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Recursos Humanos

Saiba porque deve integrar um filósofo na sua equipa

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Em Silicon Valley, onde empresas como a Google, a Facebook e a Microsoft estão a transformar a definição do que significa ser ‘humano’, através do desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial e machine learning, está também a nascer uma nova tendência de Recursos Humanos. A contratação de filósofos.

Recentemente, o Wall Street Journal publicou um artigo em que contava de que forma a startup nova-iorquina de café Super Coffee conseguiu transformar a cultura da empresa ao contratar um filósofo. E apesar de a história ter feito burburinho e ter causado alguns levantar de sobrolho, a ideia não é nova e pode ser melhor para as organizações do que imagina.

 

Em tempos difíceis é comum os líderes das empresas procurarem a ajuda de consultores ou de um coach, mas a experiência das empresas tecnológicas dos EUA mostra-nos que a contratação de filósofos pode fazer sentido.

Lou Marinoff, que já trabalhou com organizações como o Fórum Económico Mundial e a Comissão Federal de Eletricidade do México, tem sido, desde 2000, um dos maiores defensores da tendência. Em declarações ao britânico The Guardian explica que existe “uma geração de filósofos com perfil empreendedor” que não oferecem soluções às empresas, mas que as ajudam a formular questões para obter novas perspetivas em relação ao seu negócio. De acordo com o especialista, o objetivo é que estes filósofos ajudem as empresas e os seus líderes a desenvolverem um pensamento crítico e a focarem-se na examinação dos seus valores para entenderem o que está a funcionar bem no negócio.

 

“Estamos a falar de pessoas altamente inteligentes, que têm excesso de trabalho e que não têm tempo de refletir. Aquilo que nós [filósofos] fazemos é criar espaço para reflexão”, explica o filósofo Lou Marinoff sobre a estratégia que usa para ajudar as lideranças das organizações.

O professor de Filosofia da City College of New York e autor da obra Plato, Not Prozac! Applying Eternal Wisdom to Everyday Problems, explica ao jornal britânico que a American Philosophical Practitioners Association já formou cerca de 400 filósofos só para prestarem este tipo de serviço às empresas e garante que a tendência vai crescer nos próximos anos.

 

Mas qual é, afinal, a verdadeira utilidade de um filósofo, cujo foco está habitualmente na ética, para um líder de um negócio ou empreendedor, cujo foco é obter lucros para uma empresa? Roger Steare, filósofo da Cass Business School e autor do livro Ethicability, explica que “existe uma assunção de que os lucros e a filosofia são incompatíveis. A tensão não é entre a filosofia e os lucros, mas entre o conhecimento aprofundado e maximização dos lucros a curto prazo, em vez de na criação de valor sustentável a longo prazo.”

“Um filósofo pode direcionar um negócio para inovações que combinem um bom propósito e uma verdadeira oportunidade de negócio. O pensamento filosófico também pode guiar os empreendedores tecnológicos na definição de fronteiras, que podem ir desde as questões acerca dos direitos de privacidade ao ensino de sistemas de inteligência artificial sobre valores humanísticos”, defende ainda Christian Vögtlin, professor de responsabilidade social corporativa na Audencia Business School, em França.

 

Já Andrew Taggart, consultor para várias empresas de Sillicon Valley que ajuda as organizações a usar a Filosofia num contexto prático, defende que um filósofo “pode dar um empurrão, questionar, levar os líderes em viagens desconfortáveis e ainda ser uma força disruptiva – aliás, como deve ser (…) Fazer filosofia como uma forma de vida é desafiador e pode, por vezes, ser desconcertante.”

Mas contratar um filósofo para uma empresa não é para líderes mais sensíveis, diz Andrew Taggart. A aplicação prática do pensamento filosófico exige que os líderes se interroguem acerca do papel dos seus produtos ou serviços no mundo e não apenas se algo faz sentido ou não num determinado mercado.

Karine Scelles, Global HR Director e Asia-Pacific Regional HR Director da General Electric (GE), explica num artigo publicado no seu LinkedIn porque é que as organizações devem apostar na contratação de filósofos.

De acordo com a Diretora de Recursos Humanos da GE, esta decisão fará cada vez mas sentido no contexto do trabalho do futuro. “A filosofia ensina a comunicar ideias complexas de uma forma clara e precisa. Os estudantes da área são formados para ouvir e comunicar, porque a Filosofia tem como base o diálogo com os outros, e para iniciar um diálogo consigo próprios (…) Basicamente, aprende-se a considerar todas as perspetivas e a colocarmo-nos no lugar do outro. Por isso, quando se fala já se antecipou todas as objeções possíveis ou as questões (…) Esta capacidade de sermos o nosso maior oponente é uma verdadeira vantagem à medida que subimos numa empresa porque quanto mais subimos mais sozinhos estamos”, defende Karine Scelles.

“A Filosofia não é oferece uma receita, mas sim um método. Não nos ensina o que pensar, mas como pensar. Os filósofos usam a dúvida e o questionamento como instrumento para o progresso e para a decisão e não como um pretexto para não fazer nada”, conclui.

Artigo publicado em parceria com o blog RH Bizz

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