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Inovação

Coligação promove blockchain em Portugal

Rui Serapicos, diretor-geral da CIOnet Portugal

Portugal já tem uma coligação de empresas, instituições de ensino e entidades governamentais que uniram esforços para aumentar o conhecimento sobre a tecnologia blockchain: a Aliança Portuguesa de Blockchain.

A Aliança Portuguesa de Blockchain foi oficialmente apresentada em finais de março de 2018. Esta iniciativa da CIOnet que já conta com um número considerável de membros, pretende “aumentar o conhecimento e incentivar o desenvolvimento de novas soluções em blockchain [de origem nacional]”, focando-se no “desenvolvimento de um ecossistema que reúne empresas, academia e entidades governamentais de forma a dotar o sistema empresarial português de conhecimentos sólidos em blockchain”.

O objetivo é ambicioso e passa por “preparar [tanto quanto possível] todos os intervenientes da economia portuguesa para a revolução que esta tecnologia irá implicar”, explicou Rui Serapicos, diretor-geral da CIOnet, organismo promotor da Aliança Portuguesa de Blockchain, para tomar contacto com os objectivos desta organização.

 

Rui Serapicos será um dos oradores no SmartPayments Congress, nos próximos dias 23 e 24 de maio, no Lagoas Parque, em Oeiras.

A tecnologia blockchain é uma tecnologia emergente que está a ganhar “cada vez mais tração em todo o mundo e nos mais variados setores de negócio”, enquadra Rui Serapicos, embaixador da Aliança. Por isto, “Portugal não deve ficar atrás” e tem de “procurar aquilo que será o futuro e posicionar-se como um líder nesta área”.

 

A SmartPayments entrevistou Rui Serapicos e colocou-lhe algumas questões sobre aquele que poderá ser o caminho do blockchain em Portugal.

SmartPayments –  O que se pode esperar do blockchain no âmbito dos pagamentos e das fintech em Portugal?

 

Rui Serapicos – A Aliança Portuguesa de Blockchain está a desenvolver um conjunto de “challenges” aplicados a diferentes áreas de negócio, seja de pagamentos, “smart contracts”, serviços financeiros ou mercados “peer-to-peer”. Acreditamos que os challengers da Aliança serão criativos, disruptivos e inovadores e apresentarão desafios aplicados à desintermediação, mercados ponto a ponto, contratos paramétricos, modelos de negócio baseados em negociação ou gestão distribuída ou tokenização de benefícios.

O que diferencia o blockchain dos atuais sistemas de processamento e liquidação de transações, em particular, as internacionais?

 

R.S. – O blockchain é uma maneira notavelmente transparente e descentralizada de registar listas de transações. A forma como as transações baseadas em blockchain criam registos públicos rápidos, baratos e seguros, podem ser usados para muitas tarefas de cariz financeiro e não-financeiro.

Este paradigma oferece a mesma funcionalidade de manutenção de registos mais antigos, mas sem uma arquitetura centralizada. A questão é como se pode ter a certeza de que uma transação é legítima quando não há autoridade central para verificá-la.

Esta tecnologia resolve esse problema descentralizando de modo a que cada utilizador contenha uma cópia do mesmo. Qualquer pessoa pode solicitar que qualquer transação seja adicionada à cadeia de blocos, mas as transações só são aceites se todos os utilizadores verificarem a sua legitimidade.

Quanto poderá valer o mercado desta tecnologia descentralizada de registo de dados aplicada ao sector “fintech” no corrente ano e nos próximos?

R.S. – Antes de mais, é preciso dividir o blockchain entre público, privado e híbrido. No blockchain público, como o ecossistema tecnológico que constitui a bitcoin, teríamos de contabilizar a valorização das ICO e das criptomoedas em circulação.

Em blockchains privados, o mercado deverá valer atualmente entre cinco a dez milhões de euros, estando em franca expansão. á naquilo que será o blockchain híbrido, não temos dados que suportem, para já, uma valorização, mas acreditamos que este será o tipo de blockchain que mais irá crescer nos próximos anos.

A tecnologia blockchain vai ajudar a combater a fraude?

R.S. – Certamente que sim. O blockchain, enquanto registo completo e imutável, vai ajudar a combater a fraude de transferência de ativos. Quando temos blockchain a sustentar um serviço de processamento de pagamentos, é possível seguir toda a sequência das transferências eletrónicas. A promessa das transações confiáveis é, na verdade, uma das grandes razões pelas quais a indústria de serviços financeiros está a explorar a tecnologia.

Qual poderá ser o contributo da blockchain para a “economia digital”? Será, como muitos dizem, uma tecnologia disruptiva?

R.S. – Sem dúvida! blockchain será a tecnologia mais disruptiva desde que a Internet se popularizou. É impossível saber neste momento até que ponto é que o blockchain irá impactar a vida das pessoas, mas não há dúvidas que irá, de facto, impactar a vida dos cidadãos. A economia digital como a conhecemos é um dos vários elementos da economia que serão impactados por este paradigma.

Qual poderá ser o papel de Portugal no blockchain?

R.S. – Acreditamos que Portugal se pode tornar num dos principais países nesta matéria, com soluções inovadoras que podem, de certo modo, revolucionar o mundo. Já temos alguns exemplos disso e acreditamos que em breve vão aparecer mais, é apenas uma questão de tempo.

Uma aliança para evangelizar o mercado

A Aliança irá levar a cabo várias iniciativas de sensibilização e informação para a tecnologia, tais como um portal com a disponibilização de ambientes de desenvolvimento aplicacional (sandboxes) onde será possível experimentar e desenvolver soluções baseadas em blockchain.

A origem desta Aliança, que está a dar os primeiros passos, remonta ao início de 2017 e foi apresentada oficialmente a 28 de março do corrente ano. Neste momento, a coligação já conta com um número considerável de parceiros.

Durante o corrente ano, a Aliança vai acionar várias iniciativas para “promover o conhecimento sobre este paradigma emergente”, incluindo um “roadshow” junto de alunos do ensino superior e associações empresariais do país. Entre outros aspetos, a ideia é partilhar “novas formas de trabalhar com esta tecnologia ou mesmo implementar ou desenvolver soluções para aumentarem a competitividade do seu negócio são alguns dos objetivos que a Aliança pretende responder”.

A Aliança vai ainda promover desafios de negócio baseados em blockchain (os Blockchain Challenges). Estes são “desafios criativos e tecnológicos com base em “distributed ledgers” [tecnologia descentralizada de registo de dados]”, orientados “para vários setores, como banca, seguros ou retalho, por exemplo, e que procuram responder a uma ou mais necessidades identificadas nesses setores e que o blockchain pode ajudar a resolver”.

Perto do final do ano a Aliança vai ainda promover uma conferência na qual serão apresentadas as soluções e atividades desenvolvidas pelos participantes ao longo do ano, para além de um painel de debate em torno das conclusões e projetos desenvolvidos no contexto da iniciativa.

Para aderir à Aliança, os estudantes, as startups e as empresas que pretendam responder aos desafios propostos por parceiros da Aliança têm acesso livre e gratuito à iniciativa, explicou Rui Serapicos. O responsável acrescenta que, “em função da tipologia do desafio e da correspondente taxa de esforço, é construído um “challenge case” podendo a Aliança aceitar ou não apoiar uma determinada empresa nesse mesmo desafio.

Os Patronos são, por norma, entidades estatais ou outros ecossistemas organizacionais que apoiam a Aliança. Por fim, os patrocinadores/patronos “têm condições especiais de acesso e networking que são desenhadas em função da capacidade de acompanhamento dos desafios e da aplicabilidade das soluções que dão resposta a esses desafios”.

Membros da Aliança Portuguesa de Blockchain

Promotor: CIOnet Portugal;
Patronos: IAPMEI, AICEP, AMA e BCSD
Parceiros tecnológicos: IBM e a IP Telecom
Parceiros académicos: Católica Lisbon School of Business & Economics, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Instituto Superior Técnico, ISEG, Porto Business School e a Universidade Lusófona.
Outros parceiros principais: Abreu Advogados, Associação Portuguesa de Seguradores, EMEL, Fidelidade, REN e Vodafone.

Nota: informação de membros relativa a 29 de março.

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