Um estudo da Escolha Sustentável mostrou que os consumidores portugueses revelam uma consciência ambiental cada vez maior: 81% acreditam que as suas escolhas podem impactar o mundo e mais de metade assume responsabilidade na promoção do consumo sustentável, embora persistam obstáculos à mudança de hábitos.
De acordo com a análise, 37% dos inquiridos procura regularmente informação sobre a origem ou impacto dos produtos que adquire, enquanto 35% o faz de forma ocasional.
Para a maioria dos entrevistados, os valores mais ligados à sustentabilidade são a saúde e o bem-estar, bem como a justiça social (cerca de 70%), seguindo-se a ética nos negócios (53%). Já conceitos como consumo responsável, direitos dos animais e sustentabilidade ambiental foram destacados com elevada importância apenas por 50% dos inquiridos.
Alimentação no centro das preocupações
Segundo o estudo, a alimentação é o setor que mais preocupa os consumidores (20%), desde a escolha dos produtos até ao consumo consciente, sobretudo no esforço para evitar o desperdício. Para 39% dos inquiridos, a origem dos alimentos é uma preocupação frequente e para 22% trata-se de uma prioridade constante.
Ainda assim, este é também o domínio onde se verificam maiores desafios, marcados por fatores como preços elevados e uma oferta sustentável reduzida e pouco acessível.
Moda e fast fashion: um desafio persistente
Embora 51% dos consumidores tenha em conta critérios éticos ou ambientais na compra de roupa, a moda e o vestuário surgem como o segundo setor mais referido (17%) em termos de dificuldade em consumir de forma “consciente”.
As principais barreiras prendem-se com a escassez de opções sustentáveis no mercado, o facto de muitos produtos ecológicos não responderem às necessidades ou apresentarem preços elevados, e ainda a acessibilidade da fast fashion, que dificulta a transição para alternativas mais responsáveis.
Fatores que pesam na decisão de compra
Quando questionados sobre os fatores que mais pesam na decisão de compra, 48% dos portugueses apontam a qualidade e 34% o preço. Apenas 11% elege o impacto ambiental ou social como critério principal. Ainda assim, a maioria revela abertura para pagar mais por produtos justos, ecológicos e de origem local, sendo que apenas 7% afirma não estar disposto a suportar qualquer custo adicional por estes artigos.
A estes fatores soma-se a desconfiança em relação ao greenwashing, já que muitos inquiridos duvidam da veracidade das alegações ambientais das empresas, o que enfraquece a confiança nos produtos apresentados como sustentáveis.
Práticas sustentáveis do dia a dia
No quotidiano, as práticas sustentáveis mais comuns entre os consumidores são a poupança de água e energia (23%), a separação de resíduos recicláveis (23%) e a reutilização de embalagens (22%).
Já a compra de produtos sustentáveis (14%) e o recurso a transportes alternativos ao automóvel (13%) registam menor adesão. No entanto, 45% dos inquiridos afirma evitar produtos de empresas que contrariam as suas convicções, 51% fá-lo ocasionalmente e apenas 4% admite não os evitar.
Mudança de hábitos de consumo
No último ano, 25% dos consumidores reduziu a utilização de plástico, 23% optou por reparar ou reutilizar produtos em vez de comprar novos e 14% adquiriu artigos em segunda mão. No que respeita a equipamentos eletrónicos, 69% revela preferência por reparar antes de substituir por um novo.
Apesar dos desafios, 55% dos consumidores manifesta preocupação com o futuro do planeta e afirma já ter adotado hábitos de consumo consciente, como reduzir o desperdício alimentar, reciclar, comprar em plataformas de segunda mão ou reparar equipamentos eletrónicos. No entanto, alertam que esta mudança só será sustentável com maior acessibilidade, transparência e preços mais justos.