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Supply Chain 4.0

Tudo em casa, sem sair de casa

Entregas em casa

A pandemia apenas veio acelerar uma tendência há muito em crescendo, em que apenas à distância de um curto telefonema ou de um simples clique, se pode encomendar um pouco de tudo para receber em poucos minutos. A variedade da oferta e a rapidez do serviço, parece ser o melhor de dois mundos, mas também levanta algumas questões, sejam elas sociais, económicas ou ambientais, que só comprovam como a era do Q-commerce já é uma realidade.

Quando a Glovo iniciou a atividade em Portugal, há cerca de cinco anos, a equipa era apenas composta por quatro pessoas, a que se somavam 30 parceiros, para operar numa única cidade, Lisboa. Hoje, a start-up espanhola, surgida em 2015 em Barcelona, é já um dos grandes players europeus no novo mercado do Q-commerce ou comércio eletrónico rápido (do inglês quick commerce), caracterizado pela rapidez das entregas (quase) sem custos adicionais.
“Sempre tivemos em mente que este percurso é uma maratona e não um sprint, oferecemos um serviço de confiança, tanto para estafetas, parceiros e restaurantes, e estes atributos foram reconhecidos por todos”, refere à MOB Magazine Vera Cardoso, a PR manager da Glovo em Portugal, numa explicação que pode ser aplicada a todo este novo mercado.
Adicionalmente, a Glovo investiu também para diversificar o conteúdo disponível na app e atualmente conta já “com centenas de milhares de produtos”, bem como “uma equipa 100% dedicada ao Q-commerce”, área que inclui mercearia, saúde e lojas em parceria com algumas das maiores marcas a operar em Portugal.
“Estamos presentes em mais de 90 cidades, de Norte a Sul do país, incluindo Madeira e Açores, com mais de 8.500 parceiros e milhares de utilizadores mensais”, especifica esta responsável.
Para melhor se compreender esta verdadeira revolução nos hábitos de consumo, basta recordar que, há apenas poucos anos, apenas era possível encomendar pizzas e pouco mais, com entrega em 30 minutos. Neste momento, além das ditas, é possível encomendar não só todo o tipo de comida, como telemóveis, computadores, brinquedos, compras de supermercado e tudo quanto necessitarmos sem sair de casa, com entrega muitas vezes em menos de 30 minutos.
“O maior desafio é ganhar a confiança dos utilizadores, parceiros e estafetas. Conseguimo-lo ao assegurar um serviço confiável para todos os envolvidos, mas também graças à nossa visão de multicategoria, que permite aos utilizadores encontrarem na nossa aplicação tudo aquilo que precisam”, sustenta Vera Cardoso. Só no último ano, a empresa teve “um crescimento de mais de 100% em todas as categorias”, o que é “bem demonstrativo do potencial deste tipo de negócio”.
Segundo um estudo feito para a Centromarca (Associação portuguesa de empresas de produtos de marca) pela Kantar, uma das empresas líderes mundiais na análise de comportamentos do consumidor, o negócio da entrega de refeições foi um dos que mais cresceu em todo o mundo durante o primeiro semestre de 2021. E Portugal liderou nesse crescimento, passando de 57 para 73% em apenas um ano. Porém, outra conclusão do estudo foi a de que o comércio online foi o que mais cresceu neste período, quando comparado com o período pré-pandemia, passando de 2,2 para 3,3 de quota de mercado, sendo também o único segmento a crescer comparativamente a 2020.
Nos últimos dois anos, também devido à mudança de hábitos de consumo provocada pela pandemia e pelos sucessivos confinamentos, o mercado explodiu, com cada vez mais ofertas neste novo comércio de proximidade. Entre as diversas start-up, tanto nacionais como internacionais, que começaram a operar no mercado nacional, o Mercadão diferenciou-se da concorrência por apenas trabalhar com lojas e cadeias específicas, entre as quais se destaca o Pingo Doce.
Num mercado que trabalha essencialmente com dark-stores, como são conhecidos os locais de armazenamento, habitualmente localizados em centros urbanos e parecidos a lojas comuns, mas encerradas ao público, esta diferenciação chamou a atenção dos gigantes da indústria e, no final do ano passado, foi anunciada a aquisição do Mercadão pela Glovo, por valores não divulgados.
Mais ou menos na mesma altura, a empresa catalã adquiriu também a espanhola Lola Market, com o objetivo de replicar o modelo de negócio das duas companhias nos países onde já opera. Conforme explicou à MOB o CEO do Mercadão, Gonçalo Soares da Costa, que vai assumir também a liderança da Lola Market, “as parcerias com as diferentes insígnias são sem dúvida uma vantagem, pois permitem diversificar a oferta disponível no nosso marketplace e desta maneira procurar atender cada vez melhor àquilo que os consumidores necessitam e procuram”.
Neste momento, o Mercadão já cobre mais de 75% do território português e opera em mais de 100 cidades de norte a sul do país, tal como nas ilhas da Madeira e de São Miguel, nos Açores.
Quanto ao novo papel do Mercadão dentro da estrutura da Glovo, Gonçalo Soares da Costa garante que “o negócio segue independente”, mas com um mandato claro e extremamente desafiante: “internacionalizar a nossa proposta e sermos o marketplace de referência para os consumidores fazerem as suas compras semanais, nos mais de 20 mercados onde a Glovo se encontra”.
Não deixa de ser notável, esta aposta da Glovo, tendo em conta que Portugal foi sempre um dos países com mais baixas taxas de penetração das vendas online, atrás da maioria dos países da União Europeia. Contudo, como sublinha Gonçalo Soares da Costa, “a pandemia veio ajudar a democratizar as compras online a nível nacional, porque trouxe a necessidade de os consumidores recorrerem a soluções de entrega ao domicílio, fazendo com que muitos, depois de experimentar, ganhassem o hábito de o utilizar.” Além da pandemia, contribuíram igualmente para este “processo gradual” de crescimento “todos os operadores que têm entrado no mercado”, provocando “uma mudança mais acelerada” dos hábitos de compra. Ou seja, “os consumidores continuam a comprar nas lojas físicas, mas complementam as suas compras no canal online”.

 

Entregas

O Futuro é móvel

Desde que chegou a Portugal, em 2018, a Bolt tem alargado o seu portfólio de negócios a diversas áreas, tendo sempre a mobilidade como meta. Atualmente, e além do serviço de transporte de passageiros TVDE e de diversas propostas de micromobilidade urbana, da qual fazem parte as trotinetes e bicicletas elétricas Bolt, a oferta inclui ainda a Bolt Business, dedicada a ajudar as empresas a adotarem serviços de mobilidade mais sustentáveis e convenientes para os seus colaboradores, a Bolt Food e, a mais recente, o Bolt Market, um serviço online de entregas de mercearias em 15 minutos, introduzido em Portugal em novembro do ano passado, logo após o lançamento na Estónia, o país de origem da empresa.
“Portugal revelou ser um país com um enorme potencial, onde temos implementadas cinco áreas de negócio que nos deixam muito orgulhosos”, afirma David Silva, o responsável pela Bolt Food Portugal, para quem a pandemia representou, ao mesmo tempo, uma desafio e uma oportunidade: “Se por um lado o serviço de TVDE sofreu uma queda na procura durante os períodos iniciais de confinamento, por outro, permitiu-nos lançar a Bolt Food e a Bolt Market, que tiverem uma tração muito boa no mercado”, salienta.
A Bolt Food já cobre a totalidade da zona da Grande Lisboa, Porto e Coimbra, enquanto a Bolt Market está, para já, apenas presente em Lisboa, mas o objetivo é expandir-se a outras zonas, tal como já acontece com o transporte de passageiros. “Atualmente, já é possível viajar de Bolt em qualquer zona do país e o serviço de trotinetes elétricas já está presente em Braga, Coimbra, Barcelos, Setúbal, Cascais e Lisboa, que conta também com as bicicletas elétricas. Consideramos fundamental continuar a disponibilizar os nossos serviços para além das grandes cidades, como é o caso do interior do país e, durante 2022, continuaremos a expandir todos os nossos serviços”, promete David Silva, defendendo que “a mobilidade do futuro vai integrar vários tipos de soluções numa só plataforma, apresentando-se como uma experiência simplificada para o utilizador.”

 

Um negócio verde com algumas zonas cinzentas

Em cidades como Nova Iorque ou Los Angeles, onde as vendas online com entrega em 30 minutos já existem há muito, a discussão começa agora centrar-se no modo como este negócio está aos poucos a enfraquecer a vida em comunidade, com as lojas físicas tradicionais a serem, aos poucos, substituídas pelas chamadas dark-stores.
Outra crítica comumente ouvida está relacionada com a falta de legislação laboral para os colaboradores destas novas empresas, nomeadamente os estafetas. Um estudo realizado este ano pela consultora Copenhagen Economics, para o qual foram ouvidos estafetas de toda a Europa (Portugal incluído), revela, no entanto, uma outra realidade, demonstrando que 72% dos inquiridos consideram as entregas “uma atividade complementar”, enquanto para 34% “são um complemento enquanto estudam” e para outros 34% representam uma forma de “aumentar o rendimento” em simultâneo com outro trabalho.
Portanto, e de acordo com o estudo, se esta atividade fosse substituída por um modelo de emprego mais tradicional e menos flexível, “até 75 mil estafetas em toda a Europa poderiam ser forçados a deixar de trabalhar”.
Do outro lado da moeda destas dúvidas, há, todavia, a certeza de que este é um negócio cada vez mais sustentável, facto ao qual também não será alheia a cada vez maior sensibilidade da sociedade para estas questões.
“Felizmente, os consumidores são cada vez mais sensíveis a este tema e, de facto, o comércio eletrónico pode contribuir para uma menor pegada ecológica, dependendo do formato”, refere Gonçalo Soares da Costa. E o facto do serviço de entregas de proximidade ser cada vez mais ecológico (com recurso a bicicletas e veículos elétricos e portanto não poluentes) “é claramente uma mais-valia para o negócio”, como assinala Vera Cardoso, lembrando que “a Glovo foi a primeira empresa de delivery com os seus objetivos para 2030 reconhecidos pela iniciativa Science Based Targets. E no final de 2021 também atingimos o objetivo de ser uma empresa carbon neutral”.

“Felizmente, os consumidores são cada vez mais sensíveis a este tema e, de facto, o comércio eletrónico pode contribuir para uma menor pegada ecológica, dependendo do formato”
Gonçalo Soares da Costa

O principal desafio é, como sempre, o tempo, o que obriga as empresas a investirem cada vez mais em tecnologias, nomeadamente em aplicações próprias, para o potenciarem da melhor forma.
“O objetivo é sempre que o pedido chegue ao utilizador no menor tempo possível e o sistema está desenhado nessa ótica, tendo em conta diversos parâmetros para atribuição dos pedidos, como a distância, o tempo de preparação do pedido ou o trânsito, entre outros”, revela Vera Cardoso. E a montante, esta máxima eficiência de tempo, também “permite que os parceiros possam servir on demand e os estafetas possam aumentar os seus ganhos.”
Para Gonçalo Soares da Costa, tem sido também através do tempo que o Mercadão se tem destacado entre a concorrência: “garantimos que as entregas chegam em apenas duas horas à casa dos portugueses e isto apenas é possível graças ao nosso modelo de proximidade. Cada um dos nossos personal shoppers trabalha em pequenas áreas de entrega e, por isso, o tempo médio de deslocação da loja à morada de entrega é de apenas 17 minutos. Desta forma, as distâncias são menores e as encomendas chegam com toda a rapidez e frescura, mesmo nos sítios com maior tráfego de carros e pessoas”.
E em cidades com topografias tão singulares como Lisboa ou Porto, os acessos são de facto um desafio, como reconhece Vera Cardoso.
“A maior parte dos estafetas que operam através da app Glovo utilizam motociclos ou bicicletas, o que por si só já facilita bastante. No entanto, particularmente no caso das colinas em Lisboa e no Porto, temos definidas as zonas em que apenas podem entrar determinado tipo de veículos, permitindo assim otimizar o melhor veículo consoante a zona de entrega”.

 

O pioneiro das entregas verdes

Apaixonado pelo ciclismo, Pedro Ventura tinha apenas 26 anos, quando, em 2009, fundou a Camisola Amarela, que como o nome deixa adivinhar foi a primeira empresa portuguesa de estafetas em bicicleta

Como surgiu a ideia de criar um serviço de estafeta em bicicleta direcionado para o mercado corporativo?
Surgiu com o desejo de colocar em prática uma ideia antiga. Já conhecia o conceito de outras cidades e desejava aplicá-lo na cidade de Lisboa. Criei a marca e lancei o negócio, que deu origem a esta aventura, já com 12 anos. O objetivo é continuar a oferecer um serviço de qualidade aos nossos clientes, para quem o preço não é o principal motivo de escolha.

Como é que o mercado reagiu?
Bastante bem, curiosamente. Começou inicialmente através do meu círculo de conhecimento e influência, mas depois muitas empresas quiseram experimentar o conceito e, ao perceberem que funcionava, ficaram fidelizadas. A imprensa também aceitou bem o conceito e isso acabou por contribuir para uma maior notoriedade da marca.

Tinha noção, quando iniciou a empresa, que estava a antecipar uma tendência?
Sim, porque já conhecia o conceito de outras cidades norte-americanas e europeias.

Entregas em bicicleta

Como são determinadas e definidas as rotas de entregas? Recorre a algum tipo de tecnologia para simplificar e potenciar o serviço?
As rotas são geridas por quem gere os serviços, de forma a otimizar as mesmas. Uma coisa é certa, não há um dia igual ao outro nesta atividade.

Em que cidades estão presentes?
Neste momento, somente em Lisboa. Noutras cidades, nomeadamente no Porto, recorremos a parcerias.

Qual o principal desafio deste tipo de oferta numa cidade com acessos tão complicados como Lisboa?
Um dos problemas principais eram as faltas de infraestruturas adequadas à bicicleta.
O que se encontrava em 2009 é muito diferente do que estamos a viver atualmente, em 2022, na cidade de Lisboa. Há que reconhecer que a autarquia tem feito um excelente trabalho nesse sentido.

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