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Entrevista a Rui Fonseca

“Temos de assegurar que as inovações podem servir o maior número possível de pessoas em todo o mundo”

Rui Fonseca  Mastercard SmartPayments News
Criar o próximo layer de inovação para o setor do retalho é apenas um dos objetivos da Mastercard para o próximo ano. Em conversa com o SmartPayments News, Rui Fonseca, Diretor de Desenvolvimento de Negócio da Mastercard, contou como vê o futuro dos pagamentos e revelou de que forma é que a adoção de tecnologias como o 5G e o IoT virá tornar a vida mais fácil a produtores e consumidores, assegurando visibilidade nas cadeias de abastecimento globais.

Acho que é fidedigno dizer que a maioria dos players do setor dos pagamentos não acreditam que a evolução dos pagamentos elimine, pelo menos no curto prazo, o cash ou o cartão. Mas se tentarmos imaginar o futuro dos meios de pagamento, sobretudo dos físicos, qual será a próxima solução de pagamento a ser amplamente adotada pelos consumidores?
Podemos antecipar o que vai acontecer se observarmos as regiões da Europa que neste momento lideram as grandes tendências de inovação a nível global, como é o caso dos países nórdicos e de leste, onde 78% das transações já são contactless. Portugal irá seguir esta tendência pois não pode ficar isolado do resto da Europa. Assim, se considerarmos que o futuro do dinheiro vai ser digital, que o futuro dos pagamentos vai ser sem contacto e que o smartphone já é, hoje, o instrumento com que fazemos de forma generalizada os pagamentos das nossas compras, então, a próxima solução de pagamento a ser adotada pelos consumidores será, sem dúvida, os wearables.

Portugal acompanhará essa tendência?
Se na Europa, em média, 78% das transações já são contactless, em Portugal assistimos a um crescimento massivo dos pagamentos sem contacto, que já têm um peso superior a 40% em muitos dos setores do retalho. Quanto aos wearables, de acordo com um estudo da Mastercard realizado na Europa este ano, 4% dos europeus já usa wearables para fazer os seus pagamentos contactless e 28% fá-lo através do smartphone.

 

Os portugueses são frequentemente apontados pelas empresas tecnológicas como early adopters, mas levaram algum tempo a adotar o contactless como solução de pagamento preferencial…Que fatores estavam por detrás desta renitência?
Um estudo que realizámos em 2019 permitiu-nos perceber que os portugueses ainda tinham uma relação muito forte com o dinheiro e que os cartões eram utilizados, sobretudo, para fazer levantamentos. Contudo, com a evolução natural do ecossistema de pagamentos em Portugal, percebemos que a tecnologia contactless estava a ganhar cada vez mais expressão e que isso era muito importante como passo intermédio natural para a adoção das novas soluções digitais de pagamento.

Depois, com a pandemia, vimos que o contactless acabou por ser a tecnologia que se generalizou, também graças ao facto de o Governo ter decidido facilitar e incentivar o uso de instrumentos de pagamento eletrónico em detrimento dos métodos tradicionais de pagamento, como moedas e notas, incluindo para os pagamentos de baixo valor. Também alinhada com o anúncio do Governo, a Mastercard anunciou o aumento de 20 para 50 euros do valor máximo para pagamentos contactless sem PIN, praticamente em simultâneo em 29 países da Europa incluindo em Portugal. Portugal foi um dos primeiros a adotar este novo limite, o que ajudou à maior generalização dos pagamentos sem contacto.

 

Durante o SmartPayments Congress deste ano foram vários os oradores que falaram do potencial das inovações do setor dos pagamentos no campo da mobilidade e até da sustentabilidade. A crescente preocupação dos consumidores com os temas da sustentabilidade poderá acelerar a adoção de métodos de pagamentos alternativos e levará ao desaparecimento do cartão?
Apesar do futuro dos pagamentos passar pelos equipamentos móveis, do smartphone aos wearables, e por pagamentos sem contacto iniciados com elementos físicos ou mesmo por mensagem escrita, voz, ou gestos, a verdade é que os cartões ainda têm uma importância fulcral na nossa indústria. De tal forma, que todos os anos são produzidos cerca de seis mil milhões de cartões de pagamento a partir de PVC, que são substituídos, em média, a cada três a quatro anos. Sabemos que mais de três quartos das pessoas dizem estar “muito preocupadas”[1] com o meio ambiente e acham que as empresas deveriam fazer mais para lidar com o impacto que a sua atividade tem no planeta. Na prática, os consumidores procuram formas alternativas de, pelos seus meios, ajudarem a combater as mudanças climáticas e, uma das formas está, precisamente, na limitação em utilizarem de plásticos de uso único. Para lidar com essa crescente preocupação, a Mastercard desenvolveu, com os players globais da indústria, um programa sustentável destinado aos emissores de cartões em todo o mundo. Trata-se de um novo diretório de fornecedores de materiais sustentáveis para produtos de cartão que pretende impulsionar a inovação através de soluções amigas do ambiente, uma opção preferida pelas instituições financeiras em todo o mundo. Esta iniciativa é um novo marco no esforço que já leva alguns anos, e que tem como meta o lançamento do sistema de certificação global da Mastercard para cartões sustentáveis.

Que outros ‘problemas’ podem as inovações no setor dos pagamentos resolver?
As inovações nos pagamentos podem ter um papel fundamental na inclusão financeira, na promoção da igualdade de género e no apoio às micro e pequenas empresas. Estas são, aliás, linhas de orientação a que a Mastercard tem dado particular atenção. Por exemplo, em abril deste ano a Mastercard anunciou a ampliação do seu compromisso global com a inclusão financeira, prometendo trazer um total de mil milhões de pessoas e 50 milhões de micro e pequenas empresas para a economia digital até 2025. E parte deste esforço será direcionado para apoiarmos 25 milhões de mulheres empreendedoras, através de soluções que possam ajudá-las a expandir os seus negócios.

 

A Mastercard anunciou no início de novembro a Cyber Secure, a primeira suite de ferramentas, baseada em Inteligência Artificial, que permite aos bancos avaliar ciber-riscos em todo o ecossistema e prevenir possíveis violações de segurança. Como funciona esta solução e como vai beneficiar a banca e até os comerciantes?
O Cyber SecureTM constitui um grande avanço na quantificação permanente e na priorização das vulnerabilidades digitais. Ao dotar os bancos com a capacidade de monitorizar e acompanhar continuamente o comportamento digital, a indústria avança para um estado mais proativo na gestão e prevenção de violações de dados, protegendo a integridade do ecossistema de pagamentos e os dados dos consumidores. Além disso, ajuda a reduzir as perdas financeiras associadas a ataques, poupa tempo e recursos, e fornece uma visão abrangente dos ciber-riscos através de uma aplicação. Baseando-se nas capacidades líderes do setor da RiskRecon, empresa adquirida pela Mastercard em 2020, a avaliação de risco é realizada com recurso a Inteligência Artificial avançada que combina múltiplas fontes de dados públicas e privadas. A IA avalia os dados em função de 40 critérios de segurança e infraestrutura, com o impacto e importância de cada vulnerabilidade analisada para estabelecer uma classificação em termos de ciber-risco e de navegador prioritário. Vale a pena salientar que, em 2019, a Mastercard poupou aos seus stakeholders cerca de 20 mil milhões de euros de fraude, graças aos sistemas cibernéticos com recurso a Inteligência Artificial. A Cyber SecureTM é uma parte fundamental da estratégia de cibersegurança multi-camada da Mastercard para proteger o ecossistema, proteger ambientes cibernéticos, definir os padrões da indústria e colaborar entre indústrias.

De que forma é que a Mastercard tem investido em inovação? Qual é a estratégia para os próximos anos neste âmbito?
Um dos conceitos em que temos estado a trabalhar chama-se Augmented Commerce, um conjunto de ideias e perspetivas sobre o próximo layer de inovação para o retalho, que se caracteriza por criar uma nova camada de envolvimento digital, que vai além dos smartphones que nos acompanham no nosso dia-a-dia. Trata-se, no fundo, de estudar a combinação entre Realidade Aumentada, Voz, 5G e IoT, e identificar interfaces e caminhos que poderão moldar as futuras interações entre consumidores e comerciantes. Na base desta investigação tecnológica que pensa o nosso dia-a-dia no futuro, estão fenómenos como os pagamentos ponto a ponto, o trabalho remoto, as viagens comerciais no espaço, a Realidade Aumentada (AR), o retail in motion, a Mobilidade-as-a-service – MaaS e os marketplaces.

 

Que novidades podemos esperar da Mastercard no próximo ano?
A Mastercard está a trabalhar em diversas frentes, desde soluções para as smartcities, que a adoção do 5G e do IoT virá acelerar, até ao poder do blockchain e da IA para tornar a vida mais fácil a produtores e consumidores, assegurando visibilidade nas cadeias de abastecimento globais a todos os que nela intervêm. Paralelamente, temos de assegurar que estas inovações podem servir o maior número possível de pessoas em todo o mundo, pelo que a inclusão financeira e a igualdade de oportunidades são também, dois pilares fundamentais no desenho de novas soluções de pagamentos.

Por outro lado, no próximo ano, já a partir de 1 de janeiro de 2021, vamos ter a adoção das regras de autenticação forte solução, conforme manda a diretiva comunitária PSD2. Além do programa Mastercard ID Check, soluções como Nudetect permitem a emissores e comerciantes fazer autenticação forte dos seus clientes através de biometria comportamental. Esta solução, ao mesmo tempo que oferece maior segurança em transações online, também permite uma melhor experiência de compra, reforçando elevados requisitos de segurança, garantindo também a sua adequação a estas novas normas.

[1] Estudo exclusivo da Mastercard realizado entre 11 e 18 de maio de 2020 entre adultos com mais de 18 anos. Foram realizadas 2.118 entrevistas na Austrália, Brasil, Reino Unido e EUA.

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