Regista-se um crescente otimismo entre os consumidores portugueses, impulsionado pela estabilização da inflação. É a conclusão dos dados mais recentes do Painel de Lares da Kantar, relativos ao primeiro trimestre deste ano e analisados em parceria com a Centromarca – Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca.
De acordo com o comunicado de imprensa, este ambiente favorável traduziu-se num arranque positivo de 2025 para o setor de bens de grande consumo (FMCG), marcado por um aumento generalizado da atividade de compra e por novas dinâmicas na forma como os consumidores interagem com os diferentes formatos de retalho.
A análise revela um alívio nas pressões financeiras sentidas pelas famílias portuguesas, com uma redução de 6,4 pontos percentuais, face a 2024, no número de consumidores que referem dificuldades em gerir o orçamento familiar — atualmente fixado nos 28%. Segundo os dados, este cenário está a impulsionar um “crescimento equilibrado” do consumo, tanto dentro como fora de casa.
O consumo fora de casa está a ganhar um peso cada vez maior nos hábitos dos portugueses, que optam com mais frequência por fazer as suas refeições principais em restaurantes, por entrega ao domicílio ou take-away. Este comportamento resultou num crescimento de 4,8% neste segmento no primeiro trimestre de 2025, refletindo-se num crescimento mais moderado das compras para o lar, que aumentaram 2,5%.
Além disso, o estudo verificou ainda uma mudança nos padrões de compra no início do ano, com sinais de reversão da tendência anterior de visitas mais frequentes às lojas com cestas reduzidas — uma estratégia usada pelos consumidores para gerir melhor os seus gastos.
O estudo analisou também a convivência entre diferentes estratégias de retalho, sublinhando a crescente complementaridade entre lojas com sortido amplo — que oferecem uma vasta gama de marcas de fabricante (MDF) — e aquelas que apostam num sortido mais reduzido, centrado nas marcas da distribuição (MDD).
As lojas de Sortido Amplo iniciaram o ano a reforçar o seu posicionamento, enquanto as de Sortido Curto continuam a expandir-se e a atrair novos compradores. No entanto, 95% do crescimento registado no Sortido Curto resulta da intensificação das compras por parte dos clientes já existentes, e não da perda direta de consumidores do Sortido Amplo.
Neste cenário, os dados apontam para um consumidor português cada vez mais “dinâmico e proativo”, disposto a percorrer maiores distâncias para encontrar o supermercado que melhor responde às suas necessidades e preferências.
Assim, quase metade dos lares (48,7%) revelou abertura para se deslocar a lojas mais distantes em busca de uma oferta diferenciada ou de produtos específicos que valorizam. Esta postura reflete-se numa elevada taxa de “duplicação” de escolhas, com 84% dos consumidores a frequentarem tanto lojas de Sortido Amplo como de Sortido Curto.
“O que estamos a observar é uma evolução natural e saudável do mercado retalhista, onde diferentes formatos encontram o seu espaço e se complementam. Esta dinâmica cria um cenário ‘win-win’, em que para um ganhar não é necessário que o outro perca, beneficiando não só os operadores, mas, fundamentalmente, o consumidor, que ganha em diversidade e opções de escolha”, referiu Marta Santos, Clients and Analytics Director da Kantar.
Marcas mantêm crescimento, embora a ritmo mais moderado
Apesar de continuarem a ganhar quota de mercado, as marcas da distribuição (MDD) estão agora a crescer a um ritmo mais moderado, especialmente em comparação com 2023. Esta tendência é particularmente visível nas lojas de Sortido Amplo, onde as MDD têm vindo a conquistar mais espaço, impulsionadas pela forte sensibilidade ao preço que caracteriza este formato.
No entanto, o estudo destaca a importância de manter um equilíbrio entre MDD e marcas de fabricante (MDF) nesse tipo de retalho. Mesmo com o crescimento das MDD, os consumidores continuam a valorizar a variedade e riqueza do portfólio de marcas disponíveis, elemento essencial para o desenvolvimento equilibrado das categorias.
O estudo alertou ainda para os riscos associados a um crescimento desequilibrado das MDD, que pode comprometer a valorização das categorias. Mais de metade das categorias onde as MDD ganham quota em volume já atingiram um ponto de rutura, traduzindo-se em perdas tanto em valor como em volume para o setor. Em contraste, as MDF assumem um papel fundamental na dinamização e ‘premiumização’ das categorias, especialmente no Sortido Amplo, onde são responsáveis pela valorização da maioria das categorias em crescimento.
“Este início de ano positivo é um sinal encorajador para todo o setor. Para que este dinamismo se consolide, é fundamental que retalhistas e fabricantes trabalhem em sintonia, valorizando a oferta diferenciada e a inovação que as Marcas de Fabricante trazem, para que possam responder a um consumidor que procura ativamente qualidade e novas propostas”, concluiu Pedro Pimentel, Diretor Geral da Centromarca.

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