A sustentabilidade e o compromisso ambiental são um imperativo para todas as indústrias, mas atinge o seu expoente máximo, ou pelo menos deveria dado o impacto da sua atividade, no sector da logística. Não é de estranhar que este sector esteja bem à frente dos outros em termos de investimento, tecnologia e inovação aplicada a estas áreas, sobretudo com o crescimento exponencial do comércio eletrónico, que adiciona ainda mais complexidade às já complexas cadeias de abastecimento.
No que diz respeito ao comércio eletrónico, a título de exemplo, as devoluções de produtos aumentaram quase 20% nos últimos anos, colocando uma pressão considerável na cadeia. Para resolver o problema, é necessário, entre outras coisas, abordar novos processos de gestão da logística inversa e resolver a falta de integração entre canais.
Todos os pontos de uma cadeia de abastecimento devem ser orientados para garantir a máxima sustentabilidade. Desde a conceção dos armazéns que procuram a maior eficiência no consumo de energia (painéis solares, luzes LED, etc.) até à utilização de energias limpas nas frotas de transporte e à otimização das rotas para não sobrecarregar a última milha. Isto inclui a dinâmica e o funcionamento dos armazéns (consumo de energia no edifício, consumo de água, etc.). E isto apenas para mencionar os macroespaços; há centenas de fatores a ter em conta.
Um deles, e de enorme importância, é a área das embalagens, que tem sido objeto de debate no sector nos últimos anos, devido à pressão social e legislativa para restringir a utilização de embalagens de utilização única, bem como ao crescente controlo sobre a utilização de plásticos e à preocupante escassez e aumento do preço do cartão. As soluções de embalagem sustentáveis são cada vez mais procuradas e estão a ser desenvolvidas de diferentes formas. A circularidade, as embalagens reutilizáveis e o suporte tecnológico são tendências fundamentais para reduzir os resíduos e manter os produtos e materiais em utilização durante o máximo de tempo possível.
Outro aspeto a ter em conta é que, em média, cerca de 24% do volume de uma embalagem utilizada no comércio eletrónico é ocupado por ar. Traduzido para o espaço necessário em camiões e contentores para o transporte, isto significa que, em cada envio, até 50% do espaço total nas câmaras é desperdiçado. Esta situação obriga à utilização de mais frotas e contentores para entregar as mercadorias, o que, por sua vez, encarece o transporte e aumenta a pegada de CO2.
Para fazer face a este desafio, existem opções muito interessantes, como o fabrico de embalagens à medida just in time, uma solução baseada em IA que utiliza algoritmos para determinar as dimensões da embalagem e o material de proteção necessário para cada envio e que tem mesmo a capacidade de dividir uma encomenda em vários envios, se isso reduzir os custos e a pegada de carbono. As primeiras estimativas do projeto-piloto que desenvolvemos mostram não só uma redução na quantidade de cartão utilizado, como também uma maior eficiência ambiental e poupanças até 35% nos custos de envio.
É preciso mudar as mentalidades e os hábitos
Poder-se-ia pensar que todas as soluções sustentáveis têm de ter grandes orçamentos. Não é esse o caso. As PME que utilizam o ecommerce não dispõem muitas vezes dos recursos ou da procura necessários para investir em soluções de grande escala, mas podem tirar partido das tendências prevalecentes para obter uma vantagem competitiva. Por exemplo, agrupando encomendas de diferentes clientes numa única entrega, e algumas empresas já oferecem a opção de envio numa caixa de cartão pré-utilizada em perfeitas condições. Quanto à logística inversa, a falta de integração entre o comércio online e outros canais reduz as possibilidades de reabastecimento e revenda de artigos devolvidos. A conceção de fluxos e ciclos de produtos da forma mais eficiente e ecológica é fundamental para responder a este desafio.
 Por outro lado, não podemos esquecer que ter uma cadeia de abastecimento com emissões nulas apenas aumenta os preços, em média, em cerca de 4%. Além disso, muitos consumidores online (especialmente – mas não só – os Millennials e a Geração Z) não só não se importam com este pequeno incremento, como preferem um prazo de entrega ligeiramente mais longo se isso garantir um impacto ambiental reduzido.
Os números não mentem: segundo um estudo do Produto do Ano, sistema de avaliação que distingue produtos e serviços pela sua inovação, os consumidores portugueses dão cada vez mais importância à sustentabilidade nas suas opções de compra. De acordo com as conclusões desta pesquisa, 25% dos consumidores online em Portugal consideram que a sustentabilidade é um fator relevante quando procuram novos produtos e estão cada vez mais conscientes das suas escolhas de consumo, não se importando de pagar um pouco mais por produtos de qualidade e que sejam sustentáveis.
Com isto, as empresas estão a ser pressionadas a procurar formas de tornar os seus produtos e processos mais ecológicos, muitas vezes centrando-se nas suas cadeias de abastecimento, vendo-se também obrigadas a encetar esforços no sentido de informar os seus clientes sobre o que está a ser proposto e quais as melhorias específicas e os indicadores que estas propostas implicam para o seu impacto ambiental.
Apostar numa imologística de emissões zero, na reciclagem, na adoção de novas ferramentas de otimização de embalagens, materiais e tecnologias de manipulação, na otimização do carregamento das frotas e na eletrificação progressiva das mesmas, bem com ainda numa logística inversa ágil e limpa são algumas das muitas medidas que um prestador de serviços de logística integrada não deve ignorar.
Mas sejamos claros: o sucesso dos avanços logísticos em matéria de sustentabilidade deve ser acompanhado por uma verdadeira mudança de mentalidade e de hábitos dos clientes e dos cidadãos. É essencial que todas as partes estejam envolvidas se quisermos avançar para uma logística verdadeiramente sustentável.

André Oliveira, Account and Business Management da DHL Supply Chain em Portugal