Durante as últimas semanas, Portugal foi novamente afetado por um fenómeno extremo. Os portugueses ficaram sem eletricidade e sem telecomunicações durante praticamente 12 horas. Doze infindáveis horas onde os cenários mais catastróficos possíveis foram pintados. Primeiro, as “fast news” de alguns membros do governo apressaram-se a enumerar cenários possíveis, entre os quais, um ataque cibernético. Logo de seguida, nas parcas notícias que chegam, um incêndio no sul de França teria feito “rebentar” a rede, afetando Espanha e, por consequência da nossa interligação ibérica, Portugal. Depois, a falta de tudo que estava para vir e uma falta de nada que voltou para ficar com o regresso à normalidade.
E o que fizemos nas primeiras horas do nosso maior apagão da história? Privados de acesso aos ecrãs, os olhos dos portugueses detiveram-se nos “antigos” rádios. Houve uma corrida às “lojas do chinês”, onde se faziam filas para entrar, e rapidamente esgotaram-se pilhas e os velhinhos aparelhos durante anos abandonados nas prateleiras das pequenas e grandes lojas de bairro espalhadas por todo o país. O que se seguiu? No caos do regresso a casa… as habituais corridas ao supermercado. Água não podia faltar e, claro, os bens essenciais como enlatados também foram alvo de compras em massa. Depois, foi a vez de outro combustível: a gasolina. Mas a verdade é que, durante as quase 12 longas horas em que o país esteve em apagão, pouco faltou e agora temos todos de tudo em abundância em casa.
Feito o “retrato simplista”, poderia discorrer nas próximas linhas sobre a nossa (im)preparação para o caos. Não estamos, talvez por motivos cultuais, disponíveis para estar preparados e, quando o “caos” coletivo acontece, mesmo que por apenas 12 horas, entramos em modo de compra frenética, correndo para as superfícies comerciais.
No final, não nos faltou nada. Porquê? Porque o retalho, especialmente o alimentar, se mantém como a coluna vertebral de um país que, antes de correr para as esplanadas e jardins, vai às compras para garantir que nada falta.
Lembrando um período já ido, e que não devemos enunciar por ser de tão má memória, gostaria, ainda assim, de realçar a resiliência dos trabalhadores do retalho. Quando todos correram para casa, eles foram para a loja. Quando todos se apressaram a encher as prateleiras vazias das suas despensas, eles foram para os armazéns repor stocks. Quando a incerteza se instalou, eles seguraram o interruptor para que a luz não se apagasse.
O que sobra? Talvez a conclusão que devemos estar preparados para o inesperado, mas também que devemos confiar na infraestrutura e nos profissionais que, mesmo nas mais incertas circunstâncias, garantem que o essencial nunca falta. A resiliência dos trabalhadores do retalho é um exemplo a reter, uma demonstração clara de que, mesmo em tempos de crise, há quem esteja disposto a ir além para garantir o bem-estar de todos. E, embora poucas vezes falemos deles, poucas vezes reconheçamos os que servem a todos nós, um aplauso, mais uma vez, pela coragem de não deixarem ninguém sem “papel higiénico”.