De certo que serão poucos os portugueses que desconhecem a data da fundação do azeite Gallo: 1919. Mas para Rita Vilaça, directora de vendas da Gallo Worldwide, a Gallo mais recente é «datada de 3 de Julho de 2009». Aí deu-se um spin-off da Unilever/Jerónimo Martins, «que ao fazer o spni- off continua a ter a mesma estrutura accionista: 45% da Jerónimo Martins e 55% Unilever, mas operando de uma forma autónoma». Esta autonomia, segundo a responsável, tem como objectivo «trazer mais resultados para cima da mesa», até pela particularidade do negócio, quando comparado com outros dos grupos detentores da sociedade: «o negócio de Gallo é perfeitamente díspar porque está completamente dependente da flutuação da matéria-prima».
Paula Lopes, directora de qualidade da Gallo Worldwide, com quem falámos na visita à fábrica, perto de Abrantes, fez o elogio do azeite: «é a gordura mais saudável. É a melhor gordura para cozinhar e fritar, como para temperar. É sem dúvida a gordura que reúne todas as características para que, de um ponto de vista nutricional, seja a melhor gordura que possamos ingerir». E se isto é o elogio geral, particularizando no azeite Gallo, e seus diferentes perfis, a responsável afirma que estes «têm uma componente muito grande de sabor», e que existe uma «preocupação de seleccionar os azeites que tenham anti-oxidantes nas condições necessárias para garantir que, durante todo o período de validade, o azeite consiga manter todas as suas características tal como declaramos no rótulo». E isso «só se faz com um conhecimento muito grande das variedades, só se faz com muitos anos de experiência e de treino».
Sendo a 5.ª marca mais vendida no mundo, «todos os anos verificamos nos mercados mais relevantes quais as preferências dos consumidores. Por isso, Gallo não tem um perfil para cada uma das referências. Tem sim diferentes perfis consoante os mercados onde estamos a trabalhar», ou seja, «é sempre uma preocupação nossa a de adequar os perfis ao que os consumidores valorizam».
Sem olival
Não sendo proprietários de olival, a Gallo tem que comprar azeite a diferentes produtores. Assim faz, em cada campanha, «a visita a todas as áreas produtoras para conseguir perceber exactamente o que cada região tem de bom ou de mau para oferecer. A partir daí vamos catalogar de acordo com uma classificação nossa, todos os azeites da região em termos de perfis sensoriais e perfis físico-químicos». E assim se percebe «quais as regiões em cada ano que nos vão dar os azeites para cada uma das referências». E esta escolha é feita «há mais de 10 anos» e os lagares que queiram ser fornecedores têm que se sujeitar a diversos crivos, como auditorias da empresa «para saber se cumpre os requisitos que nós temos definidos: materiais em inox, tempo entre colheita e processamento (que não deve passar mais de 12 horas, mas admitimos até 24 horas)», entre outros aspectos. Para além disto, todos os anos a empresa recebe «entre 5 mil e 7 mil amostras de azeite. Dessas mais de 60% são automaticamente rejeitadas, porque não têm o perfil adequado para os nossos blends». De seguida, são classificadas e, depois, a partir dessa classificação sabemos como combinar esses azeites para dar os perfis Gallo». Essa combinação é realizada por quatro especialistas internos, e depois o lote é submetido à aprovação de um painel de 14 provadores, todos trabalhadores das instalações. Se tiver a aprovação de oito, segue para produção. Este processo, desde a chegada do produto até ao embalamento, demora cerca de dois a três dias.
Os perfis dos azeites podem ser inúmeros. Só para dar algumas diferenças entre dois azeites, diga-se que «o azeite novo, por exemplo, tem que ser um azeite extremamente harmonioso. Tem que ser persistente, ele tem que permanecer para além da prova, ficar gosto na boca. Tem que ter características de amargo e picante, perfeitamente notadas. Tem que ter sabores a fruto, a ervas e a tomate». Já o azeite clássico, «que é um dos nossos standards, é um azeite também harmonioso», mas não será tão persistente e o «picante e o amargo serão médios. É um azeite todo ele muito mais “redondo” e equilibrado».
A Condestável, outra das marcas da Gallo Worldwide, tem, por exemplo, um perfil completamente diferente. «São mais adequados ao gosto que as pessoas do Norte têm».
Se todo o azeite extra virgem vendido pela marca em Portugal é de produção nacional, já para o azeite que vendido externamente é, em parte oriundo de produtores estrangeiros, como de Espanha ou Grécia, mas tem que ter «obrigatoriamente uma percentagem» desse azeite nacional, por forma a «garantir o perfil organoléptico que garantimos para a marca».
3.º lugar é o objectivo
Segundo Rita Vilaça, o consumidor Gallo é… qualquer um que consuma azeite. A visão é assim chegar a todo o lado, e «hoje em dia é a 5.ª marca mundial», o que é um aumento considerável desde há seis anos a esta parte, onde a marca se encontrava na 9.ª posição. O objectivo é continuar a subir? A responsável afirma que «ambicionamos, para já, o terceiro posto». Outras subidas não são ainda tidas em conta: «um passo de cada vez. Daqui a uns anos talvez possa ser diferente a conversa».
Em termos que quotas de mercado internas, e segundo dados Nielsen fornecidos pela empresa, o azeite Gallo no YTD 2010, à semana 40, detém 21,5% e o Condestável 5,1%. Já agora, diga-se que a concorrência apresenta, neste mesmo período, o Oliveira da Serra com 15,5%, o Andorinha 0,1%, e as marcas da distribuição 29,3%. Por falar nisso, as MDD são uma hipótese? Rita Vilaça afirma que, apesar de já o terem feito, não está nos planos fabricar mais MDD: «somos uma empresa que sabe como dinamizar marcas. É essa a nossa aposta».
Lá fora
O Brasil é o principal mercado externo: «aí vendemos cerca de 28% do nosso volume», e ao nível geral a exportação «vale já mais de 2/3 da facturação da empresa». Gallo é líder no Brasil e na Venezuela, e também Angola, apesar de aqui não se terem dados oficiais.
E claro, tendo em conta a situação actual de Portugal, a possibilidade de crescimento está assente no estrangeiro. Ainda assim, há ambição de desenvolver ainda o mercado nacional, com ainda algum espaço para crescer quando comparados com outros países: «temos um consumo per capita de 7 litros. Os espanhóis cerca de 11, Itália com 14, e Grécia com 21».
Como se consegue então inovar? Com «criatividade, com calma, apostando na qualidade. Interessa também que as pessoas percebam essa qualidade». Recentemente, e resultado, de certo, dessa procura pela excelência, o Gallo Azeite Novo venceu o prémio Mário Solinas, e «foi a primeira vez que um azeite português ganhou. É a aposta clara na qualidade da marca e o azeite português». O prémio é instituído pelo Conselho Oleícola Internacional, organização internacional de definição de normas no sector. Interessa, assim, começar a divulgar ao consumidor nacional essas distinções, «mostramos aos consumidores que podem estar orgulhosos de consumir Gallo».