Devido à imparável digitalização e ao número crescente de start-ups e empresas tecnológicas, a procura de profissionais de IT disparou nos últimos anos. 81% das organizações tem dificuldades em contratar perfis de IT especializados, principalmente especialistas em projetos e programação, avança a Robert Walters.
O estudo da consultora de recrutamento especializado – “Combater a falta de talento especializado em IT” – conclui que as organizações precisam de explorar metodologias e canais de atração e retenção mais inovadores e eficazes, dadas as crescentes limitações das fontes de talento tradicionais.
Entre as principais conclusões do estudo, salienta-se que nos últimos dois anos, a oferta de emprego para cargos de IT aumentou em média 38% a cada seis meses. Start-ups, empresas tecnológicas e pertencentes aos setores bancário, seguros, retail e internet são as que mais têm contribuído para esse aumento.
Mas quais são as principais dificuldades dos departamentos de IT nas empresas? A nível externo, 65% destes consideram que o maior desafio que enfrentaram nos últimos anos foi conseguir profissionais com o talento especializado de que necessitavam, seguido da dificuldade de responder às expectativas salariais do mercado de trabalho (19%). Por outro lado, 46% dos departamentos de IT apontam a escassez de profissionais como o seu maior fator de risco, para além da elevada carga de trabalho (46%), limitações orçamentais (15%) e a falta de envolvimento ou compromisso da equipa de gestão nos seus projetos e processos (15%).
8 em cada 10 empresas antecipam uma forte necessidade de incorporar perfis de IT especializados nos próximos anos, sendo especialmente desafiante encontrar profissionais para programação, project management, web & app development ou arquitetura de sistemas. Por outro lado, de entre os profissionais com maior procura atualmente, destacam-se especialistas em cybersecurity (ethical hacker, forensics), business & data analysts, bem como aqueles com conhecimento de Agile, analytics e desenho UX / UI.
Alberto Muñoz, diretor da divisão IT&Digital na Robert Walters, esclarece que “a automação de um grande número de processos em múltiplos setores está a gerar uma descompensação no relacionamento entre oferta e procura de profissionais especializados nas tecnologias da informação. Estes têm a possibilidade de manter uma atitude reativa e esperar que lhes ofereçam várias ofertas de emprego até que optem por uma que se aproxime mais das suas aspirações. Enquanto isso, existem empresas com vagas não preenchidas por longos períodos de tempo. Esta tendência só pode aumentar nos próximos anos, pelo que está nas nossas mãos implementar planos de ação para alcançar um equilíbrio sustentável. É essencial fornecer ao sistema educacional as ferramentas necessárias para melhorar as carreiras STEM, bem como apoiar o mundo dos negócios para permitir e facilitar o desenvolvimento e a evolução de mais e melhores profissionais.”
Apesar do grande volume de ofertas de emprego, há um elevado grau de insatisfação entre os profissionais de tecnologia em relação às características e à natureza dos cargos disponíveis: 47% acreditam que as empresas não oferecem salários de acordo com o tipo de função que desempenham. Além da remuneração, 40% confessam que não conseguem encontrar uma empresa que vá ao encontro das expectativas de desenvolvimento profissional; e 32% não estão satisfeitos com a política de work-life balance da sua empresa atual. Assim, os principais fatores de mudança de trabalho para os profissionais de IT são uma melhoria de salário e perspetivas de desenvolvimento de carreira (74% e 72% respetivamente), seguidos por uma cultura corporativa mais motivadora (45%) e uma melhor conciliação da vida profissional e familiar (42%).
Já Paulo Ayres, manager na divisão de IT&Digital na Robert Walters, admite que “atualmente, encontramo-nos perante uma elevada necessidade de contratação e uma aguda escassez de especialistas de IT, num mercado em que lidera o candidato. Neste contexto, as empresas só podem atrair os melhores talentos se ampliarem a sua busca a novos canais de recrutamento e tentarem atender às expectativas salariais, culturais e de desenvolvimento de carreira desta geração de profissionais, que são complexas e frequentemente exigem esforços e mudanças em termos de capital, tempo e pessoal por parte das empresas.”
5 de cada 10 profissionais de IT consideram que um processo de entrevistas de excessiva duração acaba por dissuadir os melhores candidatos, “pelo que as empresas devem tentar acelerar os processos o máximo possível para se tornarem mais eficientes e atrativas. Os processos demoram demasiado tempo. Alguns chegam a prolongar-se por mais de três meses, e isso não faz qualquer sentido, principalmente em IT. Mesmo um mês é muito”, salienta Paulo Ayres, concluindo que “é nos mercados de trabalho dominados pela escassez de candidatos que a boa gestão dos processos de recrutamento se torna um fator determinante. As empresas que exigem talento tecnológico devem optar por métodos inovadores e eficazes para obtenção de talento, a fim de não perderem competitividade. Tal significaria, por exemplo, abordar testes técnicos e de competência em grupo, de forma original e diferente.”