A queda acentuada da inovação no grande consumo em Espanha levanta preocupações sobre o futuro do setor e a importância do equilíbrio entre marcas de fabricante e de distribuição.
Para se ter uma ideia concreta, a inovação no setor de produtos de grande consumo (FMCG) em Espanha atingiu mínimos históricos em 2024, com apenas 75 novos produtos lançados no mercado, o que equivale a uma queda de 48% nos últimos 15 anos, de acordo com o mais recente relatório Innovation Radar da Kantar.
O relatório da Kantar sublinha um fator determinante neste declínio: a distribuição. Atualmente, apenas cerca de 25% das inovações produzidas pelos fabricantes chegam efetivamente às prateleiras dos retalhistas. Esta realidade deve-se, em grande medida, às estratégias diferenciadas dos vários operadores de retalho, o que limita o acesso dos consumidores às novidades e desencoraja os fabricantes de continuar a investir em inovação..
Apesar do cenário desfavorável, as marcas de fabricante continuam a liderar o esforço inovador, representando 96% dos lançamentos em 2024, na sua maioria provenientes de empresas espanholas. No entanto, a aceitação por parte dos retalhistas é desigual: enquanto cadeias como Mercadona, Aldi e Lidl apresentam níveis de adoção reduzidos, outras como Carrefour, Alcampo e DIA mostram-se mais abertas à inovação.
Os resultados também mostram um agravamento na taxa de sucesso dos novos produtos. Apenas 1 em cada 5 alcançou o sucesso esperado em 2024. Caso esta tendência se mantenha, a consultora antecipa perdas superiores a 20 mil milhões de euros na próxima década, uma quebra significativa nos volumes de venda e até o encerramento de fábricas.
César Valencoso, diretor de consumer insights da divisão Worldpanel da Kantar, alertou para o cenário preocupante: “Estamos numa situação em que, a este ritmo, que continuará a decrescer, dentro de 10 anos, a inovação será quase inexistente, com um impacto brutal. Os mercados que melhor funcionam são os que mantêm um equilíbrio entre a marca do fabricante e a distribuição”.
A situação em Espanha serve de alerta para mercados vizinhos, incluindo Portugal, onde a importância da colaboração entre marcas, retalhistas e reguladores é cada vez mais evidente.
A visão do consumidor sobre marcas de distribuição e de fabricante

