PaperWeightAI
A solução portuguesa que quer fazer do papel a tecnologia do futuro
Na margem sul do Rio Tejo, mais concretamente em Almada, está a ser desenvolvido um projeto de sensorização de papel que poderá mudar a forma como as lojas do futuro serão desenhadas. Com potencialidades para aplicação em quase todos os segmentos do retalho, a tecnologia da PaperWeightAI já viajou até aos Estados Unidos, onde foi amplamente bem recebida. Para já, como nos conta um dos fundadores, Yoni Engel, a spin-off irá apresentar-se em nova ronda de financiamento enquanto decorrem os primeiros pilotos com retalhistas. Venha conhecer esta empresa, a primeira convidada da nova rubrica da Distribuição Hoje.
Jornalista: Sérgio Abrantes | Fotografia: Rodrigo Cabrita
Com o retalho a dar passos rumo a um futuro mais sustentável e tecnológico, todo o setor procura formas de fazer transições aceleradas de forma pouco dispendiosa. As lojas autónomas ou inteligentes têm sido uma ‘lança’ destacada nesta procura pelo que ainda não foi feito e hoje, na estreia da rubrica DH Lab, trazemos uma tecnologia, de origem portuguesa, chamada PaperWeightAI, que promete mudar a forma como serão desenhados os espaços comerciais no futuro.
Mas o que é, concretamente, esta tecnologia? Como funciona? Em conversa com o Fundador e CEO da PaperWeightAI, Yoni Engel, percebemos que esta é uma tecnologia que tem vindo a ser trabalhada durante os últimos anos, fruto de um consórcio com várias empresas, nomeadamente a Navigator, onde se procuram novas soluções de sensorização com recurso a papel. Porquê o papel? Pois bem, é reciclável, sustentável, permite ser reincorporado na cadeia de reciclagem, e obviamente economicamente muito viável.
Assim, na visita que fizemos ao laboratório da Alma Science, onde é demonstrado o funcionamento da tecnologia, conseguimos perceber que, na verdade, o desenvolvimento da PaperWeightAI assenta sobretudo em sensores impressos em papel que consegue medir, através de sensores de pressão, que produtos estão em cima dele, transformando as prateleiras de supermercado, ou qualquer tipo de loja, num ponto de dados que podem depois ser partilhados com os gestores de negócio.
“O Paperweight AI é realmente um projeto que nós nutrimos dentro da Alma Science, que entendemos que tem um potencial muito interessante para o mercado, algo que é útil para a indústria e que poderá fazer a diferença”, começa por explicar Yoni Engel.
Sem querer descortinar muito do processo de desenvolvimento, até porque, como se diz em Portugal, “o segredo é a alma do negócio”, o responsável da PaperWeightAI explicou detalhadamente as muitas vantagens do desenvolvimento a que chegaram, lembrando que, ao contrário de outras soluções no mercado, esta tecnologia apenas precisa de uma superfície plana para ser instalada. “Podemos integrar esta tecnologia numa loja em poucos minutos. A loja pode ser totalmente transformada durante a noite, sem necessidade de parar as operações do retalhista”, explica Engel.
Percebidas as vantagens iniciais, foi tempo de desvendar outras particulares da PaperWeightAI. É que esta start-up está agora a desenvolver, baseando-se nos algoritmos que já ‘afinou’, dashboards completamente interativos onde os retalhistas podem perceber muito mais da sua operação.
“Esta tecnologia tem o potencial de libertar trabalhadores para funções mais importantes. Com as prateleiras sensorizadas, podemos conseguir dados sobre o número de produtos vendidos durante o dia, em que período vendemos mais determinada categoria de produtos, por exemplo. Podemos também perceber se as prateleiras estão com défice de produtos, sendo que sempre que há um evento que precise de intervenção humana, o sistema automaticamente avisa um responsável para um problema”, explica o fundador da PaperWeight AI.
Quisemos, então, explorar como funciona essa recolha de dados. Sendo um sensor de pressão impresso numa folha, depois revestido com uma película protetora, para funcionar em pleno, apenas tem de ser determinado, num planograma, o espaço destinado a cada categoria de produtos. Automaticamente o sistema percebe o número de unidades e, estando as prateleiras equipadas com sensores, sempre que um produto é retirado da superfície sensorizada é gerado um evento, registado em sistema. A soma dos eventos permite perceber, entre muitas outras coisas, os níveis de stock, quer na frente de loja, quer no armazém.
“Este é um sensor de pressão baseado em papel que pode ser dividido em diferentes áreas e pode determinar a pressão dos produtos que estão dispostos em cima desse sensor. Uma vez instalados, os sensores, através de um algoritmo muito sofisticado que desenvolvemos, e com recurso a métodos de machine learning, oferece-nos informação sobre o que está a acontecer na prateleira e transforma essa ação num evento”, explica Yoni Engel.
“Essa é a competência principal do sistema, entender o que está a acontecer, entender a interação ou os eventos que acontecem na prateleira em tempo real. Alguém está a tirar algo da prateleira? Alguém está a colocar algo de volta? O sistema dá-nos os dados sobre todas essas interações”, sintetiza, lembrando que esta tecnologia pode também servir para detetar furtos. “Se a prateleira, de um momento para o outro, ficou sem um produto, o gestor da loja é avisado para verificar o que se passa”, acrescenta.
A informação recolhida é muita e pode depois ser transformada em insights, pode permitir uma gestão aturada do inventário da loja, os produtos que estão a vender mais ou mais rápido. Pode permitir perceber a necessidade de aplicar promoções em produtos que não estão a ter um escoamento ao nível do esperado.
“Pode ser útil para diferentes tipologias de lojas, pequenas ou de maior dimensão. Pode ser aplicado numa loja de moda e acessórios… Há muitas aplicações possíveis no campo do retalho e sentimos que estamos a trazer uma nova camada de dados para os gestores de operações retalhistas”, explica o responsável da PaperWeightAI, esclarecendo que a tecnologia pode ser integrada com outra tecnologia já desenvolvida por outras empresas.
“O retalhista pode ainda começar a ter KPI’s para a sua loja e pode aperfeiçoar o que está a fazer para se tornar melhor e para salvar vendas que perderia por exemplo como resultado de ter um produto out of stock. Se ocorrer uma situação de roubo, o retalhista não tem que esperar para contar o inventário todo para perceber que alguém roubou metade da prateleira, ele pode perceber isso em tempo real”, explica.
A presença na NRF e o futuro próximo
Ainda em fase de piloto com um retalhista a operar em Portugal, a PaperWeightAI passou durante as últimas semanas o Oceano Atlântico para se apresentar num dos maiores eventos mundiais dedicados ao retalho: a NRF. Presentes no Estados Unidos com um espaço de demonstração, esta tecnológica nascida em Portugal chamou a atenção de quase todos. Ainda que a IA seja o tema do momento em quase todas as conversas.
“A NRF foi um evento muito interessante para nós. Nós já tínhamos apresentado a nossa solução no EuroCIS, no ano passado, mas não tinha sido uma apresentação completa ainda”, começa por explicar. “Na NRF demonstrámos as capacidades de todo o sistema, apresentámos o nosso novo dashboard. Estivemos no espaço das start-ups, então havia muito tráfego de pessoas de todo o mundo”, completou.
“Foi uma oportunidade também de nos cruzarmos com algumas pessoas com quem já tínhamos contacto há mais tempo e ali tivemos a chance de conhecê-los”, explica, lembrando que nem só retalhistas em busca de produtos finais se aproximaram do stand, pois a solução da PaperWeightAI também é relevante para “grandes empresas no domínio da tecnologia, integradores ou fornecedores de soluções de câmaras ou outras que estão a pensar em integrar a nossa solução”, explicou.
Questionado, depois, sobre os próximos passos para este braço tecnológico da AlmaScience, Yoni Engel explicou que a empresa está “agora focada em completar os pilotos que tem a decorrer em Portugal” e que vai avançar para uma nova ronda de financiamento “para financiar o nosso crescimento contínuo.” “Até ao final do ano, esperamos ter lançado a nossa tecnologia em alguns locais na Europa e nos Estados Unidos. O futuro está à nossa frente”, atira para terminar.

Os fundadores
A PaperWeightAI foi fundada por Yoni Engel, um israelita que se radicou em Portugal com a família e tem vindo a apostar no ecossistema tecnológico. Com um Phd em Química e nanotecnologia pela Universidade de Tel Aviv, e também um mestrado em Engenharia da Energia, na Technion, em Israel, o agora responsável máximo da PaperWeightAI ‘enamorou-se’ por Portugal em 2017, quando veio pela primeira vez com a sua esposa. Outro dos fundadores, e atualmente o CTO da empresa, é Martin Pagotto, antigo CTO de um unicórnio na área dos pagamentos.
A PaperWeight AI
Faz parte do ecossistema de projetos da AlmaScience, um laboratório de R&D de inovação colaborativa e uma incubadora de tecnologia para materiais funcionais sustentáveis e eletrónicos verde. O foco da Alma Science é explorar materiais naturais como celulose e papel para produção de dispositivos eletrónicos funcionais – e muito mais – usando métodos de produção ecologicamente corretos e com baixíssimo desperdício.
