A Distribuição Hoje esteve à conversa com José Miranda, Diretor de Supply Chain e Delivery da LEROY MERLIN, para abordar que esforços tem a retalhista feito para tornar as suas operações mais eficientes.
Num momento em que o mundo está em plena transformação, o responsável pela logística da LEROY MELIN mostra-nos o caminho seguido pela marca, mas também os eixos onde devem incidir as apostas das empresas do setor.
Uma entrevista para ver na íntegra nas próximas linhas.
Que mudanças estratégicas têm implementado para tornar as cadeias de abastecimento mais resilientes e eficientes?
A crescente volatilidade do mercado, impulsionada por fatores como disrupções logísticas, instabilidade geopolítica e mudanças no comportamento do consumidor, exige dos retalhistas a adoção de uma abordagem mais ágil e robusta para a gestão da cadeia de abastecimento. Na LEROY MERLIN, temos implementado várias iniciativas para reforçar a resiliência e a eficiência da operação, nomeadamente:
- Diversificação de Fornecedores: Reduzir a dependência de um único fornecedor ou região, criando uma base de abastecimento mais distribuída. Esta abordagem minimiza riscos de escassez e permite maior rapidez no ajuste à procura, garantindo maior estabilidade na nossa operação.
- Nearshoring e Friendshoring: Apostar na relocalização estratégica de parte da produção para países mais próximos dos nossos mercados principais (nearshoring), permite reduzir os tempos de entrega e aumentar a previsibilidade. Paralelamente, apostar em fornecedores localizados em países politicamente estáveis e alinhados com os nossos valores (friendshoring), é uma forma de mitigação dos riscos geopolíticos.
- Digitalização e Automação: Implementação de tecnologias de IoT, IA e blockchain para melhorar a visibilidade, previsibilidade e eficiência da cadeia de abastecimento.
- Uso de Big Data e Análises Preditivas: A análise avançada de dados tornou-se um pilar essencial na vida das organizações. O recurso a modelos preditivos para antecipar picos de procura, identificar gargalos e otimizar a gestão de inventário e transporte, agiliza a tomada de decisão e melhora o nível de serviço.
- Logística Flexível e Multimodal: O recurso a modelos de transporte diversificados, combinando rodoviário, ferroviário, marítimo e aéreo são um importante instrumento para garantir flexibilidade e continuidade das operações. Outro instrumento importante passa pela negociação de contratos logísticos mais flexíveis, que permitam reagir rapidamente a flutuações do mercado.
- Stocks Estratégicos: Embora o modelo just-in-time continue a ser uma referência, a inclusão de stocks de segurança em categorias críticas permite lidar melhor com oscilações inesperadas da procura e minimizar impactos operacionais em momentos de crise.
- Sustentabilidade e Economia Circular: Porque a sustentabilidade também é competitividade, iniciativas como a otimização de processos logísticos, o uso de embalagens recicláveis ou reutilizáveis, o aumento da taxa de ocupação dos camiões, a segunda vida dos artigos ou a transição para transportes mais sustentáveis com metas concretas de atingimento e data são parte integrante da nossa estratégia.
- Parcerias Estratégicas: A colaboração mais estreita com fornecedores, parceiros logísticos e clientes permite criar redes de abastecimento mais ágeis e integradas. A partilha de dados em tempo real e o alinhamento e desenvolvimento de iniciativas conjuntas para aumentar a resiliência e eficiência da operação, são um dos pilares estratégicos que temos em curso no nosso plano a 3 anos.
Num contexto de disrupção contínua, investir em diversificação, digitalização, logística flexível e sustentabilidade não só fortalece a resiliência da cadeia de abastecimento, como também melhora a competitividade da empresa. As cadeias do futuro serão mais tecnológicas, adaptáveis e sustentáveis.
A pandemia e os desafios globais (como a crise dos transportes e a inflação) influenciaram a vossa estratégia logística? Se sim, como?
A pandemia, aliada às crises geopolíticas, inflação e disrupções no transporte, trouxe desafios significativos às cadeias de abastecimento e tornou mais evidente a necessidade de planos de contingência com estratégias mais robustas para garantir a continuidade operacional em cenários adversos. A digitalização e automação ganharam um novo impulso, permitindo a simplificação de processos logísticos e uma maior capacidade de previsão. A implementação de análises preditivas tornou-se essencial para antecipar picos de procura e tomar decisões mais ágeis, reduzindo ineficiências e aumentando a capacidade de resposta. A reorganização da cadeia de fornecimento foi outro ponto fundamental. Para reduzir a exposição a riscos geopolíticos e melhorar a estabilidade do abastecimento, investimos na diversificação de fornecedores e na transição para modelos de nearshoring, aproximando a produção dos mercados de consumo. Além disso, ajustámos contratos para permitir maior flexibilidade, assegurando a disponibilidade de produtos e um maior controlo sobre impactos no custo de aquisição. A confiança nos fornecedores passou a ter um papel determinante na definição dos modelos logísticos. Em muitos casos, deixámos de operar com Cross Docking para manter stocks estratégicos, garantindo níveis de serviço mais previsíveis e reduzindo a dependência de fluxos altamente voláteis. A pandemia foi um catalisador de transformação para a logística e as cadeias de abastecimento. As empresas que investiram em digitalização, flexibilidade e sustentabilidade estão hoje mais bem preparadas para enfrentar disrupções e garantir operações mais eficientes e resilientes no futuro.
“Estamos a reforçar a nossa capacidade logística em Portugal e, como parte desse plano, planeamos implementar uma nova Plataforma Regional, na região de Matosinhos”
 Têm planos para centralizar ou descentralizar os vossos armazéns e centros de distribuição?
A LEROY MERLIN centralizou, em Dezembro de 2024, todas as operações nacionais no Centro de Distribuição Nacional localizado na Castanheira do Ribatejo. Com uma área aproximada de 105.000 m2, o Centro de Distribuição Nacional teve como objetivo a centralização das operações anteriormente dispersas em diferentes armazéns, o aumento da produtividade dos processos a redução de custos globais da cadeia logística, nomeadamente de armazenagem e transporte e a melhoria do serviço prestado às lojas e aos clientes LEROY MERLIN.
Estão a procurar expandir os vossos centros logísticos em Portugal ou investir em novas infraestruturas?
Sim, estamos a reforçar a nossa capacidade logística em Portugal e, como parte desse plano, planeamos implementar uma nova Plataforma Regional, na região de Matosinhos. Esta infraestrutura terá um papel estratégico na otimização da distribuição no norte do país, permitindo tempos de resposta mais rápidos, maior eficiência operacional e um melhor serviço aos nossos clientes.
Quais são as principais iniciativas que estão a adotar para tornar as vossas operações logísticas mais sustentáveis?
As principais iniciativas adotadas assentam na melhoria contínua de processos, na digitalização e na automação dos processos com vista à redução de desperdício. A construção do Centro de Distribuição Nacional tem impacto e influência em termos ambientais para a LEROY MERLIN em vários aspetos a nível operacional, na medida em que a centralização das operações permitiu a otimização de fluxos logísticos e a diminuição da pegada de carbono associada. O Centro de Distribuição Nacional tem um impacto e influência direta para a LEROY MERLIN a nível operacional e ambiental. Com este projeto conseguimos consolidar as operações nacionais num único local o que permite otimizar os fluxos logísticos, ter uma gestão centralizada de resíduos e, por conseguinte, diminuir a pegada de carbono associada, indo assim ao encontro dos objetivos do grupo ADEO. O desenvolvimento deste projeto seguiu critérios de construção sustentáveis e eficientes, de modo a obter-se uma certificação ambiental LEED Platinum. A instalação de painéis fotovoltaicos, carregadores elétricos para veículos, iluminação LED e a gestão técnica centralizada são alguns dos exemplos das boas práticas ambientais e sustentáveis implementadas no novo entreposto.
“A crescente procura por espaços logísticos modernos tem sido um dos principais desafios no mercado imobiliário, impactando diretamente a nossa estratégia”
Há um foco na utilização de energias renováveis nos armazéns ou na eletrificação das frotas de transporte?
A LEROY MERLIN aposta em soluções de energia 100% verde e o Centro de Distribuição Nacional encontra-se equipado com 2334 painéis solares implantados numa área de 6.200 m2. Esta infraestrutura tem uma capacidade instalada de 1284 Kwp e é responsável por um rácio de cobertura de 32% e um fator de autoconsumo expectável de 87%. Adicionalmente o Centro de Distribuição Nacional será equipado com 20 carregadores elétricos para veículos ligeiros e encontra-se preparado para a transição energética, com todas as infraestruturas necessárias para receber carregadores elétricos para veículos pesados.
Que tecnologias estão a adotar para modernizar os armazéns (por exemplo, automação, robótica ou inteligência artificial)?
A LEROY MERLIN está a desenvolver vários projetos focados na Digitalização e Automação da sua operação logística. O objetivo é apostar em sistemas inteligentes baseados em inteligência artificial para antecipar potenciais constrangimentos na cadeia de abastecimento e acelerar a digitalização de todos os processos logísticos. No campo da Automação, a estratégia do Grupo ADEO passa pela implementação de soluções inovadoras que aumentem a produtividade, melhorem as condições de trabalho dos colaboradores, ampliem a capacidade operacional, reduzam tempos de processamento e elevem a qualidade do serviço prestado às lojas e aos clientes LEROY MERLIN.
Como estão a lidar com a crescente procura por espaços logísticos modernos? Há desafios no mercado imobiliário que impactam a vossa estratégia?
A crescente procura por espaços logísticos modernos tem sido um dos principais desafios no mercado imobiliário, impactando diretamente a nossa estratégia. A oferta de armazéns de última geração é limitada, o que encarece os custos e reduz a flexibilidade na escolha de localizações estratégicas. Além disso, os preços de arrendamento têm aumentado devido à elevada procura, exigindo uma gestão mais eficiente do espaço disponível. Para lidar com essa realidade, apostamos em parcerias estratégicas com operadores logísticos e na otimização do nosso footprint logístico. Estamos focados em maximizar a eficiência dos espaços existentes e identificar oportunidades que garantam a proximidade com grandes centros urbanos e boas ligações rodoviárias. Dessa forma, conseguimos manter a competitividade e responder às crescentes exigências do mercado.