Num contexto marcado por sucessivas crises, a Marca Própria ganhou mais relevância no mercado português. Quais os desafios e expectativas para este segmento nos próximos anos? Estudo da Daymon ajuda a decifrar os segredos do sucesso neste setor.
O setor industrial enfrenta desafios sem precedentes, impulsionados por uma combinação complexa de fatores económicos, sociais e tecnológicos. Em 2020, a pandemia de COVID-19 impactou as cadeias de abastecimento, causou escassez de mão de obra e levou à redução da procura de determinados produtos. Com o encerramento de fábricas em muitos países, o fluxo de bens e materiais foi interrompido, provocando escassez e atrasos. Os fornecedores tiveram de encontrar novas fontes de matérias-primas e produtos acabados, muitas vezes a custos mais elevados, para manterem os seus negócios. O ambiente geopolítico trouxe uma camada extra de complexidade ao setor industrial. As contínuas tensões comerciais entre os EUA e a China sobre práticas comerciais desleais levaram à imposição de taxas adicionais sobre muitos produtos, tornando mais caro importar e exportar produtos.
Além disso, o conflito na Ucrânia pôs em evidência não só riscos geopolíticos, mas também económicos. À medida que aumentam as tensões entre a Rússia e os países ocidentais, existe um risco crescente de novas perturbações nas cadeias de abastecimento, preços mais elevados de materiais essenciais e pressões inflacionistas mais amplas com impacto no setor industrial. Neste âmbito, o conflito teve impacto no fornecimento de mercadorias, nos custos de transporte, e perturbou as rotas comerciais.
Assim, Portugal, como muitos outros países, tem enfrentado desafios significativos relacionados com o aumento dos custos. E as dificuldades com estes aumentos são transversais a quase todos os setores da indústria.
No estudo levado a cabo pela Daymon, mais de 80% dos inquiridos afirmam que os custos que mais aumentaram (acima de 11%) nos últimos 12 meses foram os custos relacionados com energia, transporte, ingredientes/commodities e embalagem.
Proporção que indica aumentos de custos nos últimos 12 meses
Em Portugal, o setor energético e, por conseguinte, o setor do transporte têm sido particularmente afetados devido à contínua dependência de fontes de energia importadas e às flutuações nos preços dos combustíveis fósseis nos mercados internacionais.
O conflito na Ucrânia trouxe à tona uma série de desafios e implicações para o setor energético da Europa e intensificou as preocupações da União Europeia em relação à segurança energética. Como resposta, a UE intensificou os seus esforços para diversificar as suas fontes de energia e rotas de abastecimento, reduzindo a sua dependência do gás russo e, consequentemente, evitando possíveis interrupções no fornecimento de gás com um sistema energético mais resiliente.
Embora Portugal não seja um grande consumidor de gás natural, quando comparado com outros países europeus, a sua dependência deste recurso para a produção de energia elétrica e aquecimento tem implicações significativas na matriz energética do país e, consequentemente, sobre as tarifas de eletricidade para os consumidores e as empresas portuguesas.
“Num contexto económico incerto e volátil, o nosso estudo sugere que a Marca Própria tem vindo a reforçar o seu papel como uma solução que ajuda os fornecedores na sua busca pelo sucesso e crescimento. Investir em Marca Própria permite uma maior flexibilidade de produção e eficiência, o que, por sua vez, encoraja economias de escala e ajuda a expandir a presença no mercado.”
Nuno Afonso, Vice President Sales & Operations EMEASIA Region, Daymon
Nos próximos 12 meses, os custos deverão abrandar, a par do abrandamento da procura, mas um ligeiro aumento na oferta significa que os preços poderão permanecer elevados. Apesar de cerca de 30% dos respondentes esperar que o custo de transporte e de energia aumente, a grande maioria acredita que os custos, em geral, sejam aproximadamente os mesmos nos próximos 12 meses.
No que toca aos desafios que estes fornecedores enfrentam nas suas cadeias de abastecimento, uma fatia significativa dos respondentes antecipa que as condições de trabalho (44%), os custos de energia (39%) e as taxas elevadas de transporte rodoviário (35%) sejam desafios a longo prazo. Por outro lado, a grande maioria (57%) admite que a escassez de transporte não será de todo um desafio.
À medida que a população ativa envelhece, os fornecedores portugueses podem encontrar dificuldades em preencher determinados postos de trabalho e manter a eficiência nas suas operações. A isto, acrescem ainda desafios relacionados com a crescente automação e digitalização das operações industriais. Embora estas tecnologias tenham um papel crítico no aumento da eficiência e da produtividade das empresas, podem conduzir a uma reestruturação no mercado de trabalho do setor industrial. Os fornecedores enfrentam, por isso, o desafio de formar e capacitar os seus trabalhadores para trabalhar lado a lado com a automação. Além disso, a questão da remuneração e benefícios para estes trabalhadores é fundamental. Os fornecedores estão a esforçar-se para oferecer salários mais competitivos e benefícios mais atrativos de forma a atrair e reter talentos mais qualificados. No entanto, a pressão sobre os custos de produção e a crescente concorrência podem limitar a ambição destas empresas.
Expectativas sobre a duração dos desafios
Barreiras comerciais, tributações, tensões geopolíticas ou perturbações nas cadeias de abastecimento podem gerar incerteza e potenciais riscos para o negócio dos fornecedores portugueses.
Apesar de a grande maioria dos respondentes (91%) estar um pouco ou muito preocupada com o comércio internacional, 80% esperam aumentar as exportações de produtos acabados nos próximos 12 meses. No que toca às importações para os próximos 12 meses, a grande maioria dos respondentes prevê importar, aproximadamente, a mesma quantidade ou mais de embalagem (74%), ingredientes (70%), componentes (69%) e produtos acabados (56%).
Estratégias e áreas de foco para seguir em frente
À medida que o mundo emerge da pandemia e os riscos geopolíticos persistem, o setor industrial continua a navegar num contexto em rápida mudança. Os fornecedores portugueses têm demonstrado resiliência e capacidade de adaptação face aos desafios, e muitos deles optam por diversificar as suas estratégias.
# Estratégias de Preço
Desafios relacionados com o aumento dos custos levaram 70% dos respondentes a implementar dois ou mais aumentos de preços nos últimos 12 meses e 50% antecipa mesmo a necessidade de implementar novos aumentos de preços nos próximos 12 meses.
Número de aumentos de preços executados num cliente típico
nos últimos 12 meses
Expectativa sobre a necessidade de transferir novos aumentos de preços
nos próximos 12 meses
No que concerne às medidas de negociação de preços mais recentes dos fornecedores portugueses, a percentagem do aumento de preços e as quantidades mínimas de encomenda (MOQ) são as mais frequentemente negociadas (83% e 41%, respetivamente). Por um lado, a negociação de aumentos de preços permite aos fornecedores fazer face às suas despesas e sustentar as suas operações, num contexto particularmente desafiador. Por outro lado, as MOQ contribuem para uma produção mais estável e um maior controlo sobre o seu excedente.
# O otimismo na Marca Própria
Nos últimos anos, tornou-se claro que a inflação tem tido um impacto positivo significativo no negócio de Marca Própria, com alguns dos mercados com níveis de inflação mais elevados a registarem um crescimento notável nos seus negócios de Marca Própria. As Marcas Próprias têm sido historicamente associadas à oferta de alternativas às Marcas Nacionais, com boa relação qualidade/preço, tornando-as particularmente apelativas durante períodos de inflação elevada. Muitas categorias de produto registaram mudanças em direção às Marcas Próprias, afastando-se das Marcas Nacionais, o que levou a um aumento da quota de Marca Própria nessas categorias.
Os fornecedores portugueses estão otimistas no que respeita ao crescimento da quota de Marca Própria. 63% dos respondentes espera que a quota aumente nos próximos 6 meses e 72% em um ano. Além disso, 61% dos fornecedores portugueses espera aumentar o seu negócio de Marca Própria nos próximos 12 meses.
Expectativa da quota de Marca Própria para os próximos períodos
Numa era de incerteza económica e de aumento da inflação, os consumidores estão a tornar-se cada vez mais sensíveis aos preços. As Marcas Nacionais enfrentam custos mais elevados devido a vários fatores, incluindo preços das matérias-primas, custos de transporte e custos de marketing, e são frequentemente obrigadas a transferir custos adicionais para os consumidores. Por outro lado, as Marcas Próprias tornaram-se mais amplamente aceites e disponíveis em todos os mercados, o que associado a um posicionamento de preços mais competitivo tem levado os consumidores a gravitar mais para produtos de Marca Própria, do que de Marcas Nacionais.
De facto, 39% dos respondentes espera que a diferença de preços entre Marcas Nacionais e Marcas Próprias aumente o consumo de Marcas Próprias nos próximos 6 meses.
Expectativas sobre como a diferença de preços entre Marcas Nacionais e Marcas Próprias
irá impactar o consumo de Marcas Próprias
# Outras estratégias no horizonte
Num mercado crescentemente mais competitivo e desafiante, os fornecedores portugueses reconhecem a importância de investir para se manterem relevantes e para se diferenciarem. A maioria dos respondentes admite investir na inovação de produtos (78%) e no aumento da capacidade (52%) nos próximos 12 meses. Espera-se que outras estratégias sejam implementadas embora a um nível de prioridade mais baixo. Outras áreas onde estes fornecedores antecipam investir nos próximos 12 meses passam pela eficiência de fornecimento e consumo de energia (65%), formação (59%), eficiências no desenvolvimento de novos produtos (56%) e automação e novos processos (56%).
“Os fornecedores que investem em Marca Própria não só estão mais inovadores como também estão mais resilientes para o futuro.”
Nuno Afonso, Vice President Sales & Operations EMEASIA Region, Daymon
Conclusões
A indústria tem navegado num contexto desafiante e incerto. O estudo da Daymon revelou que os fornecedores portugueses que apoiam o negócio de Marca Própria estão a ganhar resiliência, capacidade de adaptação e a alavancar estratégias para serem bem-sucedidos e fazer crescer os seus negócios.
Uma das principais conclusões do estudo da Daymon é o crescente otimismo em torno do crescimento da Marca Própria. Os fornecedores estão otimistas e, além de esperarem que as Marcas Próprias cresçam ainda mais, admitem investir no negócio de Marca Própria a curto/médio prazo.
“Com os retalhistas a dar prioridade às Marcas Próprias e os consumidores a procurarem cada vez mais Marcas Próprias e opções mais acessíveis, os fornecedores que aproveitem estas oportunidades poderão alavancar o seu crescimento e aumentar a sua competitividade no mercado.”
Nuno Afonso, Vice President Sales & Operations EMEASIA Region, Daymon
Ao focar nas Marcas Próprias, os fornecedores podem flexibilizar a sua produção, expandir o seu mercado de atuação e relevância e tirar partido do crescente “interesse do consumidor” nas Marcas Próprias. O estudo sugere que a acessibilidade dos preços pode ser o principal catalisador para impulsionar a transição das Marcas Nacionais para as Marcas Próprias. Na verdade, confrontados com as mudanças nas suas condições económicas, os consumidores procurarão compromissos, ou seja, produtos com uma melhor relação qualidade/preço que satisfaçam as suas necessidades a um preço mais acessível.
O estudo da Daymon revela também que o investimento na inovação de produtos e no aumento da capacidade serão áreas-chave para investimentos futuros. Ao melhorar continuamente e introduzir soluções inovadoras, os fornecedores serão capazes de superar desafios futuros, tais como perturbações na cadeia de abastecimento ou alterações regulamentares, e satisfazer as necessidades dos clientes de novas formas.
Além disso, o aumento da capacidade permite aos fornecedores navegar as flutuações imprevisíveis do mercado e os aumentos repentinos na procura. Com uma capacidade robusta, os fornecedores podem aumentar rapidamente a produção, se e quando, necessário, garantindo a entrega no prazo e a satisfação do cliente. Aumentar a capacidade significa também que os fornecedores terão a capacidade de adaptar os seus níveis de produção mais rapidamente para satisfazer as exigências crescentes do mercado ou reduzir a produção durante períodos mais lentos. Essa flexibilidade permite-lhes manter níveis ótimos de stock, evitar ruturas de stock e aproveitar oportunidades quando as condições do mercado assim o permitem.
Metodologia
A Daymon inquiriu 54 fornecedores, com sede em Portugal, com o objetivo de compreender as dinâmicas da indústria que impactam os fornecedores portugueses que apoiam Marcas Próprias. O inquérito online foi realizado entre 21 de agosto e 13 de setembro de 2023 e os resultados foram analisados pela equipa geral Daymon.
Sobre a
Com mais de 50 anos de experiência no desenvolvimento de programas de Marca Própria em todo o mundo, a Daymon tem uma abordagem única e líder no setor para alavancar as vendas e os lucros dos seus parceiros. Oferece soluções que influenciam todos os aspetos do desenvolvimento de uma marca, desde a definição estratégica até ao acompanhamento da sua execução, em áreas como a gestão de categorias, inovação, sourcing, desenvolvimento de produto e design.
Descubra mais em: idc@daymon.com