São muitos os especialistas a dizer que o e-commerce na distribuição alimentar é um negócio com pouca ou nenhuma margem de lucro. Mas, a acreditar nas palavras de Fábio Matos Cruz, um retalhista que seja puramente online tem vantagens junto do consumidor e em matéria de operação. A saber.
Quando e como nasceu o conceito da Waltz, e já agora de onde vem o nome?
O Waltz nasceu da minha experiência a morar fora – em São Paulo e Amesterdão, especificamente. Nesses dois lugares, o online está muito presente e o conceito de conveniência através desse canal é algo que há muito se consolidou. Voltando a casa (a Portugal), sete anos depois, senti que aqui faltava a conveniência a que já estava habituado em muitos dos serviços que usufruímos no nosso dia a dia. Supermercado é um deles. Pela própria complexidade operacional de um supermercado tradicional, cujo foco ainda é o offline, as ineficiências são inegáveis. Garantir stock na loja física, por exemplo, é talvez um dos mais penosos, tendo a agravante de, no caso de produtos perecíveis, apenas contribuir para o desperdício alimentar.
Cheguei à conclusão de que, enxugando a operação apenas para atuar no universo online, adquirindo produtos junto a fornecedores apenas quando existem encomendas, era a solução mais eficiente em todos os níveis.
Juntamente com essa necessidade de gestão mais eficiente do setor, impôs-se também um olhar mais cuidadoso sobre o papel do cliente no processo. É muito importante ouvir o consumidor, entender os seus hábitos, as suas preferências e necessidades. E isso é algo que se perdeu muito ultimamente – principalmente com o advento do online. Decidi que esse seria um dos nossos focos principais e daí surge o nome de Waltz – uma valsa entre nós e o cliente, em que ouvimos o cliente e, com isso, adicionamos ou alteramos produtos, ajustamos os horários de entrega, etc. Lançámos uma versão beta em dezembro passado, como teste para sentir o mercado, e, após um arranque positivo, a versão oficial foi para o ar na primeira semana de janeiro.
Quem está por detrás do vosso negócio e quanto investiram?
Até agora, a empresa foi 100% financiada por capitais próprios. O investimento inicial foi de cinco mil euros e temos na equipa uma pessoa responsável pelo marketing, outra pelo IT e eu cuido da parte operacional e logística.
Qual é o vosso modelo de negócio?
Fazemos entregas agendadas, e não on demand, pela própria dinâmica do setor. Compras de supermercado são programadas. O cliente já sabe, antecipadamente, que vai precisar repor os produtos que consome. Isso oferece uma janela de oportunidade, que nos permite não ter stock. Por isso, ao invés de adquirir produtos junto aos nossos fornecedores e esperar que os clientes os comprem (como numa operação offline tradicional), apenas os adquirimos quando, efetivamente, são encomendados.
Tendo a nossa própria rede de fornecedores, o markup é uma das nossas fontes de receita. Além disso, temos uma taxa de entrega para cobrir o custo da parte logística. Por enquanto a entrega é grátis, mas em breve vamos introduzir a taxa pelo valor simbólico de 1€.
Quem faz as entregas aos vossos clientes?
Por enquanto somos nós que fazemos. Queremos recolher feedback pessoalmente e conhecer melhor os nossos clientes. Ao mesmo tempo, já estamos a estudar a possibilidade de terceirizar essa componente para empresas de distribuição.
Com quantos clientes já contam?
Até agora, temos mais de 100 clientes na nossa base. O crescimento tem sido gradual, fruto de divulgação nas redes sociais e word of mouth.
Quem é o vosso público‑alvo?
O nosso público vai dos 30 a 55 anos de idade. Casais com rotinas atarefadas e mães que privilegiam conveniência representam a grande maioria desse total.
Atualmente estão só na região de Lisboa. Faz parte da estratégia irem para outros pontos do país?
Atuamos ainda numa zona restrita de Lisboa. O próximo passo é alargar à cidade inteira e consolidar o distrito. Numa escala maior, Porto está na mira para este ano.
Vão apostar no retalho não alimentar, ou não?
Embora tenhamos produtos de higiene e limpeza, o nosso foco será o retalho alimentar. A nossa grande aposta é nos produtos “bio”, com crescente procura e uma oferta ainda escassa nos canais tradicionais.
Como se diferenciam em termos de produto? E em termos de serviço?
Pelo facto de não termos a complexidade operacional/financeira de um supermercado tradicional, e também por termos a nossa própria rede de fornecedores, temos a vantagem de oferecer produtos a preços, em média, 10% mais baratos que os players tradicionais.
Em relação ao serviço, privilegiamos o cliente do primeiro clique ao ato de entrega. A conveniência é chave aqui. Diferenciamo-nos no custo dessa conveniência: taxa de entrega simbólica e valor mínimo de encomenda baixo (8€).
O retalho alimentar em Portugal tem players muito fortes, apesar de alguns deles ainda não apostarem no online. Como esperam meterem-se nessa ‘luta’?
O facto de os grandes players ainda se focarem no offline torna as suas operações mais custosas e complexas operacionalmente. Evitamos essas dores de cabeça apostando apenas no online, com entregas agendadas, sem stock e tendo controlo sobre os preços.
Para os que já apostam no online, o nosso diferencial é no custo dessa conveniência. A nossa taxa de entrega, que por enquanto é grátis, terá o valor de 1€ e o mínimo de encomenda é 8€, bem abaixo da média.
E o futuro, como esperam crescer?
Privilegiamos um crescimento orgânico, porém já temos planos de expandir para outros países. Por enquanto, consolidar a operação ao nível nacional é a grande aposta.