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A Internet das Coisas está a interligar o mundo. E a lei?

IoT

Só este ano a Gartner prevê que estejam ligados cerca de 8,4 mil milhões de dispositivos, o que representa um crescimento de 31% de objetos ligados, relativamente a 2016. A consultora garante que este cenário está em crescimento acelerado e que em 2020 o universo de dispositivos ligados rondará os 20 mil milhões.

O cenário tecnológico que se impõe é por isso de oportunidades, mas também de muitos desafios para as empresas e para os utilizadores, especialmente desafios de segurança e legais que deverão ser superados. No painel «A segurança na Era IoT. Os standards», que encerrou a primeira edição do CyberSec Congress, João Luís Traça, sócio da Miranda & Associados, deixou claro que não é uma questão de mais leis e de afirmações dos governantes no sentido de acalmar o mercado com promessas de resoluções e recomendações. De acordo com este responsável, «a lei tem espaço e há requisitos mínimos que devem ser impostos». Aproximar os standards da indústria e as boas práticas das grandes e pequenas empresas é outro caminho a seguir, segundo o jurista. «Da mesma forma que o legislador impõe critérios de segurança contra a falsificação, também aqui poderá facilmente impor requisitos de segurança», afirma João Luis Traça.

 

Ao colocar a lei e os standards em linha com a generalidade dos projetos de IoT no mercado, os níveis mínimos de segurança deverão começar a ser assumidos por todos. «O legislador terá de ter uma visão 360º», recomenda João Luis Traça, ao mesmo tempo que relembra a dificuldade com que a lei se depara perante a velocidade a que a tecnologia se desenvolve e os níveis de complexidade que se geram neste mundo híper-conectado.

À questão «precisamos ir mais longe?» João Luis Traça responde com a necessidade de os stakeholders agirem com bom senso perante a disrupção gerada. «A internet é insegura. Não foi pensada para ser segura. Da mesma forma, a lei pode dizer que é proibido e funcionar como um travão, no entanto parar a inovação vai ser complicado», relembra o jurista.

 

Por experiência própria, Rui Gil, diretor de Redes e Sistemas da Brisa, acautelou a forma como o mercado vê a segurança nesta área da IoT e apresentou o tema do hacking ético como uma alternativa a que as empresas poderão recorrer para melhorem. De acordo com este responsável, a instrumentalização da IoT e a valorização da informação como ativo que permite provocar disrupção nos serviços prestados é um trunfo importante para a Brisa que nos últimos 14 anos tem procurado potenciar a conetividade a favor dos seus modelos de negócios.

Rui Gil destacou que por via da centralização e integração dos sistemas é possível melhorar a eficiência operacional e o serviço ao cliente, no entanto é preciso não esquecer que a «perfeição não existe tecnicamente e é necessário fazer uma gestão a médio longo prazo». A telemática rodoviária que a Brisa idealizou em 2003 é hoje uma rede complexa com 900 pontos de presença de rede sujeitos a todo o tipo de ações, nem sempre bem-intencionadas, mas Rui Gil garantiu que este é um desafio que se coloca no caminho da digitalização que se está a trilhar um pouco por todos os setores.

 

O diretor de Redes e Sistemas da Brisa relembrou que o valor da informação está agora à distância da integração que os stakeholders conseguirem concretizar, e destacou a instrumentalização dos dados que a Brisa está a levar a cabo com a integração dos dados da Google e da Waze na sua rede de painéis de disponibilização de informação.

De acordo com este responsável, 2020 representa um horizonte de evolução expressivo para a IoT na Brisa durante o qual a otimização será a palavra de ordem, na medida em que existe internamente uma grande parte de infraestrutura legacy que será transformada para suportar a IoT e os veículos autónomos que já circulam a grande velocidade nas autoestradas da informação e não só.

 

«Pessoas + processos + tecnologia» é e será a fórmula que João Luis Traça identifica como essencial para sustentar esta nova realidade interconectada. «Estão se a mudar mentalidades e temos de nos adaptar e criar as condições para os contextos que surgirão com esta nova era tecnológica», destacou o jurista. Uma nova realidade que este responsável disse ter de servir de base à construção de uma nova cultura ética preparada para pensar as questões de natureza penal de forma pragmática e dar o salto que é necessário para atualizar o edifício judiciário português.

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