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Logística

Tecnologia, sustentabilidade e futuro do setor em debate na conferência Cidades e Logística

Tecnologia, sustentabilidade e futuro do setor em debate na conferência Cidades e Logística Direitos Reservados

Ofertas & Tendências foi o tema em destaque de uma das mesas-redondas que se realizaram esta terça-feira, dia 9 de julho, na conferência Cidades e Logística, organizada pela Associação Portuguesa de Logística (APLOG) e que decorreu no Auditório Municipal Ruy de Carvalho, em Carnaxide.

A conversa contou com a presença de Susana Ratinho, Sénior Manager da Cross Logistics Consulting, Rui Nobre, COO da DPD Portugal, Jorge Oliveira, Diretor Geral da DHL eCommerce Portugal e André Craveiro Leitão, Administrador do Grupo Lusiaves. A moderação ficou a cargo da Distribuição Hoje.

Numa conversa rica em pontos de vista diversos, a sessão abordou os desafios e tendências da logística urbana tocando-se em temas como oferta, sustentabilidade e eficiência das operações logísticas, assim como foi discutida a importância de casos de estudo europeus como modelo para soluções inovadoras a serem replicadas em Portugal.

Além disso, no debate, abordou-se ainda a importância de iniciativas de colaboração entre operadores e entidades e da consolidação de soluções que já estão em marcha ao dia de hoje.

A questão da falta de colaboradores qualificados no setor foi outro dos temas em cima da mesa, com os oradores a não encontrarem uma resposta concreta para o solucionar desta problemática. Foi pedido ainda aos oradores para fazerem um exercício de tentativa de antecipar o futuro no mercado da logística urbana, num prazo de cinco a 10 anos, tendo sido referido e frisado o papel crucial da tecnologia e da automação para o reforço do setor.

Soluções de logística urbana sustentáveis

Susana Ratinho, questionada sobre quais os principais desafios na implementação de soluções de logística urbana sustentáveis em Portugal, referiu que, em primeiro lugar, este é um tema que passa pelas entidades públicas “que nos têm, de facto, que ajudar”, e que depois está relacionado também o planeamento das operações logísticas.

“Temos de repensar a forma como vamos fazer as entregas. Não vale a pena dar infraestruturas se não mudarmos o nosso comportamento e a nossa forma de atuar”, afirmou a responsável da Cross Logistics Consulting. E continuou: “O compromisso da UE para a descarbonização é para 2050, quer dizer, estamos em 2024, estamos a 26 anos de atingir esse patamar. O que é que vamos fazer? Vamos deixar tudo para a última hora? É só colocar a questão das viaturas elétricas? Não é suficiente. Nós temos de ter rede”.

Para Susana Ratinho, as empresas têm de se organizar logisticamente para reduzir o número de movimentações, indicando que a questão dos transportes viajarem sem carga máxima e a questão dos operadores “pensarem sozinhos”, aumentando o risco de serem pouco eficientes e eficazes.

A Sénior Manager afirmou que a sustentabilidade das operações é uma questão de alinhamento e colaboração, e é também uma questão de disponibilidade e, para isso, frisa que “temos de nos alinhar, temos de colaborar e temos de passar à ação”.

 Entregas não domiciliárias vs entregas porta-a-porta

Rui Nobre, questionado sobre quais os desafios das entregas não domiciliárias, como é o caso dos lockers e das entregas em loja, para a sustentabilidade das operações e também para libertar tráfego às cidades, afirmou que “há ainda uma parte da população de destinatários que ainda não percebeu a conveniência destas soluções”, no entanto, o responsável acredita que o problema maior está do lado dos marketeers porque os clientes até podem querer optar pela opção de entrega não domiciliária, no entanto, quando fazem a encomenda, muitas vezes, não existe esta possibilidade. Para o responsável da DPD, isto é uma questão de mindset, pois os marketeers ainda acham que a população prefere entregas porta-a-porta. Neste sentido, Rui Nobre afirma que Portugal ainda está “um bocadinho atrasado em relação a alguns países da Europa”.

No que toca a vantagens das entregas não domiciliárias, Rui Nobre indicou que a sustentabilidade económica é também um ponto que não deve ser descurado, uma vez que se torna mais barato do que uma entrega porta-a-porta, pois “se é preciso fazer uma entrega de 10 encomendas, não vamos precisar de ir a 10 moradas, por exemplo”.

De acordo com Jorge Oliveira, é importante abordar o tema de como conseguirá o setor fazer com que as pessoas deixem de preferir as entregas porta-a-porta, concluindo que a autonomia, em conjunto com os correios locais, assim como o apoio dos operadores logísticos e a criação de mais soluções convenientes são a resposta para colmatar esta situação.

Colaborações entre operadores logísticos

Segundo o Diretor Geral da DHL eCommerce Portugal, em termos de colaboração entre operadores logísticos, não existem grandes soluções, referindo que no mercado internacional também não acontecem. No entanto, aquilo que afirma poder fazer-se em termos de colaboração passa por, no que toca aos lockers, tentar encontrar oportunidades que não sejam dos grandes players e usá-los em conjunto.

“Nós em Portugal já tentamos algumas soluções de last mile conjuntas e por um motivo ou por outro não temos sido capazes de implementar, mas eu acredito que, a consolidação das soluções que temos hoje é fundamental”, enalteceu o responsável.

Já Rui Nobre, defendeu que há “um nível de colaboração que é difícil de se aplicar em empresas com a dimensão das nossas, mas que no setor dos lockers é possível haver esta colaboração, mas há outras, nomeadamente a entidades cederem espaços em que todos os operadores podem trabalhar a partir de lá, sem problema nenhum. Isto é muito comum, por exemplo, na Alemanha”.

Além disso, o responsável da DPD frisou ainda que a sustentabilidade ambiental das operações, passa pela consolidação que, “para mim, é aquilo que se consegue fazer já, não tem investimento absolutamente nenhum e traz um efeito claramente imediato”.

Armazéns de distribuição, localização e mão-de-obra

Relativamente ao impacto da localização dos hubs de distribuição dos operadores, Rui Nobre não tem dúvidas de que, em primeiro lugar, o equilíbrio tem de ser muito bem definido sobre qual é a estrutura da rede e, depois, quantos mais armazéns existirem espalhados pelo país, mais próximo estão as empresas dos locais de distribuição e também menos gasto implica a operação.

Neste sentido, o responsável alertou também para o problema de pessoas capacitadas para trabalhar nos armazéns, afirmando que “temos dificuldade em arranjar pessoas para os nossos armazéns, dificuldades grandes, vamos colmatando com alguns cidadãos imigrantes porque senão já tínhamos problemas maiores”.

Também André Leitão abordou a questão da falta de pessoas capacitadas para trabalhar no setor da distribuição, dizendo que se trata de um “tema crítico” e que não existe uma solução imediata que se possa apresentar.

No caso da Lusiaves, “acredito que não há falta de pessoa capacitadas, há falta de pessoa disponíveis para trabalhar o nosso tipo de logística” e continua referindo que “o que não era um grande problema há 10 anos é agora um problema central para as empresas”.

O responsável adiantou ainda que para colmatar esta problemática tenta, ao máximo, fazer um planeamento da força de trabalho, identificando e antecipando necessidades, explicando que “muitas vezes, preferimos ter duas pessoas numa função para garantir que existe continuação da tarefa caso um dos colaboradores decida sair”, garantido que isto se aplica à distribuição, expedição, trabalho em fábricas ou centros de abate.

Além disso, André Leitão referiu também a importância de se mostrarem atrativos para trabalhar e a importância de dar mais robustez ao departamento de recursos humanos, uma vez que “é claro e notório que estamos com dificuldades em contratar”.

O exemplo da distribuição alimentar

Falando nas dificuldades relativamente à distribuição alimentar e particularmente na distribuição de produtos frescos e perecíveis, André Craveiro Leitão afirmou que “os desafios são enormes”.

“Acredito que a resposta passará muito pela questão da cooperação, parar, observar e perceber a importância das cadeiras de abastecimento, assim como olhar para o que os mercados lá fora estão a fazer e para o que os especialistas em distribuição nos estão a dizer”, explicou o administrador.

Acrescentando que aos desafios já existentes se juntam as questões relacionadas com sustentabilidade, para André Leitão, esta é uma questão que está a ser imposta ao setor da distribuição pelas políticas da UE e que a empresa que gere tem vindo a tentar dar resposta, nomeadamente através do investimento em veículos elétricos.

A utilização de biodisel

Segundo Jorge Oliveira, além das viaturas elétricas, está também a ser usado biodiesel nas operações logísticas, adiantando que, “na maior parte das soluções que existem e já estão instaladas, a diminuição de CO2 é de 98% comparativamente ao combustível diesel normal”. O responsável da DHL avançou que nas operações da empresa na Holanda já utilizam este tipo de combustível.

Já Rui Nobre, destacou que, na DPD, “também achamos que o futuro das entregas nas cidades passa um bocadinho por aqui, uma vez que as próprias cidades muito provavelmente nos vão obrigar a que assim o seja, pois há algumas zonas em que só são permitidos carros elétricos ou meios de mobilidade suave”.

E o que se pode antever para a logística do futuro?

Para Susana Ratinho, num prazo de cinco a 10 anos “não existirá uma grande ideia tirada da cartola tendo em consideração todas as soluções que abordámos hoje, mas estará presente a palavra sustentabilidade, que é muito forte”. E continua: “antes de pensarmos em sustentabilidade ambiental, temos de pensar na sustentabilidade do negócio das empresas porque estas estão, de facto, muito preocupadas com o seu negócio e com os custos importados, mas estão a ser obrigadas a pensar na questão da descarbonização e a descarbonização não pode minimizada só aos veículos elétricos. É preciso pensar na solução como um todo”.

Disse a responsável que, neste período temporal, espera “sinceramente já ver, por exemplo, droids a passear no Parque das Nações e noutras regiões de Lisboa e ver também as carrinhas de qualquer operador logístico a abastecer os robots para fazerem entregas. Isto porque sabemos que isto reduz o número de movimento e sabemos que melhora a nossa qualidade de vida, que reduz o ruído das cidades e espero que todos estes players alterem o seu modo de ver as coisas”.

Para Rui Nobre, o futuro passa pela tecnologia, mas o gestor admite que não acredita que, tão cedo, se vejam drones e droids nas cidades em Portugal. Apesar de, para o responsável, os drones fazerem sentido quando existe uma entrega em alguma zona mais remota e aí ser “claramente uma solução”.

Além disso, o responsável da DPD referiu também que vai existir, sem dúvida, um aumento do número de lockers e muita tecnologia dentro dos armazéns, desde logo robots para descarregar e carregar camiões. Este responsável destacou também a cada vez maior importância da Inteligência Artificial (IA) e de machine learning para a otimização das rotas.

Rui Nobre lembrou ainda o tema da sustentabilidade, da eletrificação total das frotas e da utilização do combustível HVO, no entanto, referiu que não tem uma resposta concreta para esta questão, mas que passará muito pelos operadores logísticos e pelas multinacionais e concluiu que “temos que fazer o que temos que fazer, só ainda não está bem claro como é que vai ser feito”.

Já Jorge Oliveira, destacou como principal desafio futuro as pessoas. “Não sei que tipo de pessoas teremos para trabalhar porque ninguém quer ser motorista, e no que toca aos armazéns, a situação é pior ainda, mesmo tendo a vantagem de termos mão-de-obra por parte dos cidadãos imigrantes”, concluiu o responsável.

“Pensar a mobilidade de mercadorias nas cidades implica pensar a mobilidade urbana”

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