Decorre amanhã, dia 4 de abril, o 6º Congresso da FIPA – Federação das Indústrias Portuguesa Agro Alimentares. Sob o tema “Criar Valor, Construir o Futuro”, a DISTRIBUIÇÃO HOJE falou com Jorge Henriques, presidente da federação, que nos indicou as temáticas e objetivos da reunião que tem lugar esta terça-feira, no Convento do Beato, em Lisboa.
Porque escolheram como temática do Congresso “Criar Valor, Construir o Futuro”?
As questões que se prendem com a competitividade e criação de valor são centrais para a economia nacional e não podiam ser alheias a este setor de atividade. Acreditamos que o setor agroalimentar tem capacidade de crescer e de criar valor e é por estes drives que queremos que o Congresso se desenrole. O setor da industria agroalimentar em Portugal é dos que mais tem crescido nos últimos anos e que também tem tido crescimentos na exportação – acima da média nacional. E naturalmente, o que queremos é chamar a atenção para as questões da competitividade do setor, os seus constrangimentos internos que têm de ser definitivamente suprimidos de forma a que se recupere as premissas de há uma série de anos para criar valor e aumentar competitividade.
Para além de querermos debater com os diferentes players e convidados que participam neste Congresso importância do setor e, em particular, as questões dos constrangimentos internos. De forma a que a industria aumente a sua competitividade e de forma a colocar na agenda nacional como uma industria estratégia para Portugal que é aquilo em que verdadeiramente acreditamos
E ainda não o é?
É, mais achamos que deve ser devidamente sinalizada por forma a que não sejamos surpreendidos a cada ano e a cada orçamento por questões que lhe retiram a capacidade de intervir na economia nacional. Ela é estratégica do nosso ponto de vista. Durante os anos de ajustamento, a industria foi determinante para a criação de valor interno produzindo localmente muito daquilo que importamos e também estabelecendo uma ponte e um relacionamento com a produção primária para transformar esta industria de facto no potencial que pode vir a ter.
Que outros constrangimentos pode enumerar?
Naturalmente a imprevisibilidade fiscal, é transversal a toda a economia, mas para muitas é um ponto central. Somos surpreendidos a cada orçamento com novos impostos, sejam eles de que ordem seja. Por exemplo, o desfasamento que temos em relação a Espanha neste campo é muito grande.
A burocracia é outro dos problemas. A FIPA há 30 anos que fala das barreiras ao licenciamento, nomeadamente aos projetos que necessitam de licenciamento por questões ambientais que demoram muito tempo. Esse tempo leva a que investimentos nacionais e estrangeiros tenham sido perdidos por causa dessa burocracia. E também questão da justiça afeta particularmente este setor. Ainda existem as questões do financiamento que ainda não estão resolvidos. Diz-se que há financiamento mas não há projetos bons. A realidade é que o financiamento que chega às empresas desta industria é caro. Não estamos a dizer que os maus projetos devem ser aprovados, mas os bons, e eles existem, nacionais ou internacionais devem ser apoiados!
As empresas do agroalimentar estão hoje mais preparadas para exportar?
Sim, e estão também mais preparadas para disputarem o mercado interno. E estão prontas para responder às exigências do novo consumidor, que também é um dos temas centrais do Congresso. Este foi talvez dos primeiros setores a modernizar-se com a entrada na Comunidade Europeia, quer a nível de gestão e inovação. Atualmente, em Portugal, em diferentes setores e subsetores do agro alimentar temos empresas a fazer inovação ao nível do melhor do que se faz no mundo. O que falta ao setor é, de alguma forma, utilizar as sinergias entre diplomacia económica entre as empresas e a própria diplomacia política no sentido de a canalizar para internacionalizar as marcas. É necessário apoiar e desenvolver marcas. É uma discussão eterna que nem se devia colocar.
Mas devemos comunicar as marcas ou a marca Portugal?
Uma coisa vem ligada a outra. Promover exclusivamente Portugal não é suficiente é preciso promover as marcas portuguesas, e ter marcas fortes. As grandes marcas portuguesas são micro no contexto mundial. Temos inovação, qualidade, capacidade de produção para sermos fortes nesse contexto. A industria das conservas ou de tomate são exemplos disso. Há um potencial muito grande nas bebidas refrescantes e nos lacticínios, também. Temos de reforçar a nossa presença na Europa com a diferenciação dos nossos produtos do Continente, da Madeira e dos Açores. A nossa imagem de marketing em muitas categorias temos um marketing e uma qualidade de produto de nível mundial. Dando apoio e valorizando e procurando demover as barreiras que impedem essa progressão, estamos convictos que a industria pode crescer, o que tem acontecido. Ainda agora em janeiro crescemos.
E quanto foi esse crescimento?
Em janeiro crescemos cerca de 23% relativamente ao período homólogo do ano anterior sendo que o maior crescimento se deveu a mercados fora da União Europeia.
Mas falando de problemas, para além das questões de Angola, do Embargo à Rússia, há agora o Brexit e um presidente dos Estados Unidos chamado Donald Trump. São mais problemas para a industria agro alimentar portuguesa?
Esperemos que não, mas achamos que as políticas protecionistas podem afetar as exportações portuguesas. Mas o Brexit e a desagregação europeia faz-nos colocar um ponto muito afirmativo nesta matéria: não conseguimos ver Portugal fora da União Europeia. Portugal precisa de estar inserido na UE, não somos um país periférico como às vezes pensamos, estamos neste canto da Europa encostados a um potencia da produção agro alimentar. Mas oBrexit pode ser uma oportunidade, porque o país tem condições para albergar empresas que vão deslocar as suas geografias. Em relação aos EUA é uma preocupação se forem para a frente as medidas protecionistas que a Administração Trump tem indicado. Mas creio que o engenho dos portugueses, com a sua inovação, vamos conseguir sair por cima frente a estes problemas. Ultrapassamos o problema interno, com muitas cicatrizes, porque na realidade era algo que era imaginável na nossa geração e aconteceu. Nós soubemos com determinação, resiliência, ultrapassar as dificuldades, por isso tenho a certeza que vamos ser capazes de dar uma resposta positiva a estas npvas dificuldades.
Este congresso está muito focado no consumidor, certo?
Sim, este congresso está muito virado para as questões dos novos consumidores e dos novos desafios. Neste setor trabalhamos para o consumidor. E estamos a trabalhar porque queremos que o consumidor o sinta, mas que isso também seja sentido pelas entidades governamentais. Queremos que nos oiçam no momento de tomar medidas que não são soluções para o setor. Esta questão dos novos impostos que foram lançados este ano sobre as bebidas refrescantes não resolve nenhum problema. É um imposto feito para as bebidas também sem açúcar e que inovaram e não têm calorias, e isso a nós não nos parece que tenha sido uma boa solução. De salientar que a FIPA apresentou uma solução para esses produtos até 2020, mas o imposto foi para a frente.