A IfThenPay encerrou o exercício de 2019 com um volume de negócios de mais de dois milhões de euros, o que representa um crescimento de 18% face ao exercício anterior. Para este ano está previsto um novo crescimento alavancado por novas adesões que são reflexo do impacto do COVID-19, que de acordo com Filipe Moura, co-CEO da empresa, teve um efeito acelerador e positivo na companhia.
Em 2018 anunciaram que tinham ultrapassado os mil milhões de euros movimentados através das vossas soluções de pagamento. Em 2020, quanto já movimentaram?
Em 2018, atingimos esse valor de acumulado dos mais de 12 anos da nossa atividade. Mas só em 2019, movimentámos cerca de 538 milhões de euros. Este ano de 2020, entre janeiro e maio, movimentámos mais 23% comparado com o período homólogo do ano anterior.
Quantas pessoas já aderiram à vossa plataforma?
Ao longo destes anos, mais de 15.000 empresas já aderiram. Estamos com bom ritmo e dentro dos nossos objetivos que é chegar às 16.000 até ao final deste ano. Dada a pandemia COVID-19, estamos a sentir um aumento nas adesões. Todos os dias úteis estão a entrar cerca de 20 novas empresas que querem desenvolver o comércio eletrónico, sejam da área de mercadorias ou de serviços, tanto em B2B, como em B2C. Tudo porque há mais empresários a perceberem que têm de fazer comércio eletrónico.
Em 2019, referiam que o vosso foco seria o investimento nas componentes de equipas e sistemas, construção de um novo centro de reuniões e publicidade. Quais são os planos para 2020? O COVID-19 veio alterar alguma das estratégias que tinham planeadas para este ano?
O COVID-19 veio acelerar o crescimento. Além de estarmos a ter mais adesões de novas empresas, estamos a ter mais transações em geral. Neste ano de 2020, o nosso atual crescimento de volume movimentado está alinhado com o nosso objetivo anual que é de 640 milhões de euros. Somos a instituição de pagamento de referências multibanco partilhadas que mais movimentou e que tem mais movimentação anual.
Quanto a estratégias para este ano, tudo se mantém face ao que está previsto. Lançar, a muito breve prazo, a integração de cartões de crédito Visa, Mastercard, e outros, na nossa gateway, para estarem disponíveis aos nossos clientes de comércio eletrónico. E naturalmente, fazer crescer a equipa.
Entrando em temas tendência, quais são os maiores desafios e oportunidades dos BPA para as fintechs?
O maior desafio dos Business Process Automations são os custos competitivos. Nós sentimos que isto é relevante, pois praticamente todos os nossos sistemas são feitos internamente, com um custo mais baixo face ao preço que pagaríamos fora. Tem de se ter noção de que os custos são tanto de desenvolvimento como de manutenção dos processos de automação de negócios.
Quanto a oportunidades, destacamos claramente a Inteligência Artificial. É aqui que tudo vai crescer. Vai existir no mercado software a analisar cenários, a tomar decisões, e implementar as mesmas. Já ficamos surpreendidos com o nível de algumas aplicações, como por exemplo, os Armazéns Inteligentes. Desde a arrumação das mercadorias, como a sugestão do que deve ser comprado. Muito em breve, vamos ver o Armazém Inteligente a encomendar ao fornecedor numa comunicação Machine-to-Machine (M2M) e a fazer o pagamento. E nesse passo do pagamento, nós queremos estar presentes.
O mais recente World FinTech Report da Capgemini e da EFMA revelava que as fintechs e os novos players do setor dos serviços financeiros vão obrigar, de certa forma, a banca tradicional a reinventar-se. Concorda com esta ideia? Um banco ‘tradicional’ ainda pode vingar no mercado atual?
Os bancos tradicionais ainda têm uma função diferente das fintechs. Se bem observarmos, são os bancos tradicionais que fazem crédito de longo prazo, seja aos particulares (por exemplo no crédito-habitação a 30 anos), seja às empresas (por exemplo em leasing de equipamentos industriais a 10 anos). Esta função, fundamental para a economia, ainda é feita pela banca tradicional e a sociedade bem precisa dos bancos.
Nas funções mais simples, como as dos pagamentos, as fintechs estão a ganhar terreno, e é natural que continuem a crescer, pois são empresas mais pequenas e, como tal, mais ágeis. E também por serem mais pequenas, têm mais probabilidade de crescimento. A internet é que provocou toda esta mudança. Para implementar meios de pagamento para o comércio eletrónico, hoje é mais simples uma empresa normal ter melhor resposta de uma fintech como a nossa.
Quais as principais vantagens das bigtech e dos novos players do mercado financeiro em relação à banca tradicional?
As Bigtech é que podem ser concorrentes efetivas dos bancos. Se um Google Bank quiser fazer crédito-automóvel ou crédito-habitação aos particulares de qualquer país da OCDE, tem estrutura de capital para isso e tem muito mais informação sobre a pessoa do que um banco tradicional tem.
A Google sabe muito sobre cada um de nós, devido às muitas pesquisas que todos nós fazemos no seu search engine. A Google deve ser das poucas empresas no mundo que recolhe informações praticamente todos os dias sobre os seus utilizadores, que são quase todas as pessoas que usam a internet. E faz isso há anos.
E agora, derivado à PSD2, com a implementação do OpenBanking, será fácil num processo de crédito sermos convidados a dar autorização de consulta de movimentos às contas que temos nos bancos tradicionais, onde por isso nos oferecem uma mais baixa taxa de juro. Por outro lado, aquela informação que é normal pedir à pessoa quando faz um crédito, tipo declaração de IRS ou recibos de vencimento, também o Google Bank pode facilmente pedir. Tudo através de um website, de preferência mobile, pois hoje as pessoas querem fazer tudo no smartphone. E colocar processos de Inteligência Artificial a fazer essa análise de crédito, com respostas muito rápidas. Para a Google, tudo isto é simples e dá milhões!
De que forma é que os bancos tradicionais e as fintechs podem colaborar?
Nós sentimos que temos algumas coisas que os bancos tradicionais não têm. Nascemos no mundo internet. Só pensamos internet. Quando pensamos em fazer algo, pensamos unicamente no meio internet. O banco tradicional pensa primeiro nos seus balcões, na necessária formação aos milhares de funcionários, etc.
Os bancos, e os seus funcionários, normalmente são generalistas. E as fintechs normalmente são especialistas naquele assunto em que trabalham. O cliente final sente isso, distingue, e prefere trabalhar com quem sabe mais.Há conhecimento que existe nas fintechs que não existe nos bancos tradicionais. Caso queiram, os bancos podem aprender com as fintechs. E, naturalmente, as fintechs têm muito a aprender com os bancos.
A criação de Zonas Livres Tecnológicas em Portugal é uma boa notícia para fintechs como vocês? Que oportunidades podem ser criadas para estas empresas com a nova regulação agora existente em Portugal?
As Zonas Livres Tecnológicas são uma boa ideia. Apesar de estarem mais orientadas a zonas de carros autónomos e ao 5G, o conceito é interessante. Já existe em Matosinhos, desde 2019, resultante duma parceria com o CEiiA. O conceito também pode-se aplicar às fintechs, com métodos inovadores, seja na área dos pagamentos, ou noutras áreas como as dos seguros, pois esta vai ter uma grande inovação nos carros autónomos. Também para nós, nos métodos dos pagamentos é oportunidade, pois vão surgir novas necessidades de pagamentos, especialmente no contexto machine-to-machine, que é um dos grandes pilares da inovação nesta área.
De que forma tecnologias como a automação, a realidade aumentada e a inteligência artificial podem criar valor para os serviços financeiros?
A Inteligência Artificial vai desenvolver-se muito. Ao nível de hardware, o foco será na automação e na robótica. Quer um exemplo? As fábricas novas como as da Tesla já são pensadas de raiz para robôs. Se pesquisar no YouTube o vídeo ‘How the Tesla Model S is Made’ é impressionante o nível de robotização. Isto vai alastrar na indústria de todos os tipos de produtos em geral.
A Inteligência Artificial ao nível do software,também vai crescer muito. Ao nível dos serviços financeiros, tudo o que esteja relacionado com processos administrativos de recolha de informação, de decisão de aprovação ou recusa de crédito…em tudo isso a IA vai crescer de forma exponencial.
Que planos têm para os próximos anos? Podemos esperar novas soluções para breve?
Para os próximos anos, esperamos continuar o crescimento, tanto em volume de pagamentos, como nos métodos de pagamento a integrar, como temos feito ao longo destes 15 anos. Quanto a novas soluções, conforme já anunciado anteriormente, também estamos a trabalhar num projeto internacional de fundo, que trará resultados daqui a alguns anos.