É uma categoria dinâmica marcada pela constante inovação. E não nos referimos apenas a novos lançamentos, mas também à presença do setor em eventos, numa estratégia de estar onde o consumidor está, seja em festivais de música ou em jogos de futebol. O primeiro semestre ficou marcado por novos lançamentos e as marcas – artesanais incluídas – prometem muitas novidades até final deste ano.
Estará o consumidor mais atento aos novos estilos de vida e a convertê-los para o consumo de cerveja? Parece que sim e a categoria não quer perder a oportunidade de se adaptar às novas tendências.
A Sociedade Central de Cervejas (SCC) inovou este ano com a criação de cervejas 0.0 de teor alcoólico, “com melhor sabor, perfeitas para consumo em qualquer ocasião”, explica o diretor de comunicação e relações institucionais, Nuno Pinto de Magalhães. A aposta em cervejas alternativas foi uma resposta clara da SCC às novas necessidades dos consumidores, assentes em novas opções do dia-a-dia. “Apostámos na Zona Zero, aplicando os nossos conhecimentos sobre o fabrico de cerveja e a nossa capacidade de inovação. “Exemplos de novidades no sentido de um consumo mais saudável são a Sagres 0.0 e a Heineken 0.0 que, segundo o responsável, “estão a ter uma receção muito positiva no mercado nacional”. Afinal, “foram os consumidores que pediram uma cerveja sem álcool com todo o sabor, qualidade e que se adequasse a todos os momentos de consumo”.
As cervejas 0.0 podem fazer parte de um estilo de vida equilibrada e oferecer uma opção alternativa – às pessoas que não podem ou não querem beber bebidas alcoólicas – para desfrutar de uma solução saborosa e totalmente natural”, sublinha. Também a Bohemia Pilsener, lançada este ano, “está a ser muito bem recebida por consumidores que procuram uma cerveja de qualidade para acompanhar as suas refeições”.
Bruno Albuquerque, diretor de marketing cervejas do Super Bock Group (SBG) afirma que “os consumidores procuram, cada vez mais, ofertas distintas consoante a ocasião de consumo e as suas necessidades no momento. Temos verificado que as cervejas sem álcool são uma alternativa também valorizada e que crescem neste contexto de diversificação de oferta”. A SBG estabeleceu este compromisso, em 2007, quando lançou a primeira cerveja sem álcool 0,0% em Portugal. “Podemos afirmar que antecipámos esta tendência de consumo”, defende.
No segmento das cervejas sem álcool, a Estrella Damm apresenta “Free Damm, elaborada com os mesmos ingredientes de uma cerveja com álcool – malte de cevada, milho, arroz e lúpulo. Acrescentamos levedura e deixamos que a fermentação produza álcool de forma natural. Depois, através de uma técnica avançada de destilação a vácuo, eliminamos o álcool. Neste processo, denominado de desalcoolização, perdiam-se alguns dos componentes aromáticos e assim trabalhámos numa forma de recuperar os compostos aromáticos e reintroduzi-los de novo na cerveja”, explica a marketing manager Elsa Cerqueira.
As grandes tendências de mercado já acompanham a marca há alguns anos, mas a responsável garante que “a crescente procura de cervejas sem álcool é um segmento de dimensão ainda bastante reduzida, mas é uma tendência que reflete a cada vez maior adesão dos consumidores a estilos de vida mais saudáveis”. A cerveja Estrella Damm mantém, até aos dias de hoje, a sua receita original, de 1876, “apenas com malte de cevada, arroz e lúpulo, sendo estes ingredientes 100% naturais”.
Há espaço para inovar?
É uma das categorias com mais lançamentos durante o ano e que não para de inovar. “O SBG tem como premissa a dinamização do mercado através da inovação, desde que traga valor ao consumidor, e consequentemente, também ao negócio. Por isso, a nossa aposta passa sobretudo pela introdução de inovação seletiva”, salienta Bruno Albuquerque. No início de maio passado, a gama Super Bock Coruja passou a contar “com uma nova variedade que se juntou à American Amber Lager e à India Pale Ale. A Hoppy Lager distingue-se por ser uma cerveja refrescante e mais leve, o que possibilita a evolução do consumo das cervejas tradicionais para as da especialidade”. A novidade resulta “da capacidade em investir em desenvolvimento contínuo e de inovação” e destina-se “a consumidores que ainda não estão tão familiarizados com o sabor distinto das cervejas especiais”.
Destaque ainda para o papel da gama de cervejas “Selecção 1927, pela ligação à gastronomia, pela sofisticação e pela diversificação da oferta, com o lançamento faseado, ao longo do ano, de edições especiais que trazem novos estilos de cerveja ao mercado”, explica o responsável, adiantando que as mesmas se diferenciam no mercado de cervejas da especialidade.
A Estrella Damm lançou em 2018, a “Malquerida”, uma cerveja “Roja Vermelha, um novo estilo de cerveja criada pelos mestres cervejeiros da Damm e pelos irmãos Ferran Adrià e Albert Adrià, sendo a flor da Jamaica, o que lhe confere a cor vermelha. Pretendemos consolidar este lançamento em 2019 e não temos previsto lançar novas cervejas”, explica Elsa Cerqueira.
A SCC apostará em novas cervejas este ano, mas Nuno Pinto de Magalhães não revela pormenores. “No futuro, e a seu tempo, apresentaremos as novidades”, adianta.
Promoções são rotina
Apesar de o preço ser importante, para Bruno Albuquerque, o verdadeiro apreciador de cerveja privilegia outros fatores. No entanto, adianta que “as promoções entraram na rotina do consumidor sendo transversais às várias categorias de bens de grande consumo”. O diretor de marketing cervejas considera que existem outros critérios que são valorizados no momento da compra, como “o aroma e o sabor, e se são adequadas a várias ocasiões de consumo”.
Para Nuno Pinto de Magalhães, “no canal alimentar, o dinamismo da categoria vem essencialmente da atividade promocional uma vez que aqui as escolhas dependem muito do fator preço. No entanto, e apesar disto, assistimos a um aumento do valor da categoria sobretudo nos segmentos onde há mais propostas de inovação, o que comprova que o custo é uma variável relativa quando o consumidor valoriza o produto oferecido”.
A estratégia de Estrella Damm mantém-se com um maior foco no canal Horeca desde o seu lançamento, em 2012. “No entanto, a presença e a dinamização da marca no canal alimentar é, cada vez mais, uma realidade, à medida que vai crescendo e ganhando mais consumidores. Com esta estratégia, muito bem definida e enraizada, não estamos dependentes da atividade promocional na grande distribuição. Continuamos a crescer, mas sempre com uma reduzida dependência promocional quando comparada com a concorrência”, explica Elsa Cerqueira. A marca tem vindo a ter uma dinâmica “bastante positiva com crescimentos em dois dígitos, em 2018, e bastante acima da média do mercado.”
Parcerias e eventos
As cervejas são presença quase obrigatória nos eventos culturais e desportivos, sendo o verão uma época por excelência de algumas parcerias. “A Sagres é a cerveja oficial das Festas de Lisboa e, sendo a mais antiga patrocinadora da Seleção Nacional de Futebol, estará presente na Liga das Nações que decorre este ano em Portugal”, explica o diretor de comunicação e de relações institucionais da SCC. A marca será ainda patrocinadora oficial da Regata de Portugal, a decorrer em junho, no Rio Tejo, e do Festival “O Sol da Caparica”, no Parque Urbano da Caparica, em agosto. “Mas estaremos também em muitos outros eventos de música, cultura e desporto locais, festas, feiras e romarias, num total de cerca de 5.000 por ano”, adianta o responsável.
No próximo mês, decorrerá a 3.ª edição do Estrella Damm Gastronomy Congress, o evento proprietário de marca que traz a Portugal alguns dos maiores chefs de renome internacional, colocando-os, lado a lado, com alguns dos melhores chefs nacionais. “Esta 3ª edição traz a Portugal, pela primeira vez, Ferran Adrià – o chef que elevou o elBulli ao top da gastronomia mundial, cinco vezes eleito o melhor restaurante do mundo”, salienta Elsa Cerqueira.
Também o verão é muito preenchido no que diz respeito às marcas do SBG, sobretudo devido aos festivais de música e aos eventos locais e regionais. “Criámos um conceito agregador ‘Super Bock & Música. Amizade Autêntica’ que demos a conhecer na mais recente campanha de comunicação e que irá agora materializar-se em ações e em experiências que levaremos aos vários pontos de contacto com o consumidor, ao longo de 2019”, explica Bruno Albuquerque. A marca mantém-se como a cerveja oficial de alguns festivais do país (Meo Sudoeste, Vodafone Paredes de Coura, NOS Primavera Sound, MEO Mares Vivas), de forma a dar continuidade à estratégia “de acompanhar os melhores ambientes e sonoridades, tornando a experiência dos consumidores memorável, com a melhor cerveja”.
Este é também o ano de celebração das 25 edições do “Super Bock Super Rock” (SBSR), o festival a que a marca dá o nome há mais de duas décadas e que volta ao Meco, o seu local mais emblemático. Este ano, fazemos o warm-up com o road to SBSR, um circuito de 25 concertos, de norte a sul do país que preparam o público para os momentos que se vão viver naqueles três dias de julho”, acrescenta o responsável. A marca volta a ser patrocinadora oficial da Expofacic e reforça ainda a associação aos “Bons Sons”, em Tomar.
Também a Carlsberg irá voltar a apoiar a organização do “Open Carlsberg”, torneio que integra o calendário oficial da Federação Portuguesa de Padel. “Ao longo do verão estaremos também junto do consumidor a promover o ‘The Danish Way’, através de um conjunto de ativações que assentam nos valores, nos comportamentos e nos rituais da cultura dinamarquesa, como o otimismo e a simplicidade, bem como o equilíbrio perfeito entre a vida pessoal e o trabalho”, refere Bruno Albuquerque.
A presença das cervejas artesanais
Têm vindo a ganhar o seu lugar e a conquistar novos consumidores. Elsa Cerqueira assume este crescimento “como uma lufada de ar fresco num mercado que era muito fechado e dualista.” Considerando que há hoje uma maior dinâmica de marcas, sabores e variedades, muito mais saudável e interessante, defende que “a aceitação da cerveja em pairing com a alta gastronomia é também uma realidade que hoje já se vive em Portugal. A Estrella Damm, que foi pioneira neste aspeto, tem atualmente o seu posicionamento claramente definido neste campo de atuação. Trabalhamos ao lado de muitos e reconhecidos chefs e estamos presentes em inúmeros clientes e eventos ao lado de uma gastronomia e vinhos de referência”.
No SBG, o contributo neste segmento tem sido “significativo” desde logo com o lançamento, em 2013, da gama “Super Bock Selecção 1927 que veio trazer uma nova dinâmica ao setor, sobretudo na ótica de ser um casamento ideal com a gastronomia. Esse ano foi o ponto de partida para alargar o nosso portefólio neste segmento mais artesanal, quer seja pela expansão da gama Selecção 1927 em diferentes edições limitadas, quer seja pela introdução de outras cervejas especiais, como é o caso de Super Bock Coruja. Foi a nossa novidade mais forte no ano passado, que claramente se distinguiu pela oferta de três variedades distintas de cerveja, destinadas a quem procura maior diversidade”, adianta Bruno Albuquerque.
É com bastante naturalidade que Francisco Pereira, cofundador e cervejeiro da Letra, assiste ao crescimento do novo aparecimento de cervejas com qualidade. “O segredo é ter mais pessoas a experimentar diferentes marcas e cervejas pois o que se atingiu até ao momento em termos de mercado é bastante residual. Ainda pouquíssimas pessoas experimentaram cerveja artesanal em Portugal”, afirma.
A Musa está neste momento a comemorar o seu terceiro aniversário. Bruno Carrilho, cofundador e diretor-geral considera que a “proliferação” da cerveja artesanal “é muitíssimo positiva, tendo trazido um dinamismo e uma criatividade sem precedentes ao mercado da cerveja em Portugal. Até há poucos anos, a cerveja era, em Portugal, um produto muito desinteressante, totalmente centrado em apenas um estilo de cerveja (de entre as largas dezenas existentes) produzido e comercializado na sua quase totalidade por apenas duas grandes empresas, ligadas a gigantescos grupos internacionais. O aparecimento de dezenas de novas pequenas cervejeiras, lançadas por pessoas dos mais diversos backgrounds, mas todas elas com uma enorme paixão pelo que faziam, transformou por completo este panorama”, defende. Quem começou a apostar na cerveja artesanal acabou por influenciar os próprios “gigantes do setor, a introduzir novos estilos, novas marcas e até ajustando o seu estilo de comunicação, para dar uma resposta a um consumidor que tem um nível de exigência cada vez maior”, explica.
A Cerveja Vadia faz parte do tal grupo de pioneiros do movimento de cerveja em Portugal, decorria o ano de 2010. Desde então, Nicolas Billard, sócio fundador, engenheiro cervejeiro e responsável comercial e de produção da marca tem assistido ao aparecimento das novas marcas. “Estamos a falar de centenas de marcas atualmente (130 a 140) produzidas por aproximadamente 40 a 50 produtores. Acreditamos que um dos valores do movimento é a diversidade das cervejas e dos cervejeiros”, explica, não deixando de demonstrar a preocupação pelo facto de o mercado não ter atualmente maturidade suficiente para sustentar economicamente todas estas marcas. “Estamos atualmente a atingir o pico máximo e provavelmente, este número irá estabilizar nos próximos anos.” Nicolas Billard considera que ainda há um grande trabalho a fazer para consolidar este nicho de mercado. “Com tanta escolha, o consumidor pode eventualmente sentir-se confuso inicialmente, mas acreditamos que com o tempo e com o trabalho individual de cada marca para a divulgação da cultura cervejeira e a valorização da cerveja como produto gastronómico, começará a habituar-se à diversidade procurando viver mais experiências.”
Projetos paralelos das marcas artesanais
Desde 2013 que a Letra tem vindo a conquistar o seu mercado marcando presença em inúmeros eventos de promoção da marca. “A nossa estratégia tem sido a evolução permanente nas nossas receitas, e cada vez mais, apresentar estilos de cerveja diferentes produzidas em diferentes países da Europa (no sentido de fomentar uma maior partilha de conhecimento) mas também parcerias em Portugal com outras áreas com mais tradição, como é o caso dos vinhos”, salienta Francisco Pereira. Como exemplos concretos, o responsável refere “a gama Cervejão, de três cervejas, em colaboração com a Adega Ponte da Barca onde usamos mosto da casta Vinhão para uma cerveja ideal para harmonização com pratos mais fortes e regionais; a parceria com o Anselmo Mendes onde são usadas as castas Loureiro e Alvarinho para termos cervejas com ADN verdadeiramente minhoto, e com isso, chegar a outros mercados externos e a ‘Bicho do Mato’, uma colaboração com o Chef Ljubomir Stanisic, a primeira cerveja artesanal produzida entre um grande nome da cozinha portuguesa e uma marca de cerveja artesanal”.
Em abril deste ano, a Letra lançou duas novas cervejas com dois produtos emblemáticos e característicos dos Açores: chá da gorreana e ananás. Até ao final de 2019, a previsão é lançar cerca de 50 novos rótulos.
Bruno Carrilho garante que a Musa não pretende combater as ditas cervejas convencionais, desde logo pela filosofia e diferenciação ao nível de escolha de ingredientes, como também pela escala reduzida com que trabalha. “Era nossa convicção quando lançámos a Musa – e temos confirmado isso mesmo ao longo dos últimos três anos – que uma grande faixa de consumidores de cerveja e até de pessoas que até agora não gostavam das propostas das grandes marcas vendiam como sendo a única opção, está disposta, se tiver acesso e for devidamente enquadrada, a pagar um pouco mais por uma cerveja diferente e de maior qualidade. Exatamente de que tamanho é esse segmento, é impossível ainda saber, mas nós vamos dar o litro para descobrir”, salienta o diretor-geral.
Com uma presença “bastante vincada em todos os canais de distribuição” (incluindo distribuição direta com bares próprios) bem como a aposta ao nível de exportação, a Musa lançou em abril, três cervejas novas. “A última destas, uma berliner weisse, foi criada em colaboração com o Restaurante Prado. ”A marca tem hoje distribuidores em países, como o Reino Unido, a França, a Holanda, o Luxemburgo, a Alemanha ou a Letónia.
Além de “muitas novas cervejas que irão ser lançadas ao longo de 2019”, em comemoração do terceiro aniversário, a marca anuncia a abertura de dois novos espaços próprios, que se juntam ao bar / “tap room” anexo à fábrica da Musa em Marvila, em Lisboa. O primeiro deles foi apresentado no passado dia 1 de junho e localiza-se na Bica, também na capital, e o segundo irá situar-se nas Virtudes, no Porto, ainda sem data fechada de abertura, mas com previsão para o final do terceiro trimestre do ano.
Os canais de distribuição da Cerveja Vadia repartem-se em quatro grandes grupos: a Grande Distribuição (Sonae, Auchan, Lidl e Aldi); distribuidores especializados no canal Horeca, ambos a nível nacional; vendas diretas no canal Horeca [sobretudo no mercado local, no distrito de Aveiro], bem como no brewpub da marca, e em festivais de cerveja. A marca tem vindo a apostar também em visitas abertas à fábrica “de forma a conferir uma maior proximidade com os consumidores, cada vez mais curiosos e exigentes em relação ao conhecimento do produto, da sua ‘naturalidade’ e ‘autenticidade’”, explica o Nicolas Billard.
O sócio fundador adianta que a marca irá lançar até final de junho, uma cerveja na gama harmonização e divulgar o novo visual das quatro cervejas da gama original. “A nova cerveja chama-se Vadia Nautika, uma cerveja de estilo baltic porter que já colocámos à prova, a pressão, no nosso brewpub e em festivais de cerveja.” A marca pretende assim reforçar “o novo visual das quatro cervejas da gama original, sendo que estas últimas pretendem reforçar a modernidade com uma imagem gráfica mais sóbria, de linhas simples que recordem instrumentos de música, uma bateria, uma guitarra, um teclado e um saxofone, evidenciando a forte ligação da marca à música, celebrada todos os fins de semana no ‘Vadia Brewpub’ desde 2015 e no festival Vadia Rock desde 2012”.
Este artigo foi originalmente publicado na edição 475 da revista DISTRIBUIÇÃO HOJE.