Começava pelo início e pedia-lhe que me falasse um pouco do seu percurso profissional.
Sou licenciada em direito, essa é a minha grande formação de base, embora eu acredite, e pratique, um principio que é que temos que nos formar e estudar ao longo da vida, até porque o mundo em que vivemos se transforma muito e tem áreas tão interessantes de conhecimentos que nos é sempre útil e valioso procurarmos conhecer mais.
E portanto, nesse sentido estudei várias matérias ao longo da minha vida, muito centradas na área da gestão e organização, quer de empresas, quer do sector não lucrativo onde estive durante muitos anos.
Quando acabei o meu curso de Direito fiz aquele percurso tradicional e fui estagiar para um gabinete de advogados. Mas ao mesmo tempo eu era curiosa (sou curiosa) e fui começando a colaborar com instituições culturais nos meus tempos livres. Tive o prazer de assistir ao nascimento de várias organizações de referência no Porto, que é a minha cidade Natal. E assim em regime de voluntariado fui-me juntando a essas áreas, também por força de um conjunto de amigos e de pessoas com quem me relacionava.
Estava no 5.° ano de Direito quando comecei a colaboração com a associação industrial portuense, uma grande escola de vida profissional e ao mesmo tempo fui também prestando colaborações aqui e ali em teatros e outras entidades sempre ligadas à área da cultura.
Resolvi entretanto mudar de cidade, sendo que a cidade do Porto é a cidade do meu coração e Lisboa a minha cidade de eleição. Mudei-me para Lisboa em 1994 onde ainda trabalhei durante algum tempo na associação industrial portuense e depois tomei uma decisão importante na minha vida, pensei: bom eu que gosto tanto das artes e da área da cultura enquanto consumidora, interessa-me também uma outra questão que é perceber porque é que os instrumentos e ferramentas de gestão de outras organizações que conhecemos no domínio das empresas, não se podem aplicar com resultados semelhantes a outro conjunto de recursos que temos disponíveis para aplicar à prossecução de certos fins.
E foi por aí que comecei a interessar-me e a dedicar-me à organização das instituições desse sector e por aí fiz muitas coisas. Estive no teatro de ópera, que é uma jóia do nosso património, depois tive oportunidade de trabalhar no gabinete da Comissão Europeia em que fazíamos, quer a representação dos interesses do sector português em Bruxelas, quer a divulgação em Portugal dos mecanismos de financiamento europeus para o sector das artes e da cultura.
Entretanto fui chamada para outras funções e fui trabalhar para o centro cultural de Belém, que é gerido por uma fundação e onde me foram pedidas responsabilidades na área da gestão administrativa e financeira, na área comercial, gestão de operações e na área jurídica, que são os territórios onde tenho vindo a acumular experiência e conhecimento.
Passei lá 6 maravilhosos anos da minha vida de trabalho, com muitos desafios e questões interessantes para me debruçar e resolver, até que chegou uma altura em que o desafio novamente me bateu à porta e decidi aceitar e assumir as funções de directora-geral da APED.
Depois de ter passado por tantas áreas e funções, o que considera o maior desafio até hoje?
Sabe que em relação ao maior desafio, eu não gosto de responder assim. Sabe porquê? Porque acho que nós vamos sendo desafiados na vida em diversos contextos e em diversas situações e temos é que ter uma atitude de abertura para aceitar o desafio. E portanto para mim a questão é: termos uma certa disponibilidade para sermos desafiados e depois corrermos muito atrás do desafio e sermos capazes de o superar.
Tenho o grato poder de poder afirmar que tive vários grandes desafios ao longo da vida e de uma maneira ou de outra, umas vezes melhor e outras vezes piores, fui sempre sendo capaz de os superar.
Mas há de facto um ponto de viragem na vida, se assim lhe quiser chamar, que foi quando decidi mudar de cidade e fazer toda uma ambientação a uma cidade nova. Isso foi um desafio que eu procurei e apostei e que ainda hoje me faz sentir bem e confortável.
E a oportunidade de ser directora-geral da APED surge como?
Volto-lhe a responder quase do mesmo modo que o fiz anteriormente. Quando nós cultivamos uma atitude de uma certa abertura e quando nos predispomos e estamos alerta para sermos desafiados mais tarde ou mais cedo os desafios acabam por surgir de uma maneira ou de outra. Neste momento da minha vida o desafio que se colocou foi exactamente ser directora-geral da APED, mas é assim que eles surgem. É uma atitude.
Que expectativas tem em relação a esta função?
As normais. As expectativas à partida e logo no início do caminho são sempre grandes. Mas mais do que falar de expectativas gosto de falar de resultados. Sempre fui uma pessoa orientada para resultados e portanto acho que o que é mais interessante é que após um tempo passado, porque apesar de tudo estamos a conversar ao 12.° dia em que estou em funções, possamos ter tempo para falar de resultados e de avaliações de caminhos e percurso.
De qualquer das formas, a minha predisposição é para poder contribuir para que a APED e o conjunto dos seus associados cumpram a sua missão, quer a estatutária, quer a missão que se vai propondo e renovando à medida que os tempos vão passando. Com um compromisso grande com aquilo que são os valores que são defendidos pela associação na defesa do livre comércio, da livre concorrência, ao mesmo tempo que me parece importante e fundamental que a associação esteja presente na sede de elaboração de processos legislativos e de tudo aquilo que são decisões das autoridades públicas, quer a nível nacional, quer a nível internacional. E aqui refiro-me à plataforma europeia, que é um território hoje em dia natural para estes assuntos, e portanto é da responsabilidade da associação estar presente e ter capacidade de dialogar e construir soluções juntamente com as autoridades que sejam capazes de informar da actividade que os vários associados, independentemente da sua natureza, mas cumpre-lhe ter um papel de acrescentar valor nesses processos, a favor dos seus associados. E por outro lado também me parece importante que a associação passe a mensagem de que este grande esforço de modernização que toda a distribuição e comércio moderno têm feito é de facto exemplar e é um contributo importante na modernização do país, sendo que esta mudança é muito orientada para o consumidor e que é facilitador do seu bem-estar e vida.
Esta procura de transferir também para o consumidor um conjunto de benefícios importantes e que resultam da actividade e da maneira de estar desta indústria, são também obrigação da APED.
Por último, perguntava-lhe como é que olha para esta área da Distribuição?
A visão que lhe possa dar agora é necessariamente uma visão de uma qualidade de consumidora e de curiosa, que resumiria dizendo que a Distribuição contribuiu muito para a modernização do comércio português e para a alteração até de hábitos das famílias consumidoras, porque de facto é verdade que hoje em dia o acesso à nova forma de comerciar é uma forma mais confortável e abrangente e mais útil para o consumidor. Seguramente que a distribuição contribuiu para transformar o país. O país não é o mesmo.