Uma nova análise publicada pela PYMNTS Intelligence está a desafiar as ideias tradicionais sobre o crédito ao consumo, mostrando que a estabilidade financeira — e não apenas o nível de rendimento — é o principal fator que determina o como e o porquê de os consumidores recorrem ao crédito.
O relatório, intitulado “Financial Lifestyles Shape Credit Reliance“, baseia-se num inquérito realizado em dezembro a 2.298 consumidores dos Estados Unidos da América (EUA), e classifica os inquiridos em três perfis financeiros distintos: quem não vive do salário ao fim do mês; quem vive do salário, mas sem dificuldades, e quem vive do salário com dificuldades em pagar contas.
De acordo com a análise, esta segmentação permitiu identificar grandes disparidades nos padrões de utilização do crédito e nas motivações que levam os consumidores a recorrer a produtos financeiros.
Enquanto os consumidores financeiramente estáveis tendem a usar o crédito de forma estratégica, por exemplo, para acumular recompensas ou gerir despesas, os que vivem com dificuldades recorrem frequentemente ao crédito por pura necessidade, nomeadamente para pagar despesas básicas como alimentação ou saúde.
Cerca de 43% dos consumidores com dificuldades afirmaram não conseguir cobrir despesas essenciais sem crédito — um valor oito vezes superior ao dos consumidores que não vivem do salário ao fim do mês. No que toca a despesas não essenciais, o grupo em dificuldades recorre ao crédito seis vezes mais do que os financeiramente mais estáveis.
Apesar da maior dependência, os consumidores em situação financeira precária usam o crédito para uma proporção menor do seu total de despesas: 41% das essenciais e 43% das não essenciais, possivelmente por terem limites de crédito mais baixos ou serem mais cautelosos no uso. Já os consumidores estáveis recorrem ao crédito em 56% das despesas essenciais e 63% das não essenciais.
O relatório revelou ainda que quem vive com dificuldades recorre muito mais a produtos de crédito alternativos, como descobertos bancários, empréstimos pessoais e crédito rápido (“payday loans”). Estes produtos representaram 31% das despesas essenciais feitas com crédito neste grupo, três vezes mais do que entre os consumidores estáveis. No caso das despesas não essenciais, esta diferença é ainda maior: 35% contra 8,9%.
O estudo concluiu que também é mais comum entre os consumidores com maiores dificuldades o uso de pagamentos fracionados para gerir fluxos de caixa, assim como uma maior adesão a soluções “compre agora, pague depois” (BNPL).
 A investigação revelou ainda que os consumidores com maiores dificuldades financeiras estão sobrerrepresentados em determinados grupos demográficos: gerações mais jovens, pessoas com filhos, casais em união de facto, trabalhadores por conta própria ou desempregados.

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