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Criador da app Lydia: pagamentos móveis não são o objetivo são um meio

Cyrril Chiche, CEO da Lydia

No dia em que ouvir utilizadores a dizerem “eu lydio-te dinheiro”, Cyril Chiche, CEO da empresa, teve noção da importância da missão da sua empresa: uma aplicação que permite aos utilizadores enviar dinheiro a outros.

A francesa Lydia foi uma das várias empresas convidadas a partilhar os seus pontos de vista sobre o impacto, desafios e oportunidades nos pagamentos móveis.

Cyril Chiche é CEO da Lydia, empresa criadora de uma aplicação de pagamentos P2P, muito utilizada por jovens em França. Impossibilitado de se deslocar a Lisboa para o SmartPayments Congress, gravou a apresentação a partir de França. Deste modo partilhou a sua visão sobre o papel que as aplicações móveis (ou, nas suas palavras, seja o que for que venha a surgir daqui para frente) terão, no futuro, no dia-a-dia dos utilizadores. Serão facilitadoras de um estilo de vida, terão de ser intuitivas e capazes de acompanhar a evolução das tendências.

 

SmartPaymentsNews – O que é a Lydia?

Cyril Chiche (CC) – A Lydia foi fundada em 2011, em Paris. Lançámos a primeira versão do produto em julho de 2013, em França. A ideia inicial era criar uma interface móvel para todas as transações. Principalmente transações do dia-a-dia: devolver dinheiro a amigos, pagar em lojas ou pagar online.

 

No início tínhamos um sistema de core-banking, que construímos de raiz. Não usámos um sistema externo. Temos, por isso, um sistema muito ágil, atualizado, construído para a mobilidade e que funciona em tempo real, que muitos bancos provavelmente lamentam não poder ter, porque os seus sistemas são mais antigos.

A partir desse sistema pudemos criar experiências de utilizador incríveis, uma proposta de valor elevado para os utilizadores.

 

A nossa primeira solução foi P2P. Basicamente servia para mandar dinheiro para outras pessoas. Penso que foi a primeira solução que permitiu aos franceses enviarem dinheiro uns aos outros em tempo real – de forma realmente instantânea -, terem uma notificação instantânea, débito instantâneo e crédito instantâneo. Isto ainda em 2013.

O que diferencia a Lydia de outras aplicações?

 

CC – Em 2015, no final do ano, fui convidado para participar numa aula numa famosa universidade de Finanças francesa (Universidade de Paris Dauphine). E, ao percorrer o corredor, chamou-me a atenção uma conversa entre alunos em que um deles disse ao outro “Vai comprar. Eu Lydio-te”.

E nesse momento tive uma revelação. As pessoas estavam a usar Lydia como verbo. Significa muito. Significa que as pessoas adotaram o sistema Lydia, que faz parte integrante do seu dia-a-dia. Tornaram-na sua, perceberam o princípio e perceberam como estava a facilitar o seu modo de vida.

E é isso que estamos a construir. Estamos a construir facilitadores de estilo de vida. No perímetro dos serviços financeiros, mas realmente facilitadores da vida. E é isto que nos diferencia de atores incumbentes. É nisto que se traduz o nosso sucesso.

“Estamos a construir facilitadores de estilo de vida“, Cyril Chiche, Lydia

Quais são as oportunidades e desafios dos pagamentos móveis?

CC – Os pagamentos móveis não são um objetivo. São uma forma de fazer as coisas. O que se passa é que, atualmente, o que temos nas nossas mãos a maior parte do tempo é o nosso telemóvel. Mas, amanhã poderá ser algo muito diferente. Poderão ser wearables ou até algo que ainda não sabemos o que é. Poderá não ser nada. Poderão ser apenas interações biométricas.

A oportunidade é ter nesta interface, com a qual estamos familiarizados e habituados a utilizar para tudo no dia-a-dia, o controlo da nossa vida financeira.

De qualquer modo, há verdadeiros desafios. Alguns dos desafios surgem da regulação. Outros desafios vêm da capacidade para realmente utilizar as interfaces móveis. Naturalmente, para pessoas com 20 anos é muitíssimo fácil. E é por isso que apontámos para esse grupo de idade. Atualmente 77% da nossa base de utilizadores faz parte do grupo de idades dos 18 aos 30 anos. E é sensivelmente 15% desse grupo de idade em França. É muita gente e cresce 0,8% ao mês. Naturalmente não é a mesma coisa para pessoas de 70 anos.

Alterar os hábitos das pessoas é algo complexo e ainda mais complexo é se diz respeito a um assunto sensível. E definitivamente, o dinheiro é um assunto sensível. Para toda a gente. Por mais dinheiro que se tenha é um tema sensível, é cultural. Por isso, mudar os hábitos das pessoas sobre dinheiro é um grande desafio.

A relação entre os utilizadores e as m-wallets é segura?

CC – Ser “só-móvel” ajuda-nos muito em matéria de segurança, porque reduzimos o risco de ser atacados por dispositivos desconhecidos. Porque as aplicações móveis nos dispositivos móveis têm uma assinatura que verificamos em todas as interações. Por isso é muito mais seguro do que existe hoje. Atualmente, a coisa menos segura que temos é um cartão no nosso bolso. Porque se alguém tirar uma foto ao número do cartão pode comprar coisas na internet.

Alguns sites têm sistemas de segurança, outros não. Basicamente pode-se ser roubado apenas porque alguém, num bar, tirou uma foto do seu cartão. E esse é considerado “o método de pagamento mais seguro que temos atualmente no nosso bolso”.

Peguemos no exemplo da app Lydia. Se eu quiser utilizar a aplicação Lydia para transferir dinheiro para alguém, em primeiro lugar tenho de ser identificado no meu telemóvel. E, atualmente, a maior parte das vezes através do reconhecimento biométrico. Depois é necessário estar registado e autenticado na aplicação. Depois tenho de fazer outra autenticação biométrica ou através de código pin. E, dependendo do tipo de transação, serão necessárias medidas de segurança adicionais. Quando as regras e a aprendizagem automática apontam para a possibilidade de risco nessa transação.

Como se vê, é bem mais seguro que colocar apenas um código de quatro dígitos.

Qual é a sua opinião sobre as aplicações móveis da banca?

CC – Eu faço tudo a partir da Lydia. Posso verificar as minhas contas, os saldos e iniciar pagamentos a partir das minhas contas.

De facto, já não utilizo a aplicação do meu banco, não sou grande fã das interfaces, não as considero intuitivas e, de qualquer modo, na maioria das vezes, nem são em tempo real. Por isso, prefiro usar a Lydia que, basicamente, orquestra as coisas das minhas contas bancárias. Por exemplo, se precisar de pagar a renda do meu apartamento, inicio uma ordem de pagamento da minha conta para a conta do meu senhorio, a partir da interface da Lydia, sem que o dinheiro passe pela aplicação.

E isso é algo tornado possível devido à nova regulamentação de pagamentos, nomeadamente a PSD2. Estamos à beira de uma grande mudança no mundo da banca, devido a essa regulamentação e essa mudança significa basicamente que qualquer instituição financeira vai ter acesso, se o cliente estiver de acordo, a outras instituições financeiras em que o cliente tem uma conta. Isso será obrigatório para todos.

Em setembro, haverá um novo standard que permite às instituições financeiras interagir umas com as outras e o cliente pode escolher a interface que mais gosta.

É uma grande mudança: vamos passar de um sistema de silos para um ecossistema. E mais que nunca, as interfaces – e a interface móvel, em particular – serão um grande diferenciador. Acredito que a Lydia está extremamente bem posicionada neste mercado das interfaces.

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