O mercado português, no que diz respeito ao setor alimentar, registou um crescimento em 2023, impulsionado pela alta inflação.
Apesar da diminuição dos volumes, os consumidores optaram por produtos de maior qualidade. No entanto, as vendas reais diminuíram novamente, ficando abaixo dos níveis de 2019.
São as conclusões do relatório “The State of Grocery Retail 2024: Europe – Signs of hope”, realizado pela McKinsey & Company e pela EuroCommerce, que divulgou uma visão do setor alimentar europeu, incluindo o mercado português, no decorrer do ano passado.
Para Ana Paula Guimarães, sócia da McKinsey & Company em Portugal, “a tendência dominante em 2023 em toda a Europa foi a inflação, que captou a atenção do setor alimentar. Em resposta ao aumento dos preços, os consumidores voltaram a ajustar os seus gastos, tal como já tinham feito no ano anterior, o que levou a uma queda no volume e nas operações, embora Portugal tenha contrariado esta tendência com um aumento de 0,4% na cesta de compras dos consumidores”.
De acordo com o estudo, os supermercados em Portugal foram “os principais impulsionadores do crescimento em valor e ganharam quota de mercado”, enquanto o segmento online registou um desempenho estável e os discounters “não conseguiram acompanhar o ritmo de crescimento do mercado”.
Em relação aos supermercados, e segundo o relatório da McKinsey & Company, foi registado um crescimento “relativamente rápido” de 9,5% comparado a 2022, tendo ganho quota de mercado, com um aumento de 0,8 pontos percentuais.
As vendas totais aumentaram 8,2% em relação ao ano anterior, “impulsionadas por uma inflação continuamente elevada (10,4%), que compensou uma pequena perda de volume (2,4%)”, explica a análise da consultora. Desta forma, o estudo também indica que os consumidores deixaram de optar por produtos mais económicos, no entanto, as vendas reais diminuíram 2% e situam-se agora nos 3,1%, abaixo dos níveis de 2019.
Relativamente à receita online, o relatório avança ter existido uma ligeira diminuição em 2023, com um declínio de 0,4% em relação ao ano anterior, tendo a participação de mercado diminuído em 0,2 pontos percentuais, atingindo 2,3%.
Já no que diz respeito ao desempenho dos discounters, a análise refere que registaram um crescimento de 4,7%. No entanto, “não acompanharam o crescimento do mercado”, resultando numa perda de quota de 0,6 pontos percentuais, que se situa nos 17,9%.
Em relação à quota de mercado das marcas próprias, o relatório da McKinsey & Company indica que continuou a crescer, aumentando em mais 3,2 pontos percentuais em 2023, alcançando os 45,4%.
Qual o estado do setor alimentar na Europa?
Relativamente ao setor alimentar europeu, 2023 foi “dominado pela inflação”, explica o relatório, avançando que os consumidores “apertaram os cordões à bolsa”, o que levou a uma diminuição do volume e a uma preferência significativa por produtos mais económicos.
Neste sentido, o crescimento da indústria (8,6%) ficou “significativamente abaixo” da inflação alimentar (12,8%).
De acordo com o relatório da consultora, em 2024, os consumidores planeiam reduzir a compra de produtos mais económicos face ao ano passado, sendo que alguns grupos de clientes afirmaram pretender começar a comprar produtos de valor mais elevado. “Se esta tendência se mantiver, a McKinsey e a EuroCommerce esperam que o volume total de produtos alimentares na Europa volte a crescer no segundo semestre de 2024”, indica a análise.
Para Daniel Läubli, Diretor Global de Retalho do Setor Alimentar da McKinsey, “o State of Grocery continua a apresentar desafios, mas o sentimento do consumidor está a melhorar e surgem novas oportunidades para os retalhistas. Vemos três prioridades estratégicas: equilibrar preços acessíveis com produtos que acrescentam valor, como opções saudáveis e alimentos prontos a comer; reduzir mais os custos; desenvolver e expandir o seu negócio de Retail Media”.
O relatório teve por base um inquérito realizado a mais de 30 líderes europeus do setor alimentar e a mais de 12.000 consumidores, em 11 países europeus, incluindo Portugal.