessário que o país “exporte mais, crie mais riqueza e crie mais postos de trabalho”.