Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Pedro Pimentel, diretor-geral da Centromarca, e Filipe Bonina, diretor de Marketing Sociedade Central de Cervejas e Bebidas (SCC) estiveram esta terça-feira reunidos digitalmente, na primeira de um ciclo de três conferências online sobre o setor da distribuição da revista DISTRIBUIÇÃO HOJE, para falar de consumo. Num mundo tomado por uma pandemia que deverá empurrar milhares de empresas para uma crise profunda, os últimos meses foram desafiantes, mas o balanço da capacidade de reação das empresas do setor é positivo.
Com o ‘Novo Consumo’ como mote, todos os oradores convidados foram perentórios: as empresas nacionais sabem reagir em períodos de crise e os últimos dois meses demonstraram essa capacidade de reinvenção e resiliência.
Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED, encetou o debate destacando a capacidade de reinvenção e a resiliência do setor, sobretudo dos retalhistas especializados, os mais afetados pelas medidas decretadas durante o estado de emergência que obrigou ao fecho de portas.
“O que destaco em relação ao setor da distribuição é a capacidade de nos reinventarmos perante uma pandemia que apanhou todos de surpresa e sobre a qual pouco ou nada sabíamos. Pode ser um lugar-comum, mas a verdade é que tivemos a capacidade de nos reinventar enquanto setor, que ainda por cima tem uma diversidade entre alimentar e retalho especializado. O retalho especializado, que esteve quase todo durante muito tempo fechado por obrigação legislativa e por questões de saúde pública, teve de se reinventar e conseguiu ter operações ativas quer no online como no click&collect e em novas soluções para fazer face às restrições. O retalho especializado teve de resistir a uma adversidade muito grande”, afirmou.
Em relação ao retalho alimentar, o diretor-geral da APED destacou a agilidade e a capacidade de dar resposta a um consumo que transitou muito rapidamente para o e-commerce, criando pressão sobre as cadeias de abastecimento de alguns retalhistas alimentares em Portugal.
“O retalho alimentar adaptou-se, inovou, em muitos casos antecipou medidas e mostrou uma resiliência fora do comum. Se falarmos do consumo e dos consumidores, acho que há aqui um novo paradigma que tem muito de racional, de alteração de comportamentos face à inexistência de uma compra por impulso, face a uma realidade que vai pairar sobre todos…vem aí um momento muito difícil para o consumo fruto de uma restrição financeira que todos vamos sentir”, defendeu.
Já Pedro Pimentel, diretor-geral da Centromarca, lembrou que o comportamento de consumo observado nos últimos meses é “típico de um momento atípico” e que o mais provável é que as empresas ‘vencedoras’ durante o estado de emergência possam não ser “os campeões de vendas no médio e longo prazo”.
“Houve uma grande necessidade de todas as entidades se reinventarem e de reorganizarem as suas operações. Neste caso o retalho é aquele que dá a cara mais diretamente ao consumidor, mas há toda uma operação por detrás que foi preciso manter ativa. Houve, numa primeira fase, uma alteração muito grande do mix de consumo com muitas coisas que antes não eram as primeiras prioridades na cesta de compra dos portugueses e muitas coisas que desapareceram das cestas de compras. Algumas marcas viram a sua posição muito fortemente reforçada e outras nem tanto (…) Alguns produtos que foram uma prioridade nessa primeira fase deixaram de ser prioridade na fase seguinte (…) Os campeões de vendas dos primeiros dias não têm se ser forçosamente os campeões de vendas no médio e longo prazo. Houve quem fizesse corridas de cem metros e quem fizesse maratonas e penso que aqueles que fizeram corridas cem metros e ganharam não serão aqueles que no final do ano acharão que terão feito a maratona vencedora”, explicou.
“Há empresas que claramente tiveram situações muito complicadas para encarar, seja pelo fecho do canal Horeca, seja porque há compras que deixámos de fazer. Quando estamos fora de casa fazemos determinado tipo de consumo e há produtos que pura e simplesmente desapareceram da cesta de compras porque não saímos de casa. É o comportamento típico de um momento atípico, mas fazermos disto uma regra para o que vai acontecer a seguir parece-me muito prematuro”, acrescentou ainda.
Para uma empresa como a Sociedade Central de Cervejas e Bebidas, que tem grande parte do consumo dos seus produtos alavancado no canal Horeca, a situação é bastante mais “dramática”. Com a restauração, a hotelaria, os cafés e os bares de portas fechadas, a SCC teve de ser ágil na tomada de decisões, mas está agora otimista com a nova fase de desconfinamento.
Filipe Bonina, diretor de Marketing Sociedade Central de Cervejas e Bebidas (SCC), destacou o impacto do fecho do canal Horeca que representa uma parte substancial das vendas e das receitas da empresa.
“Não tenho de esconder que foi dramática a quebra de consumo. Estamos agora numa fase de reabertura que nos dá bons sinais. Nota-se alguma dinâmica na hotelaria e do consumidor também. Estamos a fazer uma gestão quase diária, muito flexível e muito ágil para nos irmos adaptando aquilo que acontece. Por outro lado, temos o consumo em casa e aqui acho que nada será o mesmo depois disto (…) Havia sempre uma tendência para o crescimento do consumo em e entrega em casa. Essa era uma tendência mundial bastante subdesenvolvida em Portugal e acho que se quebraram bastantes mitos em relação a isso. As pessoas passaram a ver isso com alguma normalidade e isso não deverá voltar atrás”, afirmou.
“Por parte das empresas de distribuição e produtoras, acho que fizemos mais em dois meses do que o que tínhamos feito em dez anos para desenvolver esses canais e essa dinâmica vai-se perpetuar, tanto do lado do consumidor como do lado da oferta. No nosso caso, tanto da SCC como de outras empresas de bebidas, mostrámos que somos empresas mais preparadas para enfrentar picos de procura do que há uns anos e acho que isso é um aspeto importante. A experiência do management em Portugal em relação a crises é, infelizmente, muita. Senti que houve uma reação muito imediata, uma agilidade muito grande e uma capacidade de fazer acontecer muito rápida”, disse ainda Filipe Bonina.
Leia o artigo completo na edição de junho da revista DISTRIBUIÇÃO HOJE