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Uma digitalização que leva a “less” nos pagamentos

Zarph  scaled e

A covid-19 veio acelerar a adoção de sistemas de pagamento digitais e de equipamentos de pagamento self-service que permitem efetuar pagamentos com notas, moedas e todo o tipo de cartões. Quem o diz é a Zarph, empresa nacional especializada em sistemas de pagamento e depósito que desde que a pandemia começou tem registado um aumento na procura pelas suas máquinas de pagamento autónomo que ajudam a manter a distância social entre o operador da loja e o cliente.

As orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) pedem que se privilegiem os pagamentos com cartão, mas atualmente três quartos das transações dos consumidores na Zona Euro ainda são efetuados com numerário. O dinheiro físico continua a ser o meio de pagamento preferencial em muitos países, nomeadamente em Portugal.

 

Na conferência online SmartPayments Congress, Hélder Rosalino, administrador do Banco de Portugal, revelava inclusive que estamos longe de vir a ser uma sociedade cashless, já que “cerca de 60% dos pagamentos em Portugal ainda são feitos em numerário.” Já se olharmos apenas para os pagamentos feitos pelos consumidores nos pontos de venda, esta percentagem aumenta para 70%, referia.

Também por isto, nas últimas semanas, a Zarph tem registado um aumento da procura pelos seus sistemas de pagamento self-service da gama TP-6X4 que permitem efetuar pagamentos com notas, moedas e cartões mantendo ao mesmo tempo a distância entre o cliente e o operador da loja.

 

De acordo com a empresa nacional, “as soluções de pagamento da Zarph foram especialmente desenhadas para garantir a segurança higiénica em estabelecimentos que manuseiam alimentos. No entanto, devido à existência da COVID-19, os nossos equipamentos ganham especial importância em todos os setores, quer privado ou público. Todos os equipamentos da gama TP-6X4 estão preparados para ser integrados com os vários sistemas de faturação disponíveis no mercado”.

Além disso, recentemente a empresa anunciou que os seus equipamentos de pagamento self-service estão aptos para candidatura ao apoio do Governo para micro e pequenas empresas de comércio e restauração na aquisição de material de proteção à pandemia. Desenhados e produzidos em Portugal, estes sistemas de pagamento da Zarph reduzem a necessidade de interação entre o operador da loja e os clientes durante o pagamento e eliminam a necessidade de manuseamento de numerário, que pode significar a contínua propagação da COVID-19.

 

António Oliveira, CEO da Zarph, explicou à DISTRIBUIÇÃO HOJE que atualmente a empresa tem já cerca de 200 equipamentos instalados de Norte a Sul do País, nomeadamente na hotelaria, na restauração, no comércio e em serviços como cabeleireiros, um número que deverá aumentar nos próximos meses.

Com a COVID-19 “sentimos um aumento na procura e temos vários pedidos em andamento”, revela António Oliveira.

 

“Já instalámos mais de 200 equipamentos no mercado, numa altura em que não existiam apoios (…) O feedback geral dos nossos clientes é que a o equipamento paga-se a si mesmo. Uma vez eliminados erros de caixa, pequenos furtos e eliminação de tarefas de contagem e controlo, ao fim de poucos meses as empresas poupam o suficiente para justificar o investimento. O distanciamento social é hoje muito importante, mas finda esta fase, o cliente usufruirá de muitos outros benefícios”, acrescenta.

Entre esses benefícios, revela ainda o CEO da Zarph, estão o facto de “a solução permitir centralizar a informação financeira, com monitorização remota e em tempo real. Para o caso de empresas com vários pontos de faturação, a solução Zarph de centralização – Zarph Global Support – fornece a integração de todas as unidades dando uma imagem global da tesouraria da empresa. Esta é outra grande motivação de compra: não só permite aos proprietários e gestores manter o controlo remoto do seu negócio, como promove a segurança dos seus colaboradores, já que o dinheiro é mantido num cofre. Após o pagamento os operadores não têm qualquer acesso ao dinheiro. Além destas vantagens, a nossa solução elimina uma série de tarefas manuais que estão sujeitas a tempo e erros. Contagens de caixa, fundos de maneio e outras tarefas de gestão são completamente mitigadas.”

Futuro será contactless, mas não cashless

A pandemia de COVID-19 veio certamente acelerar a adoção destas e outras soluções que minimizem os contactos durante os pagamentos, contudo, António Oliveira não acredita num futuro sem dinheiro físico.

“O futuro é contactless, não cashless. Existem várias soluções no mercado que já permitem operações de pagamento sem contacto e a TP-6X4 é uma delas. No entanto, o dinheiro ainda desempenha um papel importante nos meios de pagamento e está longe de terminar o seu reinado. Os números do BCE mostram-nos que a utilização do numerário está estável e sem tendência para diminuir. Acredito que os meios de pagamento vão ser cada vez mais sofisticados e a Zarph faz parte dessa inovação. Queremos ser um parceiro que garante disrupção e inovação aos seus clientes. Por isso, os nossos equipamentos permitem pagamento com recurso a numerário e pagamento automático, com cartões ou dispositivos móveis. O dinheiro está para ficar. Ainda é um meio de pagamento largamente utilizado, especialmente em operações de baixo valor”, defende António Oliveira.

O CEO da Zarph diz ainda que apesar da desconfiança relativamente a algumas inovações que vão surgindo no mercado dos meios de pagamento, sobretudo por parte das populações mais idosas, a COVID-19 veio mostrar que é possível acelerar a digitalização das empresas.

“Ainda existe alguma desconfiança, mas existem muitos produtos e serviços que ajudam as populações mais velhas a sentirem-se seguras. É importante relembrar que os cartões de débito também tiveram um período de adoção e atualmente são amplamente aceites mesmo por populações mais idosas. Outros meios mais recentes irão percorrer o mesmo caminho (…) Temos vindo a presenciar uma verdadeira transformação digital por força do isolamento social. Desde a digitalização ao e-commerce, vemos as empresas a correrem atrás de anos de resistência à mudança. Uma vez dado este passo, nenhuma empresa vai querer voltar atrás. A inovação traz inúmeras vantagens, mas o medo da mudança por vezes é maior. Desta vez a mudança foi imposta por circunstâncias extraordinárias. Este tipo de soluções fazem todo o sentido permanecer e a Zarph vai continuar a ser um agente motivador dessa mudança”, conclui.

Alguma vez seremos uma sociedade cashless?

Foi também para debater as tendências da banca, dos meios de pagamento e da cibersegurança que no passado dia 2 de junho a IFE by Abilways – empresa que edita a DISTRIBUIÇÃO HOJE – reuniu cerca de 200 pessoas para um SmartPayments Congress totalmente digital.

“Somos, ou não, uma sociedade cashless?” foi a questão que encetou um debate que reuniu Hélder Rosalino, administrador do Banco de Portugal, Paula Antunes da Costa, country manager da Visa Portugal, Paulo Raposo, country manager da Mastercard Portugal, Sérgio Santos, diretor central de banca digital do Banco BPI, e André Ribeiro de Faria, chief marketing and consumer officer do Grupo Jerónimo Martins.

Para Hélder Rosalino, administrador do Banco de Portugal, provavelmente nunca seremos uma sociedade cashless: “não somos ainda uma verdadeira sociedade cashless e não sei se alguma vez vamos ser.”

O administrador do Banco de Portugal lembrou a importância do numerário, que continua a ser o método de pagamento preferencial para a maioria dos portugueses, mas diz que é inegável o crescimento que os outros meios de pagamento têm registado nos últimos anos. “Os outros meios de pagamento cresceram e têm crescido de forma mais rápida do que o numerário. As transferências a crédito, os débitos diretos, os cartões de pagamento, as transferências imediatas, etc., têm crescido bastante. Há uma cada vez maior utilização de meios de pagamento eletrónicos e a oferta dos vários players do mercado tem vindo a criar soluções. Portugal neste aspeto tem sido inovador.”

Já Sérgio Santos, diretor central de banca digital do Banco BPI, lembrou que o que está a sofrer a maior transformação é a relação das pessoas com os bancos. Questionado sobre as implicações para o setor da banca se passarmos a ter uma sociedade cashless, Sérgio Santos explicou que este é “um movimento que já começou e que será gradual”.

De acordo com Sérgio Santos, as apps são hoje o ponto de entrada nas relações das pessoas com o seu banco, mas também a própria carteira dos clientes. Para o diretor central de banca digital do Banco BPI, o foco da banca deve estar, cada vez mais, na experiência proporcionada aos clientes.

Para Paula Antunes da Costa, country manager da Visa Portugal, a digitalização dos serviços financeiros é um processo que está a acontecer há alguns anos, com tendência para aceleração nos próximos quatro anos: “A velocidade a que nós sentimos esta transformação vai ser cada vez maior e isto resulta de dois fatores. Um é a combinação entre a evolução tecnológica e a mudança de hábitos dos consumidores. Esta junção vai potenciar a aceleração de novas formas de pagamento e a transformação dos serviços financeiros. No caso concreto dos cartões de pagamento, o que está em causa não é tanto a substituição do cartão, mas sim uma evolução do suporte de pagamento. O plástico físico que conhecemos poderá ser substituído em alguns casos, mas acreditamos que o cartão continuará a existir. O que vamos começar a ver é novos suportes de pagamento que já designamos de credenciais de pagamento. Vamos ver as credenciais de pagamento a expandir-se. Falamos aqui dos dispositivos ligados à internet, como os smartphones e os smartwatches. Vamos assistir a uma explosão dos dispositivos conectados e das credenciais de pagamento.”

Já Paulo Raposo, country manager da MasterCard Portugal, acredita que o cashless é “uma tendência de futuro”, apesar de ainda vivermos numa sociedade que utiliza muito numerário. “Sentimos que há um conjunto de evidências que nos levam a crer que tendencialmente caminhamos para uma sociedade cashless. A tecnologia existe e vai sofrer uma aceleração, nomeadamente com o cloud computing e o 5G, que vem transformar toda a interação social com a tecnologia e, obviamente, os pagamentos serão impactados. Por outro lado, o tema da segurança. É fundamental continuarmos a dar confiança aos operadores e aos cidadãos. A questão da segurança é uma na qual onde não se podem fazer concessões (…) A usabilidade e a experiência do consumidor é um tema fundamental (…) Hoje quando falamos de wallets falamos da usabilidade e da possibilidade do cliente poder escolher a relação que tem”, lembrou.

Foi precisamente para falar da experiência do consumidor e da importância da tecnologia na disrupção do setor do comércio que André Ribeiro de Faria, chief marketing and consumer officer do Grupo Jerónimo Martins, se juntou à conversa.

Em outubro de 2019, a empresa inaugurou a loja Pingo Doce&Go Nova, no Campus da Nova SBE, em Carcavelos. Uma unidade onde basta ter um smartphone com a aplicação da loja e um método de pagamento associado para poder comprar e sair, sem ter de passar por nenhuma caixa ou fila.

“Somos um negócio de escala e aquilo que queremos é que haja várias compras e o que aconteceu foi que os utilizadores viam a loja como uma espécie de dispensa. Em vez de comprarem um cesto gigantesco, iam a uma determinada hora do dia e compravam uma coisa, depois voltavam e comparavam outra. Isto diz muito acerca de conseguir tornar a experiência e a usabilidade fantástica e seamless ao ponto de as pessoas voltarem várias vezes. Mas isto leva-nos para outro problema. É que como disse somos um negócio de escala. Será possível escalar isto? Eu acho que aqui há um ponto fundamental: as comissões dos cartões de pagamento not present chegam a ser cinco vezes superiores às comissões de um pagamento com o cartão presente. Acho que isto é uma enorme barreira para a adoção deste tipo de pagamentos. É necessário um esforço dos comerciantes, que conseguem trazer novas experiências aos consumidores, do poder público e do setor financeiro para balancear o fator volume com o fator taxa. É esta a nova fronteira”, defendeu André Ribeiro de Faria.

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