Uma análise da Energy & Climate Intelligence Unit (ECIU) conclui que os fenómenos meteorológicos extremos estão entre os principais responsáveis pelo aumento dos preços dos alimentos no Reino Unido.
Segundo o estudo, produtos básicos como manteiga, carne de vaca, leite, café e chocolate representam quase 40% da inflação alimentar, apesar de constituírem apenas 11% do cabaz médio de compras. Estes alimentos, sensíveis às alterações climáticas, registaram uma subida média de 15,6% no último ano, acima dos 2,8% observados nos restantes produtos alimentares e bebidas.
De acordo com a análise, os resultados desafiam a ideia de que o aumento do salário mínimo ou outros fatores internos sejam as principais causas da inflação alimentar.
Christian Jaccarini, analista de alimentação e agricultura da ECIU, explicou que os verões quentes e secos reduziram o crescimento das pastagens, obrigando os agricultores a recorrer a rações mais caras, o que fez subir os preços da manteiga e da carne de vaca. Além disso, um vírus associado às alterações climáticas afetou vários rebanhos na Europa, mantendo a procura por laticínios britânicos em níveis elevados.
Segundo o estudo, o Reino Unido registou três das suas cinco piores colheitas da história nesta década, um reflexo direto da frequência crescente de eventos climáticos extremos e da pressão sobre os agricultores.
A crise não se limita à produção interna. A investigação também concluiu que o cacau triplicou de preço nos últimos três anos devido ao calor extremo e às chuvas intensas na África Ocidental, e o café encareceu significativamente com as secas em regiões produtoras como o Brasil e o Vietname.
O Banco de Inglaterra reconheceu que o clima extremo dificulta o controlo da inflação e aumenta os riscos sistémicos no sistema alimentar. De acordo com a ECIU, o impacto climático acrescentou cerca de 360 libras (414 euros) ao custo anual médio dos alimentos por agregado familiar em 2022-2023, e essa exposição deverá crescer. A mesma entidade estima que, até 2050, mais de metade das frutas e leguminosas importadas pelo Reino Unido virão de países altamente vulneráveis às alterações climáticas.
Neste sentido, Christian Jaccarini concluiu que a redução sustentada dos preços alimentares só será possível com o cumprimento das metas de neutralidade carbónica e a estabilização do clima, uma vez que a política monetária, por si só, não consegue resolver o problema.

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