A Diretiva de Serviços de Pagamentos (PSD2) é considerada uma oportunidade pela maioria das instituições financeiras europeias (81%), revela um estudo da Roland Berger sobre a Diretiva que entrou em vigor a 14 de setembro.
O estudo “Adaptar ou morrer? Por que razão a PSD2 tem fracassado em desvendar o potencial do Open Banking” revela no entanto que muitos bancos ainda não definiram de forma clara como se irão posicionar estrategicamente para tirar partido das novas oportunidades.
Apenas 35% dos bancos já se posicionou para assumir o papel de prestadores de serviços (TPP – Third Party Providers) de agregação de contas (AISP) ou iniciadores de pagamentos (PISP).
O estudo que analisa o impacto da PSD2 nas empresas foi realizado em 12 mercados europeus, incluindo Portugal. Responderam ao inquérito mais de 40 bancos líderes e grandes empresas de tecnologia, detalha a consultora.
Segundo o estudo, as empresas encontraram vários obstáculos no momento da implementação da PSD2, nomeadamente a incerteza na regulamentação (40%), a ausência de informação sobre os requisitos (21%) e a sua limitação de recursos e orçamento (14%).
O estudo abarcou instituições financeiras e grandes empresas de tecnologia na Alemanha, Áustria, Bélgica, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Noruega, Portugal, Itália, Espanha e França.
Para a banca (42%) a PSD2 é considerada “uma oportunidade estratégica”, mas a maioria das entidades ainda se está a concentrar no cumprimento dos requisitos mínimos regulamentares, existindo um reconhecimento da lacuna entre as ambições estratégicas iniciais dos bancos e a implementação efetiva da PSD2.
As oportunidades criadas pela PSD2 incluem a melhoria do portefólio de produtos e serviços (33%), a atracção de novos clientes (26%) e o desenvolvimento de um ecossistema baseado na cooperação entre parceiros (18,5%). Em matéria de visão, as entidades financeiras apontam mais oportunidades do que ameaças e acreditam que o “open banking é um processo inevitável, daí a importância da visão estratégica”.
Atrasos devem-se a questões conjunturais
 O estudo da Roland Berger revela que a “hesitação dos bancos em implementar a PSD2 se deve, em grande parte, ao ambiente de mercado extremamente difícil, às taxas de juros baixas, a uma regulamentação rígida e a infraestruturas de TI nem sempre propícias a um desenvolvimento ágil”.
Não obstante, “as instituições financeiras não podemignorar as oportunidades da PSD2, pois existe o risco dessa lacuna ser preenchida por uma nova concorrência com grande capacidade de investimento”.
A maioria dos bancos acredita que a relação de proximidade e confiança que existe entre o cliente e a instituição é uma vantagem face à concorrência (em particular fintechs e neobanks). No entanto, as instituições mais tradicionais “estão cientes da emergência de um conjunto de novos concorrentes, que poderão ameaçar os seus modelos de negócios, como os grandes grupos de tecnologia como a Google, Amazon, Facebook ou Apple, com inegável capacidade de investimento, conhecimento profundo dos clientes e uma experiência de utilização que é parte core do seu modelo de negócio desde sempre”.
Como consequência, aponta o estudo, os bancos tradicionais terão de fazer avultados investimentos em tecnologia e desenvolver abordagens e propostas de valor inovadoras e disruptivas. Terão igualmente de fomentar uma cultura direcionada ao cliente e às suas necessidades, reduzindo dramaticamente o time-to-market das soluções – tipicamente áreas onde as fintechs e bigtechs são mais fortes e onde os bancos têm tido um mau desempenho.
A caminho do open banking
A PSD2 marca a entrada num cenário de open banking, no qual os prestadores de serviços financeiros concedem a outras empresas o acesso a dados, cooperando entre si, sempre com o objetivo de oferecer aos clientes melhores produtos e serviços, explica a Roland Berger.
Deste modo, o open banking mudará drasticamente as cadeias de valor do setor financeiro e todos os intervenientes terão de se adaptar rapidamente. Antes de mais, envolve elaborar um posicionamento estratégico claro e encontrar uma solução para as ameaças identificadas. Este estudo mostra que os bancos têm sido pouco proativos e não adotaram uma estratégica em relação ao open banking, preferindo numa boa parte dos casos, em adotar uma abordagem de ‘esperar para ver’.