Dois estudos recentes — o relatório global The State of AI, da consultora McKinsey, e o espanhol XV Barómetro Del Círculo Logístico del SIL 2025 — revelam o quão a gestão da cadeia de abastecimento nas organizações se tem modernizado nos últimos tempos.
Apesar de estes documentos analisarem contextos diferentes — um de âmbito geral e outro relativo ao caso particular da Espanha —, podemos retirar uma conclusão comum: quem aposta na Inteligência Artificial (IA) na logística já está a usufruir de benefícios reais.
Segundo o trabalho da McKinsey, a aplicação de IA — Tradicional (apoia na tomada de decisão com base em dados reais) e Generativa (cria conteúdo escrito, áudio, gráfico…) — neste ramo de atividade está a alavancar aumentos de receita em 67% das empresas inquiridas, enquanto 61% espera uma redução dos custos.
Mas, atenção, estes ganhos não decorrem apenas do acesso a ‘chatbots inteligentes’ (como o ChatGPT). Estes também são provenientes de organizações que refizeram os seus processos de ponta a ponta, incorporando IA nas várias etapas: agilização na resposta a ruturas, reabastecimento, previsão de procura ou até desenho da cadeia de abastecimento.
Espanha não está a testar, está a implementar
Se a nível mundial, a IA é uma aliada poderosa para qualquer setor, Espanha segue na mesma direção e com valores que impressionam. De acordo com o XV Barómetro, 91,7% dos responsáveis de logística admite que esta inovação pode otimizar significativamente as operações. Mais do que isso: 44,9% já recorre a ferramentas de IA e 31,4% está em fase de introdução. Ou seja, mais do que um plano teórico, Espanha está a levar a cabo a mudança com ações concretas.
Na prática, estes números mostram que o país vizinho começa a alinhar-se com as tendências globais e que está a ganhar escala e experiência e, sobretudo, celeridade. Por cada entidade portuguesa a perguntar “como iniciar a utilização de IA?”, há uma espanhola a colher ‘louros’ do upgrade dos seus sistemas e processos.
Portugal já começou a dar os primeiros passos em IA, mas precisa de arriscar mais
 Apesar de ainda não termos um retrato tão robusto como o dos Nuestros Hermanos, em rigor, a realidade nacional não é um deserto tecnológico. Isto porque há cada vez mais empresas a investir em dados, em modelos analíticos e em IA para tomar decisões fundamentadas e alcançar melhores resultados.
Quem acompanha, há mais de uma década, a inserção de Inteligência Artificial nas cadeias de abastecimento sabe que existem organizações portuguesas que, bastante antes de se falar de IA Generativa, já acreditavam no poder de definir estratégias com base em evidência científica.
E o crescimento desta aposta ao longo dos últimos anos prova que os ganhos obtidos — escolhas mais rápidas e/ou serviços logísticos mais organizados, eficientes e de qualidade — são tangíveis e entregam verdadeiro valor aos negócios.
“É necessário criar um sentido de urgência nos que hesitam em usar IA”
Há cerca de dois anos e meio que se verifica que a consciência da necessidade de adoção de IA — tanto Tradicional como Generativa — disparou exponencialmente, sendo evidente que o salto entre a curiosidade e a execução efetiva está a acontecer em muitas empresas. Todavia, para irmos mais longe, precisamos de visibilidade coletiva.
Um estudo exaustivo em todo o território permitirá avaliar de forma transversal o impacto destas tecnologias — comparando resultados ‘da casa’ com os de outros países — e, mais importante, criar um sentido de urgência entre as entidades que ainda hesitam.
Porque, se é verdade que já abrimos este caminho, também é verdade que quem fica parado acabará ultrapassado. Portugal tem talento, visão e acumula experiências bem-sucedidas, o que nos confere uma ótima tração. Agora, para chegarmos ao patamar de Espanha e de outras realidades, falta ganhar velocidade.