Mehdi Addag quer Portugal como plataforma do seu negócio do Óleo da Argão, fora de Marrocos. Este produto raro, que apenas nasce numa zona específica daquele país magrebino quer conquistar o gosto dos consumidores portugueses. Conheça a estratégia da empresa Zad.
Quando foi fundada a empresa Zad?
A Zad Inc foi fundada em 2014 em Portugal, a YAZ Social Ecologic Innovation em Espanha foi fundada em 2009 e a empresa de Marrocos existe desde 1994.
Mas é uma empresa marroquina, espanhola ou portuguesa?
A empresa que gere o mercado português é 100% portuguesa, posteriormente – e estamos a trabalhar nesse sentido – vai gerir todo o negócio fora de Marrocos, colaborando a 100% com empresas portuguesas. O produto que entregamos agora não é português – uma vez que o óleo não pode ser fabricado em nenhum país além de Marrocos – mas todo o resto do processo é 100% português!
Em termos de resultados financeiros, como correu 2017 e como está a correr 2018?
2017 foi um ano interessante. Para 2018, e se consideramos o curto prazo, será um ano difícil mas, se analisarmos a médio e a longo prazo, e o que tem sido feito estrategicamente, estruturalmente e de operações, é um ano excecional. E por vários motivos: fechamos uma parceria com Grupo Novo horizonte (distribuidor com mais de 20 anos no mercado português de distribuição de alimentação – suplementos e cosmética natural) que nos vai permitir estar em toda a geografia de Portugal além de começar a ganhar credibilidade entre empresas portuguesas.
Além disso, o Grupo Novo Horizonte tem uma ambiciosa estratégia em Portugal ao contar com clientes portugueses em várias lojas: Celeiro, Wells, grandes supermercados, Corte Inglés, etc. Em segundo lugar, a execução do novo modelo de produção (produzir óleo em Marrocos e todo o resto do processo em Portugal) está a ser um êxito. O novo sistema funciona exatamente como foi estudado e executado, o que vai permitir uma escalabilidade importante. Agora podemos oferecer o nosso produto com a nossa garantia de qualidade em tempos realmente curtos, o que é estratégico face à concorrência.
Este novo sistema levou cinco meses, por isso não foi possível dar muita atenção à parte comercial e de comunicação. A partir de agora a nossa única preocupação será o branding e a componente comercial.
Que novidades estão a preparar para breve?
A nossa novidade é regressar aos tempos em que o que consumimos não tem químicos e componentes maus. A novidade é voltar à tendência de que as pessoas se preocupam consigo e consomem produtos que fazem bem! Uma inovação mais tangível é o cheiro que aplicamos aos nossos produtos, não apenas com a função de dar cheiro, mas também de benefício extra para a saúde.
E em termos de segmento alimentar, onde se posiciona o Óleo de Argão e como pode ser utilizado?
No segmento alimentar, o azeite de Argão é um produto com um preço entre 18 a 24€ por unidade de cerca 250 ml, isto em Portugal. É barato face a outros países e tem um valor mais alto que o azeite de azeitona. E tem mais propriedades saudáveis, é um produto para paladares mais exigentes, o sabor é verdadeiramente bom, a textura … e será mais fácil comercializar no segmento gourmet.
Onde estão presentes os vossos produtos? Lojas próprias, retalho alimentar, lojas gourmet?
Neste momento estamos presentes em lojas de produtos naturais, de cosmética natural, de produtos bio, e em breve vamos dar a possibilidade de comprar na nossa página oficial e na página oficial do distribuidor, com todas as localizações onde se pode adquirir nossos produtos. Ter uma loja própria não está, neste momento, na nossa agenda.
São um concorrente do azeite?
Do meu ponto de vista não. Ambos os produtos são bons e saudáveis. O nosso é diferente e exótico, mas ambos os produtos podem coexistir. Honestamente não acredito que sejam concorrentes por vários motivos, seja pelo sabor, produção, disponibilidade, usos, etc.
Como pensam que o consumidor português vai reagir ao vosso produto? E em relação a chefs, estão a trabalhar com eles?
O consumidor português tem um paladar desenvolvido, gosta de comer e desfruta disso, por isso acredito que o nosso trabalho e dos chefs será o de falar mais e ter criatividade para começar a incluir azeite de Argão nos pratos existentes, ou inventar novos pratos. A partir do momento em que os consumidores saibam o que fazer com o produto, e a nossa comunicação direta tenha o efeito desejado, acredito que podemos ter êxito no mercado português.
A ideia passa por trabalhar com chefs portugueses para produzir conteúdo e para apoiar os produtos, mas ainda não tivemos o prazer de colaborar com nenhum chef de momento. Nesta fase do nosso projeto, estou a controlar absolutamente tudo e são milhares de detalhes a que tenho de prestar atenção. Depois disso, cada departamento irá fazer o seu trabalho sem ser limitado por mim, acredito que uma vez que o sistema e o processo estejam totalmente funcionais, vou ter muito mais tempo para reforçar a parte de cosmética e alimentar, por isso até agora não tive tempo para poder reunir com chefs.
“Em breve vamos dar a possibilidade de comprar na nossa página oficial e na página oficial do distribuidor com todas as localizações onde se pode adquirir nossos produtos.”
Qual o objetivo de vendas para 2019?
Que os consumidores reconheçam a marca e tenham a certeza que compram o melhor. Prefiro não comentar nem gosto de fazer previsões, neste momento estou com a filosofia de que tenho que fazer melhor que ontem e aperfeiçoar o máximo de detalhes possíveis.
E na parte não alimentar? Qual o tipo de produtos que têm e onde estão disponíveis?
Temos, obviamente, azeite de argão premium quality 100% puro e feito à mão (exatamente como se fazia há muitos anos, só modernizamos e higienizamos). E temos Amlou: uma mistura entre amêndoa tostada com mel e azeite de argão alimentar – versão super saudável e natural do creme de amendoim. Vamos começar a comercialização destes produtos em Portugal no final do terceiro trimestre ou início do quarto.
Como projetam a evolução da relação dos portugueses e o consumo do óleo de Argão?
Acredito que depende de nós: se oferecemos conteúdo e produtos de qualidade é inevitável ter êxito e consumo, as pessoas sabem que o produto faz bem, o preço que pagam é por um produto premium – um produto que verdadeiramente ajuda a milhares de pessoas e produto natural. Agora, demora o seu tempo mas essa é a nossa filosofia: honradamente vamos a oferecer o melhor possível com humildade, ambição e bom gosto! Temos surpresas preparadas e acreditamos saber como trabalhar no mercado português.
O Óleo de Argão extrai-se do fruto produzido pela árvore de nome Argania Spinosa, pertencente à família das Sapotaceae. O fruto assemelha-se a uma azeitona, embora de maior dimensão, 3/4cm comprimento por 1,5/3 cm de largura. A sua cor varia entre o verde e o amarelo, tornando-se negra quando madura. A pele do fruto é espessa e grossa, protegendo o interior.
No interior podem ser encontradas até três sementes, de forma amendoada, com o qual é produzido o óleo de Argão. Cada árvore produz aproximadamente entre 4 a 6kg de fruta por colheita.
«Sabendo que são necessários cerca de 30kg de fruta para produzir 1 litro de óleo, cada árvore produz por volta de 5 colheres de sopa de óleo o que, em comparação com o azeite convencional, em que cada 5/10kg de azeitonas consegue produzir cerca de 1 litro, se traduz numa diferença significativa.», sublinha Medhir.
Para o processo de obtenção das sementes, o fruto é esmagado à mão, levando 20 horas de trabalho para perfazer uma quantidade suficiente para produzir um litro de óleo. Estima-se que anualmente a produção não ultrapasse os 3 a 4 milhões de litros – quantidade muito reduzida quando comparada com o óleo convencional (2.800 milhões). Para além de todo o processo produtivo, este óleo conta ainda com outras razões pelas quais o seu preço é tão elevado: a Argania Spinosa é uma árvore que se encontra em vias de extinção, por crescer espontaneamente e é apenas encontrada no Sudoeste de Marrocos.
Outro dos motivos, que leva ao elevado valor comercial do óleo de Argão são as suas propriedades de carácter medicinal, nutritivas e cosméticas.