Jaime Freitas, responsável pela Hoppy House Brewing explica a visão desta startup nascida no seio da Sociedade Central de Cervejas.
Quem está por detrás da Hoppy House Brewing?
A Hoppy House Brewing é 100% detida pela Central de Cervejas, e a ideia de criar esta startup surgiu da oportunidade que vemos no mercado da cerveja artesanal e da tendência de que os consumidores querem cada vez mais autenticidade e variedade. Não só querem uma marca apelativa mas um produto diferenciador. Para além de quererem ter uma relação direta com quem produz. Aliás, não é um trend nacional é mundial. E vimos que iria acontecer rapidamente o mesmo em Portugal. O mercado da cerveja artesanal nos Estados Unidos vale mais de 20% daquele mercado. Na Europa, o crescimento em França e Itália já é muito interessante. Por isso decidimos que a melhor abordagem não era fazê-lo na estrutura habitual da Central de Cervejas, mas sim numa start up. Quisemos criar uma cultura de grande proximidade com os clientes e os consumidores. E por isso o nosso dia-a-dia é mesmo de startup.
Quantas pessoas é que a vossa estrutura tem?
Somos cinco pessoas. Eu sou o diretor geral, temos uma pessoa responsável pelo marketing, um cervejeiro e duas pessoas responsáveis pela área comercial em Lisboa e no Porto. Mas queremos incluir mais três pessoas na área comercial até ao verão. Queremos estar cada vez mais próximos dos nossos clientes e consumidores, e queremos mais pessoas no terreno.
E onde vão querer estar com as vossas cervejas? Vocês têm um portefólio de cervejas diferentes, com a Loba, a Onyx, a Topázio e a representação da norte-americana Lagunitas….
Todas elas têm em comum serem artesanais, mas todas têm posicionamentos diferentes. Existe uma trend dentro das cervejas artesanais que é o localismo. E por isso quisemos ter um portefólio regional, a Onyx e Topázio de Coimbra, a Loba do Porto e iremos lançar uma cerveja de Lisboa, no último trimestre de 2018 – pelo menos é o nosso objetivo. Não para que as cervejas fiquem confinadas a essas regiões, mas queremos que vão desde essas geografias para o resto do país. Já a californiana Lagunitas surge com um pensamento diferente. É uma marca líder, em termos de variedade uma vez que a sua Lagunitas IPA é a variedade mais vendida nos Estados Unidos no setor das artesanais. E contar com esta representação em Portugal é um incentivo para todos nós, uma vez que os senhores da Lagunitas andam a fazer isto há 30 anos.
Existe uma trend dentro das cervejas artesanais que é o localismo. E por isso quisemos ter um portefólio regional.”
Essa representação quer dizer que podem trocar conhecimento?
Sim, começa precisamente por aí. Quando agarrei este projeto passei 15 dias na fábrica da Lagunitas. E conheci a empresa transversalmente, e isso serviu de grande inspiração para aquilo que estamos a fazer nas nossas marcas.
Mas qual o objetivo? Representar cervejas? Criar marcas de cervejas, produzir cervejas?
Queremos contribuir para acelerar o segmento das cervejas artesanais em Portugal. É essa a nossa missão. Temos três modelos de negócio. A produção, que ainda não arrancou. O negócio de representação com a Lagunitas. E as parcerias – como temos com a Praxis, para a Topázio e Onyx, e a Post Scriptum para a Loba. Com posicionamentos diferentes conseguimos acelerar o crescimento deste segmento, é a nossa missão. É um mercado muito recente e é difícil alguém dizer com um grande grau de certeza o que vai ou não resultar. Ao alargarmos o nosso portefólio vai permitir saber o que resulta e o que não resulta. Portugal é um país com 10 milhões de pessoas, e não somos dos mais desenvolvidos no consumo per capita de cerveja, contudo, e já temos mais de 120 marcas de cerveja artesanal no mercado. Provavelmente nem todas vão sobreviver no futuro.
Há um perfil de consumidor para as vossas diferentes marcas?
Faço a ressalva que há muito pouca divulgação disponível, em termos de mercado. No caso das cervejas artesanais não é possível quantificar o mercado das artesanais em Portugal. Sabemos que há cervejas para os amantes das cervejas artesanais, como as IPA. E depois há marcas e tipos de cerveja que podem servir como porto da entrada para este mundo, as Onyx e as Topázio, são do estilo lager, o que são mais acessíveis do que o aroma de uma Loba Session IPA – no qual o consumidor menos habituado vai estranhar o aroma e amargor. Aquilo que tentamos fazer é ter uma marca que se ajuste a cada etapa do consumidor. Mesmo dentro da Loba há uma Old Pale Ale que é bastante acessível, mas que já é um degrau acima. E depois temos a Lagunitas para quem já está dentro do mundo da cerveja artesanal.
Estão a planear a abertura de algum Tap Room (local na fábrica, ou junto a esta para comer e provar cerveja artesanal)?
É é uma aposta que queremos fazer quando tivermos a nossa fábrica. Aquilo que querermos é uma grande proximidade com o consumidor, ora ter o consumidor a ir à nossa fábrica, a falar connosco e a conhecer o nosso mestre cervejeiro é isso que queremos.
E onde se pode encontrar as vossas cervejas?
O modelo de distribuição passa pela Central de Cervejas, aproveitando-se a força de vendas para chegar a nível nacional. Neste momento o foco é canal HoReCa para todas elas. Embora a Onyx e Topázio já esteja na grande distribuição. O off trade vai muito rapidamente atrás do que está a acontecer no on trade. As cervejas artesanais não são pasteurizadas e pode existir um problema na experiência para o consumidor. O produto não se estraga, mas o aroma e o amargor pode desaparecer, temos de ter algum cuidado.
“Faço a ressalva que há muito pouca divulgação disponível, em termos de mercado. No caso das cervejas artesanais não é possível quantificar o mercado das artesanais em Portugal.”
…e onde podemos encontrar a Loba e a Lagunitas?
A ideia é que exista um conceito social do consumo de cerveja. Bares especializados em cerveja. Não quer dizer que não estejamos em hamburguerias e alguns restaurantes.
E apesar de não existirem estudos e dados, como preveem que vai evoluir este segmento?
Acreditamos, sem dados concretos, mas pelo que apercebemos por outros países e pelo que falamos. Há um target mais jovem, não os universitários, por razões económicas, mas na faixa etária entre os 24/40 anos. É aquela pessoa que não gosta de mainstream, que é viajada e que está mais sensível às trends. São essas as pessoas que estão a potenciar esse consumo em Portugal. Por outro lado, o turismo. Locais onde existem turistas têm grande potencial. Existem turismo dedicado a isso, com pessoas a viajarem para conhecerem as microcervejeiras no estrangeiro. Acreditamos que daqui a 10 anos, a cerveja artesanal vai deixar de ser um nicho e possa valer 5 a 6% do mercado.