Aromas que se confundem com história, cores e rótulos apelativos, que nos transportam para outros tempos e outras memórias. A Ach. Brito, a Claus Porto e a Confiança estão agora mais fortes no mercado nacional, mas também além-fronteiras. Aqui junta-se história com inovação, tradição com autenticidade. A DISTRIBUIÇÃO HOJE esteve na fábrica, em Fajozes, onde os sabonetes continuam a ser embrulhados à mão, à conversa com Thomas Reuter, diretor da unidade de negócio Ach. Brito e Confiança.
Como é que a história centenária da Ach. Brito tem influenciado o desenvolvimento da marca?
A Ach. Brito e a Confiança têm uma história de vida paralela de mais de 100 anos. A história da Ach. Brito remonta a 1887 com o nascimento da Claus Porto e sete anos depois, em 1894, é criada a Confiança em Braga. Foram empresas concorrentes até a Ach. Brito adquirir a Confiança em 2008.
A Claus & Schweder (nome original da atual Claus Porto) foi a primeira saboaria ibérica e foi criada por dois senhores alemães que viviam no Porto. Em 1916 saem do país e em 1918 o antigo contabilista, que mais tarde se tornaria sócio da Claus & Schweder, Aquiles de Brito, cria a Ach. Brito. Nos anos 20, adquire os ativos e a produção da Claus & Schweder que entretanto fora nacionalizada.
A Ach. Brito chega a 2008 ainda nas mãos da família Brito, com a gestão ao cargo de Aquiles Brito, bisneto do fundador, e é nesse ano que a Ach. Brito compra a Confiança e passa a operar no mercado com três marcas: a Claus Porto, a Ach. Brito e a Confiança.
A Claus Porto é uma marca de luxo e lifestyle, a Ach. Brito está concentrada em produtos que se vendem na distribuição moderna e no pequeno retalho e a Confiança apresenta-se no mercado de forma mais transversal, produzindo desde o sabão de barra até linhas premium com sucesso a nível internacional. A Confiança tem claramente um posicionamento mais amplo.
Mais recentemente, em 2015, a Ach. Brito foi adquirida na sua maioria por um grupo de investidores portugueses, mantendo-se Aquiles Brito como acionista e administrador. O objetivo da aquisição é desenvolver a marca Claus Porto, principalmente a nível internacional. Apesar deste grande objetivo a empresa tem um outro foco, o relançamento da Confiança através de várias iniciativas entre as quais o desenvolvimento de novos produtos para o segmento premium e para clientes internacionais. E é este trabalho que estamos a desenvolver e que espero ter nas lojas em meados de 2017. Basicamente vai ser um renascer da Confiança como marca Premium de saboaria.
Essa nova gama estará à venda em Portugal e nos mercados externos?
Exatamente. É um posicionamento mais diferenciado. Para além de ser uma casa de sabões e de sabonetes, a Confiança é uma casa com imensa história. Respeitamos a produção e o processo de fabrico de há décadas e isso é algo que nos distingue das outras empresas. Existe toda a componente industrial, mas há também muita manufatura. Temos ainda muito embalamento manual.
Como se adaptam aos dias que correm?
Atualizamos a maquinaria e melhoramos os ingredientes, mas o processo de fabrico é algo que se mantém e que não queremos mudar. A forma como se fabrica um sabonete, qual é a sua formulação, o seu embalamento manual no final, isso é algo que queremos preservar. É o que nos distingue e faz parte da nossa autenticidade. Na Confiança, na Ach. Brito e na Claus Porto, o design é desenvolvido com base em algo que já foi feito nas nossas marcas. Cada marca tem centenas de rótulos e tudo o que fazemos agora é inspirado naquilo que se fez no passado.
Como é que o cliente perceciona isso?
Pela qualidade e beleza dos nossos produtos, que marcam uma presença já centenária nos lares portugueses. É algo que devemos aos nossos clientes, que são fiéis aos nossos produtos.
É fácil hoje ter mão-de-obra que se adapte a esta forma de trabalhar mais tradicional?
Temos o trabalho facilitado pelo facto de não termos uma grande rotação de colaboradores. Neste momento temos um total de 90 colaboradores afetos às três marcas. Vamos acrescentando pessoas, mas temos uma base na equipa de produção que é estável. Não sentimos qualquer dor a esse nível pois temos uma base forte de pessoas que estão connosco há muito tempo e que também vão formando outras pessoas.
As matérias-primas são portuguesas?
Temos matérias-primas portuguesas e outras não. A base do sabão, que é vegetal, não é comprada cá. Tudo que pudermos comprar em Portugal obviamente que fá-lo-emos.
Em que mercados estão presentes?
De um lado, temos a Claus Porto que é uma marca forte e internacional, com a maioria das vendas fora do país. É uma marca que está consolidada em mais de 50 países e os mercados estratégicos são os Estados-Unidos, onde temos uma subsidiária, o Reino Unido, a China e a Coreia do Sul. Os mercados estratégicos são tendencialmente mercados onde a componente de luxo é forte. Estamos a fazer esforços para entrar em mercados asiáticos, Médio Oriente e em grandes mercados europeus.
Cada uma das outras duas marcas [Confiança e Ach. Brito] tem à volta de 15 mercados, sendo que a Ach. Brito está mais talhada para o mercado nacional. Tem produtos que estão muito consolidados no mercado interno e a nossa aposta é consolidar esse mercado, exceção feita à Lavanda, que é um produto icónico que temos vontade de desenvolver para outros mercados. A Confiança tem vindo a aumentar faturação no estrangeiro e os grandes mercados são a Espanha e a China. Estamos agora a negociar com distribuidores no Médio Oriente e noutros países asiáticos.
Em termos de vendas quanto representa os mercados externos?
40%.
Quanto ao mercado nacional, os consumidores nacionais dão mais valor ao que é português?
Sim. A Ach. Brito e a Confiança sofreram um bocado quando apareceram as grandes marcas em que existiam grandes investimentos em marketing por trás. Ultimamente, os consumidores nacionais (e não só) dão valor ao que é português. Identificam produto nacional com qualidade e autenticidade.
Como tem sido a relação com a distribuição moderna?
Tentamos claramente promover os nossos produtos pela sua qualidade. Noto essa diferença e evolução. Nos principais players da distribuição moderna há uma atenção pela qualidade do produto, design e portugalidade. Nota-se que o produto português voltou às prateleiras.
Como correu 2016?
Mais de 6 milhões de euros vendidos. Destaco o crescimento da Confiança que foi à volta de 20% na faturação, sendo que as três marcas da empresa aumentaram o volume de faturação.
E para este ano?
Quanto à estratégia de crescimento na Ach. Brito, temos o desafio de continuar a consolidar a nossa presença a nível nacional, sendo que temos o desejo de posicionar o produto mais icónico da empresa, a Lavanda, a nível internacional.
Na Confiança queremos continuar a olhar para fora. É importante termos na nossa cabeça que um produto por melhor que seja não pode apenas ser comprado, nós teremos sempre de o saber vender.
Precisamos do produto, mas também do distribuidor certo, com o posicionamento certo. Ou seja, o trabalho que temos feito é arranjar esses distribuidores, sendo que existe um trabalho paralelo efetuado em retalhistas estratégicos, como por exemplo os department stores de referência, que trabalhamos diretamente por considerarmos importante termos o controlo do nosso produto em lugares que serão chamarizes para as nossas marcas.
Nesse campo, a Claus Porto está uns passos à frente comparativamente com a Ach. Brito e a Confiança. Consolidou nos últimos dois anos um trabalho de reposicionamento de marca, desenvolvimento de produto e gestão comercial que está claramente a dar frutos a nível internacional. Na marca Confiança, o segundo semestre de 2017 vai trazer novidades a nível de produto, que nos permitirão desenvolver a marca internacionalmente.
Em relação ao canal online?
Está sobretudo desenvolvido para a Claus Porto. Temos outro site, a Loja dos Sabonetes, que tem à venda produtos da Ach. Brito e da Confiança.
É significativo o número de vendas do site?
Tem espaço para crescer e ser desenvolvido. O site da Claus Porto foi lançado em junho de 2016, tendo sido um site a pensar nos mercados estratégicas, como os Estados Unidos da América. É um site renovado e com uma equipa 100% alocada.
Está prevista a abertura de alguma loja física em Portugal?
Neste momento a Loja de Fábrica vende produtos das três marcas. Temos uma loja da Claus Porto em Lisboa e uma pop-up store no Porto, no antigo Museu das Marionetas, que se vai tornar a nossa loja museu. Vai abrir oficialmente no final da primavera.
Está na Ach. Brito há mais de um ano. Já está apaixonado pela empresa?
Gosto muito da empresa. Sou lisboeta, mas portista, o que ajuda sempre. É uma empresa com muita história e um trabalho ilimitado pela frente. Estamos praticamente em ambiente startup. É uma empresa centenária que está a trabalhar a todo o gás.