No dinâmico cenário do retalho para 2024, as empresas vão, sem novidade, enfrentar desafios significativos sobretudo decorrentes da instabilidade internacional a que assistimos e também fruto da disseminação acelerada da inteligência artificial (IA). Assim, como a fava no bolo-rei determina um líder momentâneo, o “rei” ou “rainha”, as organizações precisam encontrar formas inovadoras de se destacar face à incerteza global e à crescente automação, criando ao mesmo tempo bases para fidelizar clientes igualmente afetados por este cenário.
Mas vamos por partes. A instabilidade internacional, marcada por mudanças políticas, económicas e sociais aceleradas, irá impor desafios na cadeia de abastecimento, comércio e nos departamentos de gestão de risco. As empresas do setor de retalho precisam, mais do que nunca, de ser ágeis, adaptando as suas estratégias às condições da situação europeia e global, aliás, como o fizeram sempre e em particular nos últimos anos. Além disso, as flutuações nas relações comerciais internacionais exigirão também um olhar atento, uma gestão financeira cuidadosa e redobrados esforços para manter competitividade no mercado.
Por outro lado, a disseminação da inteligência artificial também começará a reconfigurar o panorama do retalho. Depois do hype que a Gen AI recebeu, a automação de tarefas operacionais é um imperativo. Otimizar, reduzir ineficiências e transformá-las em eficiências, mas ao mesmo tempo responder aos desafios do mercado de trabalho e à necessidade de adaptação das forças de trabalho às mudanças tecnológicas será determinante. As empresas podem e devem investir em perfis com habilidades digitais, começar profundas requalificações do seu pessoal e, ao mesmo tempo, desenhar estratégias de contacto com o consumidor que incorporem, de forma crescente, a IA.
O desafio será, como sempre, o de encontrar o equilíbrio certo entre a implementação eficaz de tecnologias avançadas e a manutenção de uma abordagem humana nas interações com clientes. A personalização, a experiência do cliente e a inovação constante tornam-se, em 2024, fulcrais para diferenciar as marcas num ambiente onde a concorrência é intensificada pela crescente penetração no mercado de novos players e pela disputa de quotas de mercado num país com parcos recursos financeiros nas mãos da grande maioria dos cidadãos.
Assim, como a fava simboliza um líder temporário, as empresas que conseguirem superar os desafios presentes e posicionar-se para um futuro altamente tecnológico, com forças de trabalho apontadas à satisfação e experiência do cliente, emergirão como líderes no cenário do retalho, impulsionadas pela capacidade de adaptação, inovação e uma compreensão profunda das dinâmicas globais, tecnológicas, humanas e… ambientais.
E é neste último ponto que fecho o texto. A transição para um retalho carbon neutral é hoje não apenas uma demanda ética e ambiental, mas também oferece oportunidades de inovação e vantagem competitiva. Assim, com metas apertadas em termos de descarbonização já no horizonte do próximo ano, as empresas que adotem práticas sustentáveis não apenas reduzirão a sua pegada de carbono, mas também responderão positivamente às expectativas de um público cada vez mais consciente e comprometido com a responsabilidade ambiental.
A integração de práticas sustentáveis em toda a cadeia de valor, desde a produção até à distribuição e à gestão de resíduos, além de um imperativo, tal como a transição tecnológica que temos em curso, poderá ser ponto decisivo para o desenho do retalho do futuro. Investir em tecnologias verdes, fontes de energia renováveis e estratégias logísticas eficientes são, desta forma, passos fundamentais que não podem também ser novamente adiados.