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Logística

IA na Supply Chain: Seminário GS1 debateu caminhos presentes e futuros

D.R. Rui Valido

A GS1 Portugal realizou esta quarta-feira, 27 de março, no Centro Cultural de Belém, o seu 12.ª seminário para a Supply Chain, este ano com o tema da Inteligência Artificial a dominar toda a sessão, mas onde também se abordou a questão do passaporte digital do produto (DPP – Digital Product Passport).

Após a abertura, a cargo de João de Castro Guimarães, diretor-executivo da GS1 Portugal, que deu as boas-vindas aos participantes e oradores, fazendo um enquadramento do dia de partilhas, a sessão iniciou-se com uma intervenção de Luís Mira Amaral, que abordou o tema “Economia em Portugal: Energia, Finanças e Investimento”.

 

Numa intervenção muito completa, em que se fez o balanço da atividade política e económica do país nos últimos anos, Luís Mira Amaral abordou igualmente a temática da IA na cadeia de abastecimento, referindo ser necessária uma rápida adaptação à nova realidade tecnológica por forma a não gerar novos infoexcluídos, como aconteceu com as anteriores vagas tecnológicas.

“Algumas tarefas que serão automatizadas levarão a que tenhamos de criar novas funções mais especializadas”, começou por referir a este propósito, afirmando também que, desta forma, “teremos mais tempo para fazer as tarefas mais nobres”. “A IA será o copiloto no posto de trabalho”, assegurou, defendendo que esta nova ferramenta pode dar um contributo de 1,5% para o PIB português.

 

Na segunda apresentação do dia, Jorge Portugal, presidente da Cotec, fez também ele uma apresentação sobre uma temática semelhante, focando-se nos eixos inovação e colaboração. Defendendo que Portugal tem de melhor aproveitar as condições propiciadas pelos avanços tecnológicos recentes, o antigo consultor para a Casa Civil do Presidente da República, depois de apresentar alguns dados estatísticos, afirmou ser necessária uma nova abordagem relativamente à cultura cooperativa em termos de inovação.

“A tendência natural [biológica] é competirmos. Na cooperação entre empresas estamos ainda atrasados no que é o standard internacional”, referiu, defendendo, sobre IA, que “há um potencial enorme de ganhos de produtividade, mas é preciso perceber que a IA é um conjunto de tecnologias que precisa de ser integrada nos negócios”.

 

Após uma pausa para coffee break, José Crespo de Carvalho deu início à segunda parte da manhã, abordando o tema Estratégias Logísticas para Micro e PME. Começando por lembrar que a logística e cadeia de abastecimento, fruto das transformações ao longo do tempo, se tornaram especialidades conexas, o presidente do ISCTE – Executive Education, referiu que ser necessário investir em LLM (vulgo IA) a favor da logística.

“A logística não está confinada a bens tangíveis. Todos os princípios que se aplicam a supply chain não podem hoje ser só confinados a bens tangíveis. Temos uma amálgama de bens tangíveis, serviços ou workflow”, começou por referir, lembrando depois as potencialidades da LLM, afirmando ser necessária uma análise crítica dos resultados obtidos através de LLM’s

 

“Se quiserem um resumo do que devem pensar do ponto de vista estratégica: centralizar ou não; fazer dentro ou fora, verticalizar ou não. No final do dia, há que avaliar o risco de cativação de uma pequena empresa a uma grande empresa”, afirmou, para sintetizar a sua apresentação, lembrando que “estamos a usar os mesmos modelos logísticos do pré-pandemia, sem a China”.

Para fechar a manhã, Lidia Tarré, Administradora da GELPEIXE, Filipe Rosa, Co-Founder do GRUPO VERA CRUZ e Pedro Côrte-Real, Head of Technology da MC SONAE, juntaram-se, em mesa-redonda, a Artur Andrade, Diretor de Community Engagement da GS1 Portugal, debatendo o tema “IA na Supply Chain, uma oportunidade para a colaboração?”.

Na sessão, com partilhas de diversos setores, os três oradores defenderam ser necessário um processo de preparação para adoção crescente das novas tecnologias, não só em termos do desenvolvimento da tecnologia, mas também da tomada de decisão.

Lídia Tarré, começou por trazer um exemplo pessoal: “acabei a minha formação há muitos anos e apresentei a minha tese em acetatos. Os meus filhos já sobem os seus trabalhos numa plataforma, já me pedem para enviar vídeos para os professores. Ainda nos temos de adaptar, face a pessoas que já nasceram com isto”, começou por referir, afirmando depois: “Em termos de empresas, será que estamos a olhar o suficiente para os negócios e a tentar perceber até onde estas plataformas nos podem levar?”.

Pedro Côrte-Real, em representação da MC, começou por referir que “em termos de IA, estamos entre atrasados e muito atrasados”, referindo depois ser necessário integrar as novas tecnologias naquilo que são os processos de decisão: “Precisamos de digitalizar o nosso processo de decisão. Não é que não estejamos a usar métodos de IA, mas ainda não estamos a usar isso na forma como as empresas se gerem e se tomam decisões.”

Trazendo um exemplo de uma agroindústria, Filipe Rosa, da Vera Cruz, defendeu os princípios de smart farming, pratica já usada pela empresa nas suas propriedades, quer com o uso de sensorização, mas também com o uso de drones ou ferramentas como aplicações tecnológicas que fazem a contagem de insetos.  O gestor afirmou ser necessário pensar no papel que pode ser desempenhado pela tecnologia para assegurar a segurança alimentar de um planeta em crescimento em termos populacionais.

“Num mundo que sabemos que vai de 8 mil milhões para 10 mil milhões, teremos de produzir 30% mais, e isto não é possível sem tecnologia”, começou por afirmar, lembrando depois que a Vera Cruz já usa sensorização para toda a sua operação: “Temos dois sensores, um de humidade do solo e outro de sensorização meteorológica. Temos uns 15 data points por dia. Isto torna-se interessante se fizermos a pergunta de como baixar o mesmo nível de água e aumentar a produção ou baixar a água e manter a produção. O grande desafio é como transformamos os dados em melhores decisões”, sintetizou.

Após uma pausa para almoço, o dia recomeçou com uma partilha de Francesca Poggiali, Chief Public Policy Officer Europe | GS1 (Global Office), que abordou a questão do passaporte digital do produto (DPP), com uma intervenção sobre “Regulamentação: o debate na Comissão Europeia Como a GS1 apoia as Empresas?”.

Numa intervenção em que se explicou o impacto da nova legislação DPP, Poggiali explicou que em breve todos os produtos terão, como os cidadãos, um registo da sua origem e por onde passaram. “Eu sou um ser humano e tenho um passaporte. Porque digo isto? Porque num futuro próximo teremos um passaporte para os produtos. Todos os objetos produzidos ou trazidos para a Europa terão este passaporte”, começou por referir.

Explicando a origem desta iniciativa recentemente aprovada pela Comissão Europeia, a responsável da GS1 Global Office afirmou que esta é uma “ideia que surgiu há muitos anos na indústria. O facto de saber a origem exata de um produto é uma coisa antiga. O facto de ter passaportes, identificação para partes de produtos ou produtos não é uma ideia nova”, mas é agora possibilitada pela tecnologia disponível no mercado.

No fundo, de uma perspetiva mais simplista, todos os produtos terão de ser registados numa plataforma a nível europeu, obrigando que a primeira entidade que o comercialize apresente dados completos, desde a sua origem, pelos países onde passou e foi transformado, a sua pegada carbónica, entre outros. “Para os retalhistas que estão na sala, esta será uma grande mudança. Vai ser preciso ter acesso a todos os dados ao longo da cadeia de abastecimento. Se um retalhista foi o primeiro a pôr um produto no mercado, ele vai ter de ter toda essa informação”, explicou Poggiali.

O dia fechou com uma intervenção de Tim Vieira, responsável pela Brave Generation Academy, que abordou a temática “As PME estão em modo sobrevivência”.

 

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