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Sustentabilidade

DH Lab | SUSPLUS: A start-up lusa que quer fazer da traceability a chave da sustentabilidade

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A start-up lusa que quer fazer da traceability a rede de segurança na cadeia de valor

Um doutorando, um ex-IKEA e uma ex-Sonae vão a um evento tecnológico. O que acontece? Uma start-up! Foi praticamente assim que começou a Susplus, uma jovem empresa que começou a ser pensada nos corredores da Faculdade de Economia do Porto (FEP) por André Campos, e a que se juntaram Manuel Silva e Inês Vasconcelos. Eles são, aliás, os rostos por trás do embrião empresarial que quer fazer da traceability uma rede de segurança para a descarbonização dos negócios, permitindo explorar a eficiência produtiva ao longo de toda a cadeia de valor, mas também intervindo na compensação ambiental com impacto local. Vamos conhecer esta jovem empresa que está a dar os seus primeiros passos com a indústria conserveira e que está instalada na UPTEC Mar.

Jornalista: Sérgio Abrantes | Fotografia: Igor Martins

A inovação e a sustentabilidade são temas cada vez mais presentes no setor retalhista e das marcas e também crescentemente indissociáveis. Com as soluções tecnológicas a permitirem cada vez mais visibilidade sobre quase todos processos, com o decréscimo de custo para instalação de soluções, a indústria tem vindo a apostar na sua modernização em vários aspetos. Neste contexto, a revista Distribuição Hoje esteve à conversa com André Campos e Manuel Silva, co-fundadores da startup Susplus, uma tecnológica que está a desenvolver uma solução holística que conjuga traceability e sustentabilidade.

No mais recente artigo do DH Lab levamos, assim, os nossos leitores até à UPTEC Mar, onde fomos conhecer em detalhe o trabalho que está a ser desenvolvido por esta jovem empresa, observando de perto como está a ser conciliada a tecnologia blockchain e a inteligência artificial num setor tão tradicional, mas em progresso acelerado, como o setor das pescas, mais especificamente a indústria conserveira, a indústria para a qual a Susplus está a desenhar um primeiro ‘piloto’ com que quer depois ganhar ‘asas’.

Venha connosco nesta viagem que cruza os corredores da FEP e a UPTEC Mar.

 
SusplusDe um Ph.D. a uma start-up de ‘malha apontada’ ao impacto ambiental
A Susplus nasceu da vontade de trazer mais transparência e sustentabilidade para o setor retalhista. André Campos, o fundador, com uma vasta experiência em comércio internacional e supply chains, e Manuel Silva, com um background em engenharia eletrotécnica e gestão de inovação, uniram forças para criar uma solução que pudesse responder às necessidades do mercado.

A ideia começou a ser burilada nos corredores da Faculdade de Economia do Porto (FEP), onde André Campos está correntemente a completar um Ph.D.. Com um background que o levou entre outros para a indústria do calçado, André percebeu que havia um gap no mercado de sustentabilidade, sendo que um dos principais obstáculos era a traceability dos produtos.

 
Com a ideia ainda em ebulição, juntou-se a Manuel Silva, que conheceu num evento tecnológico, trazendo para o projeto uma nova camada tecnológica. Mais tarde juntou-se Inês Vasconcelos, uma ex-Sonae que acrescentou a camada prática da sustentabilidade à solução que estão a desenhar em conjunto e que está a ser ‘pilotada’ com as Conservas Norte Portugal.

Tecnologia ao serviço da sustentabilidade: A Susplus combina blockchain e inteligência artificial para mapear a pegada de carbono em toda a cadeia de valor, promovendo a transparência e a eficiência nos processos produtivos.

“A ideia surgiu quando percebi que havia uma grande necessidade de trazer mais luz sobre a traceability dos produtos nas supply chains. Surgiu-nos como uma pergunta: como é que conseguimos dar um bocadinho mais de luz sobre os processos produtivos? Como é que conseguimos impactar positivamente a indústria para ter processos mais sustentáveis?”, explica André Campos. “Queríamos criar algo que pudesse realmente impactar positivamente a indústria e ajudar as empresas a serem mais sustentáveis. Muitas vezes o que podemos impactar são as emissões de scope 1, mas outra coisa é quando começamos a influenciar nas cadeias longas, em que temos múltiplos fornecedores, todos interligados e muitos deles internacionais”, acrescentou.

 
Mas como se desenha uma solução diferenciada num mercado tão saturado de soluções e certificações, era a pergunta que nos ecoava na cabeça. Mas a resposta estava pronta do outro lado: “Começar por auscultar o mercado”. Quisemos perceber o que é que o mercado queria, onde poderia haver segmentos interessantes para abordar este mercado e depois construir a nossa solução com parceiros. E foi o que aconteceu naturalmente. Eu vinha da indústria de moda, portanto as primeiras portas a que fui bater foram essas. Mas a área que mais mostrou interesse neste tipo de soluções foi a área da pesca e aquacultura. O que acabou por ser muito interessante porque começámos a falar e desenvolvemos uma parceria com as Conservas Portugal Norte, que tem sido o nosso parceiro a desenvolver o MVP (minimum viable product)”, explicou Campos.

A tecnologia ao serviço das empresas e… do ambiente
Com o parceiro para testes de pontapé de saída identificado, foi altura de começar a pôr em prática a solução. E, no concreto, a Susplus tem como grandes ‘novidades’ o facto de aliar blockchain e IA para ajudar em todo o processo de mapeamento da pegada ao longo da cadeia.

 
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“Temos tido uma visão muito holística acerca do produto. Existem vários concorrentes que pegam no processo produtivo e se focam apenas numa componente. Nós temos uma visão mais holística. Queremos identificar emissões, mapear tudo, rastrear e depois ligar as várias componentes do processo. Isto vai permitir otimizar os processos, a fazer redução de emissões e depois compensação”, detalha Manuel Silva.

“A blockchain é a melhor tecnologia que podemos usar para trazer transparência e segurança para os processos”, afirma Manuel Silva. “Ela permite que os dados sejam auditáveis e verificáveis, o que é crucial para ganhar a confiança dos consumidores e das autoridades”, acrescenta. “Todos os dados que nós vamos recolher vão ser emitidos para blockchain. Os dados são todos acedíveis a auditores e permite depois certificar as empresas em termos de compliance, porque todos os passos são verificáveis através da tecnologia blockchain”, explica.

MVP com indústria conserveira: O primeiro piloto da startup está a ser desenvolvido com a Conservas Portugal Norte, focando-se na rastreabilidade e sustentabilidade na indústria das pescas.

Além disso, a Susplus também utiliza Inteligência Artificial para ajudar as pequenas e médias empresas a identificar e colmatar gaps nos seus dados. “Muitas vezes, as PMEs não sabem onde estão os seus dados ou como podem otimizar os seus processos”, explica André Campos. “A nossa solução ajuda-as a identificar esses gaps e a tomar decisões mais informadas.”

A solução da Susplus inclui vários componentes, desde logo uma Calculadora e Dashboard de Pegada de Carbono que permite automatizar o rastreamento de emissões de Scope 1, 2 e 3 e fornece um painel em tempo real com análises detalhadas; Relatórios de ESG e conformidade, alinhados com padrões como GRI, CSRD, SEC, entre outros, com verificação de blockchain para auditabilidade; Passaportes Digitais de Produtos (Smart-ID), fornecendo dados verificáveis do ciclo de vida do produto para transparência total, bem como um Guia de Estratégia de Descarbonização, com recomendações impulsionadas por IA para ajudar as empresas a priorizar ações de sustentabilidade e, por fim; um Mercado de Compensação de Carbono que permite acesso a créditos de carbono certificados para compensar emissões, com transações registradas para rastreabilidade e transparência.

O Impacto da Solução no Setor Retalhista
A solução da Susplus já está a ser testada com parceiros do setor retalhista, como a Conservas Portugal Norte. “Estamos a desenvolver um MVP (Produto Mínimo Viável) com a Conservas Portugal Norte, que nos está a ajudar a testar e a otimizar a nossa solução”, explica André Campos. “O objetivo é criar uma solução que seja realmente útil para o setor e que possa ser escalada para outras indústrias.”

Manuel Silva acrescenta que a solução da Susplus também pode ajudar as empresas a adaptarem-se às novas regulamentações e exigências do mercado. “Com a nossa solução, as empresas podem identificar as suas emissões, otimizar os seus processos e compensar as emissões que não podem ser eliminadas”, explica. “Isso ajuda-as a estarem em conformidade com as regulamentações e a ganhar uma vantagem competitiva no mercado.”

Porém, a tecnologia blockchain é frequentemente associada a uma pegada carbónica elevada, mas a Susplus está a trabalhar para minimizar esse impacto. “Estamos a utilizar uma solução de blockchain empresarial que é mais eficiente e tem uma pegada carbónica menor”, explica Manuel Silva. “Além disso, estamos a explorar formas de compensar as emissões associadas ao uso da blockchain.”

DH LabA Susplus está, além disso, empenhada em desenvolver uma listagem de projetos na área da compensação da pegada carbónica, o que permitirá às empresas compensar as suas emissões de forma mais eficiente e com um impacto local ao invés de ‘internacional’. ” O mercado do carbono voluntário em Portugal está a ser construído. Estamos a trabalhar com várias entidades para criar um mercado de carbono que seja realmente útil para as empresas e que possa ajudar a reduzir as emissões de carbono no setor”, explica André Campos.

O futuro próximo da Susplus
A Susplus está atualmente em fase de testes e espera expandir a sua solução para outras indústrias nos próximos anos. “Estamos a procurar investimento para podermos escalar a nossa solução e chegar a mais empresas”, explica André Campos. “O nosso objetivo é tornarmo-nos uma referência no setor da traceability e sustentabilidade.”

Solução completa de ESG: A Susplus oferece uma calculadora de carbono, dashboards em tempo real, passaportes digitais de produtos, relatórios ESG auditáveis e um mercado de compensação de carbono com impacto local.

Mas e o futuro da empresa? “O ecossistema de start-ups em Portugal tem vindo a crescer de forma acelerada, fruto do trabalho dos sucessivos governos. Mas é um ecossistema que tem ainda algumas fragilidades, nomeadamente na parte de funding… é muito difícil”, considera Campos, dizendo que a empresa está agora à procura de financiamento para acelerar o seu processo de crescimento com o objetivo de, talvez um dia, se tornar um dos próximos unicórnios portugueses.

Com um pé entre Portugal e países onde o ecossistema de start-ups está mais capitalizado, André Campos e Manuel Silva assumem que gostariam de manter ‘amarras’ em Portugal, estão dispostos a conversar e crescer com o feedback.

“Estamos abertos a ter contactos de empresas individuais, pessoas interessadas pelo tema, porque nós ao longo deste caminho temos ouvido muita gente. Há algumas opiniões que são mais interessantes, outras menos interessantes, mas temos aprendido muito, muito com esse feedback e com essa abertura que nós temos para expor a ideia a ouvir as pessoas”, finaliza André Campos.

A EQUIPA DA SUSPLUS
André Campos, CEO, tem mais de dez anos de experiência em gestão e vendas em diferentes categorias e uma relação próxima com o ambiente industrial em vários mercados. Para além da sua mentalidade empreendedora e corporativa, possui também uma abordagem de pensamento científico, fruto do seu doutoramento em curso em Estudos de Gestão e Negócios na FEP – Universidade do Porto.

Manuel Silva, CPO, conta com mais de dez anos de experiência em inovação corporativa, repartida entre grandes empresas como a Ikea e a Electrolux e projetos de menor dimensão ligados ao ecossistema de startups. Possui ainda mais de sete anos de experiência profissional na área da WEB3 em diferentes empresas.

Inês Vasconcelos, Chief Sustainability Officer, tem mais de seis anos de experiência em consultoria ambiental, docência e ensino, e é Mestre em Economia e Gestão do Ambiente pela FEP — Universidade do Porto.

 

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