A dispersão geográfica da maioria das indústrias agroalimentares que existem na EUROACE, faz com que a grande parte dos subprodutos não sejam reaproveitados, por se desconhecer a sua existência, ou então são transformados a grandes de distâncias do local de produção pelos poucos agentes económicos que detetaram a sua existência. Este afastamento geográfico entre a área de produção e a possível área de reaproveitamento resulta por vezes na diminuição do potencial de utilização do subproduto. Ao desenvolver um mapa de subprodutos agroalimentares na zona EUROACE, pretende-se auxiliar um setor em expansão, como é o da utilização, gestão e valorização de subprodutos, numa ótica cada vez mais atual da Economia Circular.
A olivicultura e a atividade da indústria oleícola produzem uma grande quantidade de resíduos e subprodutos com alto potencial de impacto ambiental, por isso devem ser geridos da forma mais adequada. As caraterísticas, composição e problemas dos resíduos produzidos nos lagares de azeite estão detalhados neste artigo. O bagaço (figura 1) obtido na extração do azeite por centrifugação de duas fases é um subproduto de consistência semissólida ou viscosa, formado por restos de polpa e caroço esmagado de azeitona. Apresenta pouca porosidade total, humidade entre os 55 e os 75% e teor de gordura de 3 a 9%. Possui alto teor de matéria orgânica (acima de 90% como valor médio), alta relação C/N e quantidades abundantes de lignina, celulose e hemicelulose, além de importantes níveis de lípidos, hidratos de carbono e fenóis. O seu pH varia entre alto a levemente ácido, e a condutividade elétrica varia desde valores próximos de 1 dS/m a mais de 5 dS/m (tabela 2).
No que diz respeito ao teor de nutrientes, destaca-se a alta riqueza de potássio, caraterística dos resíduos e subprodutos do lagar enquanto que, pelo contrário, apresenta um teor geralmente baixo em azoto, fósforo, cálcio e magnésio em comparação com outros resíduos orgânicos (Albuquerque et al., 2004; Cegarra et al., 1993; Niaounakis & Halvadakis, 2006; Pascual et al., 1997). No que diz respeito a microelementos e elementos metálicos, destacam-se a sua alta concentração em ferro (Albuquerque et al., 2004) e o seu baixo teor em metais pesados (Madejón et al., 1998; Roig et al., 2006). À semelhança do que sucede com as águas ruças, são atribuídas propriedades fitotóxicas e antimicrobianas ao bagaço de azeitona devido aos altos teores de lípidos e fenóis presentes, o que fundamenta os riscos ambientais associados à sua aplicação direta no solo (Albuquerque et al., 2004; Linares et al., 2003; Niaounakis & Halvadakis, 2006).

Figura 1. Bagaço de Azeitona
Normalmente, o bagaço de azeitona é obtido diretamente do bagaço húmido ou bagaço de duas fases, por um processo de centrifugação e crivagem, mas também pode ser obtido do bagaço por um processo de aspiração e triagem. É uma das melhores biomassas conhecidas, pelo seu alto teor de lignina, que proporciona um elevado poder calorífico, baixo teor em cinzas e boa conservação do produto. É altamente valorizado para o consumo em caldeiras de aquecimento domésticas e industriais e noutros processos, como a produção de carvão ativado. O seu uso a nível doméstico é a aplicação mais competitiva quando comparado com outros combustíveis.

Figura 2. Caroço de Azeitona
Além dos resíduos e subprodutos acima mencionados, o processo gera outros materiais sólidos, como folhas e ramos pequenos, e o óleo (de bagaço de azeitona) obtido a partir do bagaço de duas ou três fases. Depois de extrair o óleo de bagaço de azeitona, a partir do bagaço de duas ou três fases, obtém-se outro subproduto, designado por bagaço extratado, que se caracteriza por ser um material seco (8 a 10% de humidade) que contém restos de polpa e caroço de azeitona (figura 2) e cuja composição apresenta altos níveis de lignina, celulose e hemicelulose.
Esta valorização está enquadrada no Projeto INNOACE, cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do Programa INTERREG V-A Espanha – Portugal (POCTEP) 2014-2020, e destinado a fortalecer o tecido empresarial, criando sinergias entre empresas e centros de I+D+i, levando a cabo ações de transferência e validação precoce de produtos e serviços mediante processos de inovação aberta. O INNOACE trata também de fomentar o processo de descobrimento empreendedor nas áreas de especialização inteligente fundamentais da EUROACE (Euroregião constituída pelo Alentejo, Centro de Portugal e Comunidade Autónoma da Extremadura espanhola).
Como podemos observar na tabela 1 a temporalidade das campanhas de produção de azeite tanto na Extremadura espanhola como no Alentejo verificaram-se em outubro, novembro, dezembro e janeiro.

Tabela 1 – Temporização das campanhas de produção
No projeto INNOACE foi produzido um mapa com a localização das indústrias que produzem estes subprodutos e resíduos. A localização dos lagares na zona EUROACE é predominantemente na Extremadura espanhola, como podemos observar na figura 3, com a presença única da classe usada para enquadrar os lagares de grandes dimensões. Na zona portuguesa apenas existem lagares de médias e pequenas dimensões.

Figura 3. Localização dos lagares na zona EUROACE
Na tabela 2 indicam-se os valores médios da composição de subprodutos resultantes do sector.
Tabela 2 – Caraterização média dos subprodutos procedentes dos lagares
Numa ótica de “Economia Circular”, cuja importância crescente foi reconhecida e valorizada pela Comissão Europeia e que será fortemente apoiada e incentivada no próximo quadro comunitário de apoio, o projeto INNOACE – subprojecto Mapas de subprodutos e resíduos pretendeu aproximar os produtores destes subprodutos e os potenciais utilizadores/valorizadores, através da criação de mapas interativos onde se localizaram as industrias geradoras destes subprodutos e aí se agregou informação sobre os valores anuais produzidos e a composição química média da cada um dos subprodutos. Pode aceder ao mapa através do Website do Projeto e/ou do Website https://subproductosagroalimentarios.es/.
Cordeiro, A.I.1, Moreno, L.3, Espejo, A. 3 Machuca, S. 3, Almeida, T.4, Santos, M.4, Mondragão-Rodrigues, F.1,2, Pacheco de Carvalho, G.1, Paulo, M.1 & Sanchez, R.3
1 Departamento de Ciências Agrárias e Veterinárias. Instituto Politécnico de Portalegre.
2 MED, Universidade de Évora, Portugal
3 CTAEX, Centro Tecnológico Nacional Agroalimentario Extremadura
4 PACT, Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia
Alburquerque, J.A., González, J., García, D. & Cegarra, J. (2004). “Agrochemical characterizatiion of “alperujo”, a solid by-product of the two-phase centrifugation method of olive extraction. Bioresoruce Technology 92, 195-200. Cegarra, J., Roig, A., Navarro, A.F., Bernal, M.P., Abad, M., Climent, M.D. & Aragón, P. (1993). “Composting “alperujo”, the main by-product of the spanish olive oil industry. Sustainable Organic Waste Management for Environmentral Protection and Food Safety, pp. 281-283. FAO and CSIC, Murcia. Linares, A., Caba, J.M., Ligero, F., De la Rubia, T. & Martínez, J. (2003). “Detoxification of semisolid olive-mill wastea and pine-chip mixtures using Phanaerochaete flavido-alba. Chemosphere 51. 887-891. Madejón, E., Galli, E. & Tomati, U. (1998). “Composting of wastes produced by low wáter consuming olive mil technoloy. Agrochimica 42. 135-146. Niaounakis, M., Halvadakis, C.P. 2006. “Olive processing waste management. Literature review and patent survey. “2nd Edition. Elsevier Ltd., Oxford. Pascual, J.A., Ayuso, M., García, C. & Hernández, M.T. (1997). “Characterization of urban wastes according to fertility and phytotoxicity parameters”. Waste Management & Research 15. 103-112. Roig, A., Cayuela, M.L. & Sánchez-Monedero, M.A. (2006). “An overview on olive mil wastes and their valorisation methods. Waste Management 26. 960:96
Agradecimento: Este trabalho foi realizado no âmbito do projeto INNOACE, cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do Programa INTERREG V-A Espanha – Portugal (POCTEP) 2014-2020 da Comissão Europeia.