Em vésperas da realização do VI Congresso da APED, a DISTRIBUIÇÃO HOJE esteve à conversa com Ana Isabel Trigo Morais, diretora-geral da Associação. O Museu do Oriente abre as portas no começo de maio para o evento que tem como tema principal “Crescer com o Consumidor”. Porque é para o consumidor que as empresas de distribuição trabalham diariamente e é com ele que o setor cresce.
O VI Congresso da APED realiza-se no início de maio, que novidades vamos ter nesta edição?
A sexta edição realiza-se nos próximos dias 3 e 4 de maio no Museu do Oriente e será muito virada para o consumidor. Seguimos o formato de sucesso que tem corrido muitíssimo bem nas últimas edições. Juntamos esta comunidade de negócios e de stakeolders do setor da distribuição, tanto na área de atividade alimentar, como todos os operadores da área do não alimentar. Juntamos esta comunidade do setor com os seus principais stakeholders para pensarmos um pouco sobre as grandes questões e temas relevantes para o negócio, como por exemplo, discutir a evolução das marcas próprias, as evoluções dos meios de pagamento e um conjunto de temas que não são imediatamente evidentes ou impactantes para a atividade do setor mas que sabemos que, de uma maneira ou de outra, vão moldar o mundo e vão levar a transformações do nosso negócio e da maneira de estarmos na nossa atividade.
São temas que não serão tão evidentes a curto prazo mas que poderão ser impactantes a médio e longo prazo?
Sim. Eles discutem-se agora e uma reflexão um pouco mais aprofundada ajuda-nos a perceber como é que irão impactar o negócio no futuro. O principal tema deste Congresso é o consumidor. É ele que está sempre no centro da atividade da distribuição. Escolhemos um ângulo que consideramos crítico e importante abordar nesta altura e que se relaciona com o crescimento da economia, das empresas do setor e do país, ou seja, tudo aquilo com que nos preocupamos. Estamos neste momento a discutir o Orçamento do Estado que reflete linhas de atuações políticas que colocam a questão do consumo como um motor a que é reconhecida importância no desenvolvimento e no crescimento pelo que entendemos que discutir o crescimento com o consumidor é o tema mais relevante pois sem o consumidor, sem o cidadão, sem os portugueses tomarem um conjunto de medidas, terem mais poder de compra, terem mais capacidade de fazer escolhas, não haverá crescimento da nossa economia e do nosso setor.
Considera que o Orçamento de Estado deste ano beneficia o setor?
Temos de facto um Orçamento que, este ano, reflete uma opção: a de diminuir a carga fiscal nos impostos diretos. Portanto, a expetativa é a de que os consumidores e as famílias tenham mais rendimento disponível e o transfiram para consumo. Por outro lado, esperamos que esta transferência para consumo sirva para que consigamos sair destes crescimentos muito anémicos que temos tido na nossa economia nos últimos anos. Todos temos de olhar para o consumidor e perceber para quem estamos a trabalhar. O consumidor é no final do dia a razão de ser de todos nós. Como costumamos dizer no setor, o nosso foco está no consumidor. Somos talvez quem melhor conhece o consumidor porque estamos muito próximos dele. Escolhemos este tema para o Congresso por estar relacionado com as nossas ambições e com os desafios que se colocam ao país e aos agentes económicos. Este é o nosso tema “chapéu” e a ele seguem-se algumas discussões em torno de outros aspetos importantes. Um dos temas que vamos abordar é a evolução do mercado petróleo e a forma como estamos a viver os tempos de petróleo que atinge cotações que não eram muito expetáveis há uns anos. Queremos perceber como é que a evolução do mercado de petróleo e a evolução geopolítica têm impactos na área dos bens de grande consumo. Não é nada indiferente que os combustíveis estejam com um preço mais ou menos elevado para a formação final do preço dos produtos como não é nada indiferente se usamos combustíveis mais derivados do petróleo ou aqueles que são mais sustentáveis e com menos impacto ambiental. Temos que pensar que o petróleo é a matéria-prima base para uma componente muito importante para o consumo que são os plásticos e os seus derivados que constituem a forma de embalar e de fazer chegar produtos a casa das pessoas.
Quer destacar alguns dos oradores presentes no Congresso?
Para este painel relacionado com o petróleo, contamos com Dr. Luís Amado que vai ser o nosso speaker sobre estes temas. Economista, atento ao mundo, foi ministro dos Negócios Estrangeiros e é uma pessoa familiarizada com a elaboração de políticas públicas. Vamos ouvir a sua visão e saber como analisa esta realidade. Temos depois – ainda sobre este tema – uma mesa redonda com pessoas extraordinárias que vai ser moderada pelo Nicolau Santos e terá como oradores o Dr. António Costa e Silva, presidente da Partex, o Dr. Caleia Rodrigues, um grande perito na geopolítica do petróleo e também o Professor Miguel Monjardino que é um grande especialista em geopolítica. Na primeira tarde do Congresso, vamos dedicar-nos às tendências atuais no mundo do retalho. No fundo, queremos procurar a chave de acesso ao consumidor no retalho em geral. Para discutirmos isso, temos de tentar descobrir algumas áreas fundamentais para nos relacionarmos com o consumidor: desde logo, os meios de pagamento (que à exceção do mobile, continua a ser uma realidade muito importante. Os meios de pagamento, para além de serem um pilar fundamental de qualquer transação, são também um fator de confiança); as redes sociais e as grandes plataformas no mundo, para o qual convidámos o Pedro Pina, em representação da Google. No que respeita aos meios de pagamento, vamos ter o Paul Lee, um especialista da Deloitte UK, e uma pessoa muito curiosa e interessante, o Carlo Ratti, diretor do IMT que esteve na base da conceção do supermercado do futuro (conceito apresentado na Expo Milão 2015) onde, para além de se aliar ferramentas de comunicação com o consumidor, absolutamente digitais e conectáveis, nos traz também uma realidade muito importante que é a informação que damos ao consumidor e o que ele quer mesmo saber, bem como a proximidade que o mesmo procura ter com os produtos que vai comprar.
O que nos reserva o segundo dia do Congresso?
Vamos trazer um tema novo e é pela primeira vez que iremos discutir a importância do turismo no retalho. Este tema “Cidades e Turismo: retalho, um ativo turístico” surgiu porque achamos fundamental discutir o papel do retalho na criação de ofertas atrativas no país e como conseguimos responder às novas tendências dos turistas que nos visitam, que são nossos clientes e daqueles que vêm para o nosso país à procura de uma atratividade que lhe é seguramente dada pelo setor da distribuição e do comércio.Sentimos que é uma responsabilidade e um desafio olharmos para o turismo como uma área da economia que mais sustentadamente cresceu nos últimos anos e que acreditamos continuará a crescer e a criar riqueza para o país. Vamos ter connosco Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Ana Mendes Godinho, Secretária de Estado do Turismo, Luiz Mór, vice-presidente da TAP e Renato Lira Leite, responsável por uma empresa de estudos no setor do turismo, a Global Blue, que nos vai trazer alguns dados para enquadrar melhor a discussão em torno deste tema.Não podemos deixar de discutir os temas das marcas da distribuição e das marcas das insígnias que são hoje uma realidade completamente diferente.
Este ano, o Congresso conta com um convidado especial, o Prémio Nobel da Economia, Paul Krugman…
Precisamos de perceber a opinião de reputados Prémio Nobel sobre em que sentido é que caminham os modelos de desenvolvimento económico que temos no mundo. Pedimos ao Paul Krugman que nos trouxesse uma perspetiva sobre a economia global. Vivemos tempos em que se passam muitas coisas ao mesmo tempo no mundo: temos eleições nos EUA, economias a posicionarem-se de formas diferenciadas, uma Europa mergulhada numa situação em que o nosso modelo de desenvolvimento tem sido muito posto em causa pelas tensões sociais e pelas ameaças que todos temos vindo a sentir. Estamos numa geografia económica em que há pouco crescimento e pedimos ao Paul Krugman que nos fale do mundo, da Europa e de Portugal. É uma pessoa que conhece bem a nossa realidade. Estamos numa mudança de ciclo governativo, iremos sair de um período com um programa de ajustamento dificílimo, e vamos ouvir falar sobre o nosso país. Sendo ele um estudioso atento desta matéria e um conhecimento de Portugal, vai ser interessante ouvi-lo. Somos uma associação que conta com pequenas a grandes empresas do setor. Neste momento, mais de metade dos nossos associados são pequenas e médias empresas, que operam em Portugal, no segmento do retalho. Temos hoje em dia, desde empresas que têm três ou quatro lojas, até grandes cadeias. Felizmente, temos uma grande capacidade de atrair vários tipos de formato porque as empresas acreditam que a associação é uma voz firme, ativa e interventiva na representação do setor e na colaboração com todas as entidades com quem entendemos colaborar para que seja criado um ambiente competitivo e para servirmos os consumidores que são a nossa razão de ser.
Leia a entrevista na íntegra na edição de abril da DISTRIBUIÇÃO HOJE