A viver um novo período economicamente adverso, os portugueses estão a reagir à crise económica de forma racional, visitando mais vezes os espaços comerciais, mas trazendo menos valor por cesta de compras.
Os dados são esta quarta-feira analisados pela Centromarca, lembrando a associação que “as pressões inflacionistas estão a fazer subir o custo de vida, desafiando as famílias portuguesas a adotar novas e diferentes estratégias para fazer face às despesas de consumo”. Neste sentido, defende esta organização que “o mercado do Grande Consumo enfrenta agora um consumidor cada vez mais cauteloso e seletivo.”
Servindo-se dos dados da Kantar, a Centromarca explica que “a viagem do consumidor começa muito antes do ato de compra, sendo durante esta fase preliminar que o êxito da marca pode ser influenciado por campanhas de comunicação, bem como pela adoção de diferentes estratégias que permitam ao comprador ter um maior controlo sobre os gastos mensais”.
Assim, o estudo elaborado pela consultora revela que 60% dos portugueses faz uma lista de compras antes de sair de casa, mais 4% quando comparado com o período homólogo, com o intuito de controlar os gastos e diminuir as compras por impulso. Paralelamente, 69% dos portugueses revela que prefere comprar em lojas de proximidade, seja de casa, seja do local de trabalho, traduzindo-se assim como mais um fator determinante para a escolha da insígnia a visitar, ainda antes do consumidor se dirigir à loja.
A análise da Kantar revela ainda “que os consumidores optam por um maior leque de produtos quando se dirigem às lojas de maior dimensão, como os hipermercados, como sortidos mais alargados. No entanto, são estes os mais penalizados com a perda de volume de compras, ao contrário das lojas de sortido mais curto, que são menos penalizados em termos de quebra de volume por ato de compra e beneficiam de visitas mais frequentes por parte do consumidor.”
E o cabaz de compra?
Quanto aos produtos escolhidos, explica a cantar que o cabaz de compras dos portugueses é composto, principalmente, por categorias como frutas, legumes, pão e pastelaria, sendo estes os produtos que marcam mais fortemente os cestos para as lojas de sortido mais curto, enquanto os cestos para as lojas de maior dimensão incluem mais fortemente carne, mas também produtos como o peixe, marisco, o arroz ou o café torrado.
“O consumidor, empurrado pelas dificuldades financeiras que enfrenta, voltou a repartir as suas compras por um número mais elevado de lojas e de insígnias, sempre em busca das melhores oportunidades que permitam manter um perfil de consumo tão próximo quanto possível do habitual, mas limitado pelo impacto da inflação na sua carteira”, indica Marta Santos, Clients and Analytics Director da Kantar em Portugal.
“Por outro lado, uma análise feita à perceção da qualidade das marcas demonstra que 56% dos portugueses considera que as marcas de distribuição uma qualidade similar à dos produtos das marcas de fabricante, revelando um aumento cada vez maior da quota de mercado para estes produtos a par da crise inflacionista que se tem vindo a instalar no país. Destacam-se os produtos de marca das insígnias de hipermercados que contribuíram com mais de 50% para o crescimento do consumo de marcas próprias desde o ano de 2019”, explica-se.
“A quebra do rendimento disponível das famílias está a gerar um triplo efeito negativo sobre o mercado: uma quebras das quantidades compradas, uma degradação de valor e qualidade dos produtos comprados e uma transferência muito acentuada da compra dos produtos de marca de fabricante para os das marcas próprias dos distribuidores e todos estes fenómenos estão em forte aceleração”, refere Pedro Pimentel, Diretor Geral da Centromarca, que acrescenta “ser necessário ler com atenção os dados de mercado, quando os valores de vendas são fortemente impulsionados pela inflação, que gera, nos observadores mais desatentos, uma falsa sensação de crescimento”.