O debate sobre como conter os preços dos bens essenciais em valores ‘aceitáveis’ volta a marcar a agenda europeia. A Holanda e a Roménia avançam em direções distintas, mas com um denominador comum: responder à pressão inflacionista que continua a condicionar o comportamento dos consumidores e a estratégia dos retalhistas.
Nos Países Baixos, os principais grupos de retalho estão a considerar a introdução de uma nova “camada” de preços entre as marcas A (de fornecedor) e as marcas próprias. A decisão surge num contexto em que a diferença entre estas categorias já ultrapassa os 35% a 40%, levando cada vez mais consumidores a optar por private label.
Esta faixa intermédia funcionaria como “ponte” para consumidores que, embora pressionados pelo orçamento, ainda valorizam atributos de diferenciação das marcas tradicionais. Paralelamente, a Autoridade para Consumidores e Mercados (ACM) abriu uma investigação sobre a formação de preços no setor, analisando margens e comparações com países vizinhos como a Alemanha.
A abordagem romena segue uma lógica oposta: regulação direta. O Governo decidiu prolongar até março de 2026 o regime de teto às margens em 17 categorias alimentares, incluindo pão, leite, carne, ovos e óleos.
A medida limita as margens de produtores a 20%, de distribuidores a 5% e de retalhistas a 20% sobre custos. A intenção declarada é travar aumentos adicionais e proteger o poder de compra das famílias. Contudo, parte da classe política e empresarial teme que o prolongamento desta política desincentive o investimento, afete a disponibilidade de produtos e distorça a concorrência.
Implicações para o setor
O contraste entre os dois modelos é evidente. Enquanto a Holanda procura criar mecanismos de retenção de clientes através da diversificação de oferta e monitorização regulatória, a Roménia aposta numa intervenção estatal direta sobre margens.
Para os operadores, estas abordagens trazem desafios distintos: em mercados mais maduros, como o holandês, a questão central passa por reter consumidores sem comprometer margens; já em mercados emergentes, como o romeno, o risco é o de comprometer a sustentabilidade da oferta a médio prazo.